Você Nunca Realmente Esteve Aqui: Violência e pedofilia institucionalizada

Você Nunca Realmente Esteve Aqui: Violência e pedofilia institucionalizada

Depois de 6 anos de hiato, Lynne Ramsay, a diretora de “Precisamos Falar sobre Kevin”, volta às telas dirigindo uma produção que sacia toda a nossa expectativa em seu retorno – levando inclusive o prêmio de Melhor Roteiro no Festival de Cannes 2017Você Nunca Realmente Esteve Aqui (no original: You Were Never Really Here) narra a história de Joe (Joaquin Phoenix), um veterano de guerra e ex agente do FBI, que ganha a vida como assassino de aluguel, recuperando mulheres da escravidão sexual. 

Nos minutos iniciais nos deparamos com a rotina de Joe, que varia entre trabalhar e cuidar da sua mãe (Judith Roberts). Entre suas tarefas, vemos suas “brincadeiras masoquistas”, como colocar facas na boca, ou soltá-las mirando em seus pés e tirando-os o mais tardar possível. 

O clímax de Você Nunca Realmente Esteve Aqui se dá quando ele é contratado para resgatar Nina (Ekaterina Samsonov) – filha de um senador. Munido basicamente por determinação e um martelo, ele acaba se envolvendo em uma teia de intrigas e conspirações políticas, quando após encontrar a garota, ela é levada por dois policiais corruptos. A trama nos traz um lado oculto sobre abuso e escravidão sexual: quando esses casos são cometidos por membros de alto escalão em postos que deveriam ter como função a prevenção desses acontecimentos, e não a sua execução.

Temos aqui um dos melhores trabalhos (ou o melhor) de Lynne Ramsay e Joaquin Phoenix. Joe foge dos “padrões de assassino de aluguel”. Seu aspecto físico reflete por completo seu estado psicológico: um homem depressivo, traumatizado, com tendências suicidas, e que vê em seu trabalho o único motivo para manter-se vivo. Flashbacks são constantemente “jogados” a espectadora, refletindo toda a confusão na cabeça do protagonista e justificando o título do filme (você nunca está realmente aqui).

Você Nunca Realmente Esteve Aqui

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“Violência” é uma das palavras-chave de Você Nunca Realmente Esteve Aqui e funciona tanto como potencializador da temática, quanto uma espécie de consolo pelas impunidades apresentadas. Lynne nos comprova mais uma vez que “direção feminina” não significa necessariamente uma direção sutil e delicada. Com frequência temos desvios de foco que obrigam nossas mentes a imaginar toda a ferocidade escondida, e quando as cenas violentas realmente são expostas, há um contraste sobre o que é visto e o que é ouvido, como um alívio à carnificina.

Citado como “Taxi Driver do século XXI” e com cenas que nos lembram “O Profissional“, “Violência Gratuita“, “Miss Violence” e “John Wick”‘, acabamos concluindo que, na verdade, Você Nunca Realmente Esteve Aqui é uma produção singular e deve ser tratada como tal, recebendo devida atenção e parabenização. Visceral, intenso e sanguinário são algumas palavras que podem descrevê-lo, mas que mesmo assim não fazem jus à sensação de assisti-lo.

O filme estreia dia 09 de agosto nos cinemas. Confira o trailer:

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“O senhor não imagina bem que eterna variação de gênio é aquela moça. Há dias em que se levanta meiga e alegre, outros em que toda ela é irritação e melancolia.” (Ressurreição, Machado de Assis). 20 anos, estudante de Engenharia e que prefere passar o dia vendo filmes do que com a maioria das pessoas.
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