Mulheres nos Quadrinhos: Adriana Melo

Mulheres nos Quadrinhos: Adriana Melo

Primeira mulher a desenhar o Justiceiro e o Homem-Aranha na história da Marvel, capista de “Aves de Rapina” e, recentemente, vencedora do prêmio Eisner com a coletânea “Puerto Rico Strong”, Adriana Melo consolida um sonho de infância ao desenhar seus personagens favoritos para grandes editoras de quadrinhos.

Desde pequena sempre fui apaixonada por quadrinhos, primeiro Turma da Mônica, Disney, um quadrinho mais infantil de forma geral. Já na adolescência, conheci super-heróis e me apaixonei, passei a desenhar e estudar anatomia, copiar desenhistas que eu amava, mas tudo em casa mesmo, em meu tempo livre. Depois de ler uma entrevista do Roger Cruz, onde ele falava da profissão e dava dicas de como ingressar, vi que era possível trabalhar com isso e corri atrás!

– Adriana Melo

Adriana Melo
Adriana Melo e uma de suas criações artísticas, a segunda edição de “Homem-Borracha” com roteiro de Gail Simone (Foto: @adrianamel0)

A desenhista, colorista e ilustradora, de fato, não perdeu tempo. Logo aos 18 anos, Adriana ingressou no mercado após uma avaliação de portfólio em uma convenção de quadrinhos em São Paulo. Em seus 25 anos de carreira, Adriana relata que nunca sofreu nenhum tipo de preconceito em relação aos seus colegas de trabalho, mas nos fóruns de quadrinhos a história era outra: comentários machistas partiam direto dos próprios fãs. A artista brinca que aprendeu a se afastar dos fóruns e, consequentemente, ter sossego. “Acho que a maior dificuldade de antes e agora ainda é separar o pessoal e o trabalho, quando seu estúdio é em casa. Sempre tem algo pra resolver, a gente tem que lidar com eletricista, encanador, você é o seu próprio T.I.“.

Mesmo morando no Brasil, Adriana Melo trabalha para o mercado editorial norte-americano, mais especificamente para a DC Comics. Como seu trabalho mora na mesma casa, a ilustradora estabelece um cronograma para entregar em média oito páginas por semana ao QG da DC. “Geralmente uso a parte da manhã para responder e-mails, fazer layouts e trabalhar em partes mais chatas (cenários), deixando a tarde para trabalhar em páginas novas, rostos e splash pages, quando a mão já está ‘aquecida’“. Entre os títulos da DC que contam com o esmero de Adriana estão “Plastic Man”, “Rose & Thorn” e “Birds of Prey” (capista), todos roteiros de Gail Simone; a minissérie “Harley Quinn & Poison Ivy, roteiro de Jody Houser; e “Female Furies”, roteiro de Cecil Castellucci.

Adriana Melo
O trabalho queridinho de Adriana até hoje, as “Female Furies” (Foto: @cecilseaskull)

Quando perguntada sobre algum trabalho que leva com carinho ao longo da carreira, Adriana Melo dispara: “sem dúvida até o momento é “Female Furies”. Pelo contexto da revista, o tema, a delicadeza com que a Cecil Castellucci levou a trama, a apresentação dos personagens… Tudo ali foi especial pra mim. Mal posso esperar pelo nosso próximo projeto!“. As “Fúrias Femininas são uma divisão militar formada somente por mulheres lideradas por Vovó Bondade e que servem diretamente a Darkseid. Essa série de aventura traz reflexões sobre a condição da mulher ao abordar questões relacionadas ao abuso, seja físico ou psicológico. Ao desenhar as cenas, Adriana sente a dor e o peso das emoções das personagens, mostrando que os quadrinhos vão além do maniqueísmo herói x vilão.

