“Star Wars Day” e as besteiras que as mulheres não aguentam mais ouvir

“Star Wars Day” e as besteiras que as mulheres não aguentam mais ouvir

Se você já assistiu algum filme da saga cinematográfica Star Wars deve se lembrar da icônica frase “Que a força esteja com você.”. A referência é querida pelos fãs e foi pensada como forma de reforçar o caráter religioso da força. Por isso, sempre que alguém parte para a batalha, a frase é lançada. No entanto, em seu idioma original, “May the force be with you” ganhou uma nova interpretação. Em inglês “May the force” se assemelha a expressão “May the Forth” (quatro de maio). A coincidência linguística foi percebida pelos fãs da série e, com o tempo, a data passou a ser usada para celebrar o universo de Star Wars.

Sou fã de Star Wars e adoro o quatro de maio. Costuma ser um dia feliz e ideal para usar roupas, acessórios temáticos e maratonar os filmes da saga. Porém, em algumas situações, o lado sombrio da força se manifesta e o “May the fourth be with you” perde um pouco o brilho.

Episódio I

“E por acaso você sabe quem ele é?”

Star Wars
Sério?

Há pouco tempo, em uma galáxia não muito distante… Lá estava eu, aguardando em uma fila para comprar ingressos para o cinema. Pretendia assistir “Guerra Infinita”. Minha tradição para comemorar o Star Wars Day inclui o uso de artigos temáticos nos dias que antecedem o quatro de maio, por isso eu estava com uma bela mochila do personagem Boba Fett.

Atrás de mim estava um rapaz. Impressionado com o design da mochila, decidiu puxar conversa. “Essa bolsa é do Boba Fett, né? Em que loja você comprou?”. Se soubesse o rumo que a conversa tomaria, não teria dado trela. Dei informações sobre o vendedor, a qualidade do produto e o valor pago. Quando comecei a simpatizar com o sujeito, ele sorri e pergunta: “E por acaso você sabe quem ele é?”

Meu sangue ferveu e tive vontade de mandá-lo para as profundezas do inferno. Seria estranho se eu estivesse usando uma mochila de personagem sem saber algo sobre ele. No entanto, como manda a boa educação, respirei fundo e respondi: “Sim, sei.”. O sorriso dele aumentou. Mas não se enganem, o cara não estava tentando ser charmoso. Na hora eu soube que seria interrogada e não demorou para que ele me bombardeasse com perguntas sobre o Boba Fett.

“Quem o interpretou no cinema?”, “Qual o papel dele na saga?”, “Onde ele morreu?” e “Quem o matou?”

Star Wars

O problema não está no interrogatório em si, mas sim na intenção que está por trás de cada pergunta. Infelizmente, alguns homens acreditam que as mulheres não gostam de Star Wars. “Não de verdade!” Assistem os filmes, leem os livros e usam roupas e acessórios simplesmente por acharem bonitos. “É coisa da moda!”, alguns pensam.

Os testes servem justamente para qualificar se a mulher é fã ou não. Tolo? Sim, bastante! Especialmente se levarmos em consideração que um cara não faz isso com outro. Quer tirar a prova? Vá em uma loja de quadrinhos e circule um pouco. Os caras conversam entre si como entendidos do assunto. Não importa se eles se conheçam ou não, mas se uma mulher entrar (ou se você for uma) será vista com desconfiança e não demorará até que ela também tenham que provar seu valor enquanto fã. Lamentável!

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Episódio II

“É para o seu namorado?”

Há bastante tempo, em uma galáxia um pouco mais distante… O primeiro produto geek ninguém esquece! E eu gostaria de lembrar do meu por um motivo melhor.

A vitrine daquela loja era belíssima. Dava vontade de comprar tudo. Alguns amigos tinham feito muitos elogios sobre os produtos e o atendimento. Justamente por isso, acreditei que não teria problema. Depois de dar algumas voltas no quiosque, decidi o que comprar. Uma camiseta preta com os dizeres “Star Wars”. Sim, era para usar no Star Wars Day. “É uma bela escolha!” – comentou o vendedor. Tudo teria corrido bem se ele não tivesse completado a frase com a seguinte pergunta: “É para o seu namorado?”.

Fiquei encarando o cara, tentando entender o que o havia levado a pensar que eu tinha namorado e que a camiseta era um presente para ele. Devo ter assustado o sujeito, pois ele se explicou sem que eu tivesse que reclamar. “Não é comum que mulheres gostem de Star Wars.”. “Ok!” – apanhei minha sacola e fui embora. Nunca mais tive vontade de comprar naquela loja.

Star Wars

Naquela época, Star Wars não era popular como agora e as pessoas não usavam camisetas homenageando a saga. Entretanto, não era algo se relacionasse ao gênero. Simplesmente não era comum. Então, por que me incomodei com uma pergunta que era, aparentemente, bobinha? Algumas falas, por mais inocentes que possam parecer, dão a impressão de que as mulheres não podem gostar de certos nichos da cultura pop. Star Wars, por exemplo, parece não ter sido feito para elas! E se alguma mulher comprar um produto, com certeza está pensando no namorado. Infelizmente é o que muita gente acredita.

O que mais me entristece é saber que Star Wars tem personagens femininas excelentes que passam lições valiosas sobre determinação, força, coragem e honestidade, mas que são pouco aproveitas por parte do público masculino que insiste em menosprezar as mulheres do mundo real. Continuarei amando a saga e comemorando o May the fourth be with you. E espero estar viva para ver a vitória da Rebelião: o dia em que as mulheres poderão celebrar o Star Wars Day sem ter que provar seu valor enquanto fãs por conta de questões de gênero.

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Nerd, pedagoga, escritora, leitora, gamer, integrante da casa de Lufa-lufa, amante de ficção científica (Star Trek, Star Wars e Doctor Who) e literatura fantástica. Deseja ardentemente que o outro lado da vida seja uma grande Biblioteca.
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