Anne With An E – 2ª temporada: sororidade e empatia como forma de vida

Anne With An E – 2ª temporada: sororidade e empatia como forma de vida

No último dia 06 de julho chegou no catálogo da Netflix a 2ª temporada da série canadense Anne With An E. Produzida pela produtora canadense CBC Television e pela Netflix, a série conta à história de uma menina órfã, chamada Anne (AmyBeth McNulty). Ela acaba sendo adotada por um casal de irmãos, que inicialmente buscava adotar um menino, mas se apaixonam pela pequena menina tagarela. Com dez episódios, o novo ano de Anne With An E se aprofunda nos temas levantados na primeira temporada e introduz discussões novas e pertinentes como racismoorientação sexual de forma sincera e profunda.

Ano novo para Anne with an E

Essa segunda temporada se afasta um pouco da obra original e introduz três novos personagens que ao longo de 10 episódios vão tendo suas personalidades exploradas, cada um de uma forma. A série começa de onde a primeira temporada parou. Os novos inquilinos de Green Gables já estão bem familiarizados com a rotina da fazenda e se preparam para o dia do grande golpe. O primeiro episódio teve um desenvolvimento um pouco maçante. Perdeu muito tempo em situar o público na rotina de Green Gables com os novos inquilinos. Mas um ponto positivo desse primeiro episódio foi a introdução da subtrama de Gilbert Blythe (Lucas Jade Zumann) e de seu amigo Sebastian (Abuzeid), um jovem homem negro, do país Trinidad e Tobago.

A trama dos novos inquilinos dura até o 3° episódio. Com uma pegada de aventura, a história conseguiu envolver a cidade toda e debater um pouco sobre os desejos reprimidos de Marilla, diante de uma sociedade que não vê com bons olhos os desejos sexuais de uma mulher mais velha. A partir do 4° episódio, a série volta ao seu ritmo normal e destaca a relação de amizade das meninas com um novo garoto, que está passando por um momento de descoberta da sua orientação sexual.

Por último, e não menos importante, uma personagem muito querida das leitoras da obra original aparece de uma forma fulminante. Nos últimos episódios dessa 2° temporada conhecemos a nova professora da escola, uma mulher a frente do seu tempo que já chega em Avalon apresentando uma nova forma de pedagogia, porém, ela acaba enfrentado o conservadorismo da cidade.

Anne With An E
Dalmar Abuzeid em “Anne With an E”

Uma adaptação com qualidades

As questões técnicas de seguem a mesma qualidade da primeira temporada, com uma ressalva que a ambientação e a cenografia das cenas que se passam em Trinidad e Tobago deixam a desejar. De resto, o cuidado com o cenário e figurino, a paleta de cores que acentua o ar romântico e bucólico da narrativa, e os enquadramentos que privilegiam a captação dos sentimentos das personagens seguem o mesmo nível estabelecido da primeira temporada.

Anne With An E apresenta episódios que mesclam uma narrativa nova, além de referências à obra original. Uma cena famosa do primeiro livro de “Anne de Green Gables” foi adaptada e conseguiu levantar uma boa discussão sobre padrão de beleza. Na cena em questão, Anne fica desesperada porque se acha feia. Numa tentativa de “parecer normal”, ela ganha um frasco de tinta de cabelo de um vendedor que tinha feito amizade anteriormente, porém, a tinta deixa inesperadamente o seu cabelo verde. Marilla, numa forma de consertar o estrago, corta todo o cabelo de Anne, que acaba virando motivo de piada na escola e na rua, sendo confundida com um garoto.

Anne With An E

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Sororidade como forma de criar empatia

Nessa 2° temporada é visível que um roteiro escrito apenas por mulheres e sob o comando de uma mulher como Moira Walley-Beckett, faz uma grande diferença na forma de interação entre as personagens. A amizade entre as meninas – não só entre Diana e Anne, mas entre todas as meninas da escola – fortaleceu a narrativa. Isso ajuda a reforçar o protagonismo feminino da série e o questionamento sobre o papel da mulher naquela sociedade. O episódio 4°, em especial, é marcante nesse sentido, porque o foco dele é a relação de Diana com a mãe que, ansiosa por proporcionar um futuro melhor para as filhas, acaba passando por cima da infância das meninas e impondo regras de etiquetas e bons costumes – que só são ensinadas às mulheres.

Em Anne With An E, o desconforto em relação ao corpo, padrão de beleza e orientação sexual é tratado de forma sensível e honesta. A forma desajeitada que Anne aceita a diversidade, sem questionamento, pode causar estranheza, mas é digna de aplausos. A trama de Gilbert Blythe, que tinha tudo para cair em algo no estilo “As aventuras de Tom Sawyer”, no final foi um ponto positivo da temporada. A série não se eximiu de discutir o racismo como um produto de uma estrutura de dominação.

Anne with an E

Com uma terceira temporada ainda não confirmada, a 2° temporada de Anne With An E conseguiu expandir o universo da obra original e introduziu novos personagens e temas atuais. Com um começo arrastado, a série ganha ritmo a partir do 3° episódio e traz um foco maior no amadurecimento dos personagens. A 2° temporada termina abrindo espaço e deixando muitas oportunidades de histórias no ar. Para quem quiser conferir o material original, os três primeiros volumes da obra, da escritora canadense Lucy Maud Montgomery, foram traduzidos pela editora Pedra Azul e estão disponíveis nas livrarias e lojas onlines.

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Graduada em Ciências Sociais. Cineasta amadora. Viciada em livros, séries e K-dramas. Mediadora do Leia Mulheres de Niterói (RJ).
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