[QUADRINHOS] Wytches – uma graphic novel sobre monstros reais (Resenha)

[QUADRINHOS] Wytches – uma graphic novel sobre monstros reais (Resenha)

Wytches é a prova concreta de que quando damos chance para autores/autoras desconhecidos(a) podemos nos surpreender positivamente. Talvez essa tenha sido a aposta da DarkSide quando trouxe para o Brasil a obra do “anônimo” Scott Snyder. 

A graphic novel, lançada nesse ano pela editora Darkside Books, possui capa dura e ilustrações perfeitas e harmônicas com o enredo, além de páginas coloridas de forma magistralmente aterrorizante, mas não é isso que mais impressiona: Wytches consegue ser uma obra inovadora de terror!

Snyder nos apresenta uma historia não convencional sobre bruxas. Não estamos falando das bruxas da Santa Inquisição ou das que simplesmente fizeram um pacto com o Diabo. As wytches conseguem refletir um terror genuíno, pois nelas vemos o reflexo da face apodrecida e decadente da própria humanidade.

Wytches

[ESSA RESENHA CONTÉM SPOILERS LEVES DA OBRA, QUE NÃO ESTRAGAM O PRAZER DA LEITURA]

VEJA AQUI A RESENHA SEM SPOILER

A história nos é introduzida através da mudança da família Rooks de cidade, a fim de se afastarem de um trauma vivido por sua filha Sailor. O clichê de uma família fofa que se apoia em momentos difíceis e que se muda para um novo recomeço é apenas um pano de fundo para o desenvolvimento da trama.

O trauma vivido por Sailor, que para todos se deu por conta do bullying sofrido e do misterioso desaparecimento da valentona que a importunava, estava permeado de algo muito mais aterrorizante e ancestral que a perseguia em seus constantes pesadelos, mas que até então não se mostrava nítido. 
A única certeza que Sailor tinha era que chamavam por ela, mas quem chamava e por quê, não sabia.

Wytches

Quando Sailor desaparece misteriosamente, seu pai, um roteirista e ilustrador bem sucedido, começa a sua jornada para salvá-la, mas no meio do caminho descobre que não pode confiar em ninguém e que o desaparecimento de sua filha não é apenas mais um caso de “crianças desaparecidas”.

Nesta parte da historia é interessante notar o quanto a ficção se mistura com a realidade, pois o autor parece ter transferido para o personagem do Charlie Rooks a sua própria personalidade paternal. Além disso, a própria criação do que viriam a ser as bruxas nasce de uma fantasia criada por Scott em sua infância, motivo pelo qual nas cartas editoriais que escreve (e que fazem parte da graphic novel) ele mesmo a classifica como “uma obra muito pessoal”.

Voltando para Wytches, é basicamente neste momento da trama, após o desaparecimento de Sailor e do início da jornada de Charlie, que começamos a entender (será?) um pouco sobre os seres ancestrais que, literalmente, devoram pessoas.

Wytches
No entanto, diferentemente das histórias de bruxas que lemos, não é pelo mistério, pela sedução ou por um pacto diabólico que as pessoas adentram à floresta para nunca mais voltar. O que as leva às bruxas são as Juras. Sim, juras.

As bruxas de Snyder são milenares, sábias e… famintas. Elas possuem o poder de conceder qualquer desejo, poder este que estão dispostas a compartilhar com os humanos em troca do que mais desejam: comida, mas não qualquer comida. Parece que o tempero, o que dá sabor especial à sua refeição é o egoísmo humano, visto que por si só elas não saem à caça de alimento e, pelo que lemos, andam muito bem alimentadas, fazendo com que nos questionemos quem, de fato, é o monstro da história.

Aos poucos, Charlie vai desvendando o mistério por traz do desaparecimento de sua filha, mas apenas uma coisa não se encaixa: se as bruxas só vão atrás de suas juras, quem poderia ter jurado Sailor e por quê?

A cada virar de página, mais perguntas surgem e o ar de mistério e terror nos envolve completamente durante a leitura. No fim, entendemos que “Jura é jura”, não tem como escapar, ou tem?

Wytches

Curiosidades:

Scott Snyder tem escrito roteiro de histórias em quadrinhos como WytchesA.D. After DeathAmerican VampireThe WakeSeveredBatman, Superman Unchained e Swamp Thing, entre muitas outras. É também o autor da coletânea de contos Voodoo Heart e um ávido e nada irônico fã de Elvis Presley.

Jock desenha histórias em quadrinhos, entre elas, Wytches, BatmanThe Losers2000AD, e cria artes conceituais para filmes, entre eles, Ex_Machina: Instinto Artificial (2015), Dreed (2012) e Star Wars — Os Últimos Jedi (2017). (fonte)

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Wytches

Scott Snyder (Autor), Jock (Ilustrador), Érico Assis (Tradutor)

DarkSideBooks

192 páginas; capa dura

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Escrito por:

51 Textos

Feminista e membra da União de Mulheres de São Paulo, onde é coordenadora adjunta do Curso de Promotoras Legais Populares, projeto voltado para a educação popular e feminista em direitos. É viciada em Lego, apaixonada por ficção científica/terror/horror, apocalipse zumbi e possui sérios problemas em procrastinar vendo gif’s e não lembrar o nome das pessoas. No mundo real é advogada.
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