A saga da Fênix Negra é uma das mais adoradas pelos fãs dos X-Men, e já foi pessimamente retratada no terceiro filme da primeira trilogia: “X-Men O Confronto Final”. Agora, pelo menos, Jean Grey é a protagonista de seu próprio filme. Isso não quer dizer que devamos ter muitas esperanças, afinal essa franquia tem uma forte tradição de repetir as mesmas fórmulas em todos os episódios lançados. Pelo trailer de “X-Men: Fênix Negra“, poderíamos temer que mais uma vez a infeliz narrativa sobre as mulheres mutantes iria se repetir, já que elas sempre foram retratadas como muito incompetentes para lidar com poder demais, tendo que ser contidas pelos homens dos filmes.
O desenvolvimento da trama de “X-Men: Fênix Negra”
A trama de “X-Men: Fênix Negra” começa com Jean Grey (Sophie Turner) criança, causando um terrível acidente com seu enorme poder, o qual ainda não consegue controlar muito bem. Ao ser encontrada pelo professor Xavier (James McAvoy), passa a viver sob sua tutela na escola dos mutantes. Há um corte temporal e agora estamos em 1992. Xavier conseguiu construir uma boa reputação para seu time dos x-men, ajudando o governo dos Estados Unidos a conter calamidades. Dessa vez, eles são chamados para um problema numa missão espacial. Um amontoado desconhecido de energia está no caminho de uma nave, e os x-men conseguem impedi-la de ferir os astronautas. A energia, entretanto, acaba se apoderando do corpo de Jean.
Problemas de estrutura
Esse primeiro ato de “X-Men: Fênix Negra” entrete bastante, com uma boa cena de ação. É uma pena que o segundo ato seja uma enrolação sem fim. Vemos Jean perder o controle novamente, como aconteceu em diversos dos outros filmes dos X-Men; vemos o professor Xavier ser contestado mais fortemente por sua conduta anti-ética (só que dessa vez com péssimos diálogos); e vemos até a inclusão de Magneto (Michael Fassbender) sem necessidade alguma neste filme, apenas para manter os personagens conhecidos do público, o que causa um desperdício enorme do personagem.
Melhoria na representação de mulheres
Ao menos em “Fênix Negra” há um esforço de atualizar minimamente as mensagens na representação feminina. A vilã finalmente é mulher, interpretada por Jessica Chastain, embora a personagem seja completamente robótica e oca. Há mais diálogos entre as mulheres, fazendo com que ele passe ao menos no Teste de Bechdel, algo que vários outros filmes da franquia nem sequer conseguem. Há também o reconhecimento de que emoções são muito importantes na tomada de decisão dos humanos (ou no caso, mutantes), quebrando a tradição de que, estando associadas à feminilidade, eram as emoções que faziam das mulheres dos x-men incompetentes para lidar com seus poderes.
Contudo, essa poderia ser a grande investigação do arco de Jean Grey, na sua aprendizagem de conectar sua força a seus mais profundos sentimentos, e deles retirar sabedoria e claridade. É o que o filme tenta fazer, na teoria, mas é prejudicado por um roteiro ruim, que não confere profundidade a nenhum dos personagens, tampouco à protagonista. Os poucos pontos altos de “X-Men: Fênix Negra” são apenas algumas migalhas compostas por frases feitas.
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Problemas que ainda permanecem na representação
Existem, entretanto, alguns deslizes graves. Ao mesmo tempo que tentam jogar alguns biscoitos para nós, feministas, como Mística (Jennifer Lawrence) sugerindo que o nome do grupo mude para “X-Women”, porque as mulheres é que vivem salvando os homens, o filme nos apresenta duas mulheres sendo “colocadas na geladeira“. Para quem não sabe, este termo criado pela autora Gail Simone se refere ao tropo, muito presente nos quadrinhos de super-heróis e filmes em geral, que usa a morte de mulheres para motivar alguma ação dos personagens homens.
Por mais que tais mortes possam até estar nos materiais originais (uma delas acreditamos que está, mas a outra foi inventada especificamente para este filme), está na hora de tentar pelo menos ressignificar esses eventos. Tornar as mortes um evento triste, de luto, e não o ponta pé para que certos homens tomem decisão x ou y. Poderiam fazer desses falecimentos um evento sobre as próprias mulheres que morreram, e não sobre os caras que foram afetados por isso. Não adianta jogar migalhas de melhorias na representação e continuar trazendo tropos tão velhos e prejudiciais como os da mulher na geladeira.
Outro ponto ruim no roteiro de “X-Men: Fênix Negra” é a falta de humor. Os detalhes cômicos costumavam ser grande parte do apelo dos filmes dos X-Men nas duas trilogias, e o que contrabalançava o absurdo das tramas. Ao se levar a sério demais, o enredo de Fênix Negra não consegue se sustentar, pois é bastante ridículo e executado com pouca maestria, o que faz com que fique difícil de comprar toda a história.
Os atores continuam carismáticos, e é notável que Sophie Turner se esforça bastante no papel de Jean Grey, embora nem tenha muito material com que trabalhar, dado o roteiro fraco. E um aspecto técnico que surpreende positivamente é a trilha sonora, composta por Hans Zimmer, que estabelece um clima adequado e imersivo a cada cena.
“Fênix Negra” está longe de ser o pior filme dos X-Men (cujo título pertence a “Wolverine Origins” e “Apocalipse”), portanto é inexplicável a baixa receptividade da crítica especializada. Isso é preocupante visto que este é o primeiro filme da franquia a trazer uma protagonista mulher, e qualquer coisa serve como desculpa para que os estúdios interrompam tais esforços. O personagem de Wolverine, por exemplo, teve o luxo de poder lançar dois filmes solo muito ruins, para somente no terceiro ser bem avaliado. Vamos ver se Jean Grey terá o mesmo privilégio no futuro.