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Não é segredo para quem acompanha a carreira de Adriana Melo que seu amor por histórias em quadrinhos de super-heróis, mas em alguns momentos, projetos autorais rondam sua imaginação. “Penso nisso às vezes sim, sempre pensando em algo com temática medieval (risos), mas por enquanto me divirto demais ainda desenhando heroínas que cresci lendo as histórias e praticando desenho ainda na adolescência“. Sem deixar as capas, uniformes e colãs de lado, Adriana se viu vencedora do “Oscar dos quadrinhos”, o Eisner, mas com um tipo de heroísmo diferente.

Esse projeto foi um pouco corrido pra mim, já que trabalhei nele entre revistas; ele foi desenvolvido no finalzinho de dezembro de 2017. Já conhecia o Fabian Nicieza (um dos editores) e ele fez a ponte com Jeff Gomez, roteirista da minha história, que é basicamente um misto de memórias dele e personagens originais, sobre como foi sua primeira vez visitando a família e a ilha, quando ainda era um pré-adolescente“.

Puerto Rico Strong, Adriana Melo
Os traços de Adriana Melo contam outro tipo de heroísmo em “Puerto Rico Strong” (Imagem: reprodução)

Puerto Rico Strong” é uma coletânea de histórias em quadrinhos produzida por mais de 60 artistas, entre roteiristas e ilustradores, de diferentes nacionalidades, com o objetivo de levantar fundos para as vítimas do furação Maria, responsável por devastar a ilha em 2017. “The Dragon of Bayamon” é a narrativa ilustrada por Adriana, onde um menino de 12 anos, filho de porto-riquenhos e morador dos Estados Unidos, passa as férias de verão em Porto Rico. O desenrolar da história se dá quando a criança entra pela primeira vez em uma loja de HQs e encontra sua vocação.

O mais importante, na minha opinião, é trazer lados de Porto Rico que só os locais conheciam, mostrar que a ilha é muito mais do que a devastação vista nos jornais pós-furacões. Tem memórias, histórias curtas baseadas em mitos ou passagens históricas da ilha em vários estilos de desenho e pintura diferentes… É uma forma muito bonita de apresentar Porto Rico para o mundo. Além disso, a arrecadação foi revertida em apoio às vítimas.

Puerto Rico Strong
Antologia vencedora do Eisner reúne mais de 60 artistas em “Puerto Rico Strong” (Imagem: reprodução)

Adriana Melo acredita que o Eisner era que o faltava para o projeto, já que o prêmio joga um holofote nas obras vencedoras. Com isso, ela também espera que uma tradução para o português chegue logo ao Brasil e, apesar de acreditar que a antologia merecia ser coroada, conta que foi surpreendida ao ser informada que levou o “Oscar”: “Uma surpresa gigante! Fico muito feliz também por ver um projeto levado avante com tanto carinho, dedicação; por todos os editores, roteiristas e artistas porto-riquenhos serem premiados“.

Sobre os próximos projetos, ela faz suspense. “Daqui até janeiro continuo ilustrando a minissérie da Harley Quinn & Hera Venenosa, depois disso…(mistério), comenta Adriana, rindo. Ainda para 2019, ela faz parte de mais uma antologia com um tema que ama: super-heróis, mas dessa vez brasileiros. O “Grande Almanaque dos Super-Heróis Brasileiros” já bateu a meta de financiamento via Catarse com mais de um mês de antecedência para o final da campanha. Façam suas apostas sobre qual herói ou heroína Adriana irá ilustrar.

Adriana Melo fará parte de mais uma antologia vitoriosa (Imagem: @ivan_costa)

Edição realizada por Gabriela Prado e revisão por Isabelle Simões.

Escrito por:

Rafaella Rodinistzky é graduada em Comunicação Social (Jornalismo) pela PUC Minas e atualmente cursa Edição na Faculdade de Letras da UFMG. Participou do "Zine XXX", contribuiu com a "Revista Farpa" e foi assistente de produção da "Faísca - Mercado Gráfico". Você tem um momento para ouvir a palavra dos fanzines?
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