Confirmando seu apreço pelos temas sobre desigualdade social, o diretor Bong Joon Ho (“Okja”) entrega em “Parasita” uma das melhores obras do ano, já premiada com a Palma de Ouro no Festival de Cannes.
Este é um filme que funciona como uma experiência, e melhor ainda se a espectadora souber pouco sobre a história antes de assistir (então vamos tentar ser econômicas sobre o enredo).
Duas famílias diametralmente opostas em “Parasita”
A família Kim é pobre, com todos os seus membros desempregados. Já a família Park é rica e privilegiada. Quando a primeira começa a trabalhar para a segunda, os abismos de classe ficam ainda mais evidentes. Evitando o maniqueísmo, “Parasita” não aponta culpados individuais, mas investiga como a estrutura social desigual opera de forma opressiva, independentemente da boa índole de seus membros. Essa índole, inclusive, pode ser corrompida pelas circunstâncias às quais as pessoas estão submetidas.
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É impressionante como a mise-en-scène extremamente habilidosa de Bong Joon Ho faz toda a diferença. Com um diretor menos competente, as coincidências e obviedades do roteiro de “Parasita” saltariam aos olhos. Porém, o passeio entre diferentes gêneros cinematográficos de forma muito eficiente – da comédia dark ao thriller – mantém nosso interesse a cada momento e nos faz comprar tudo que está na tela. A cada nova revelação, permanecemos mergulhadas nesse estranho emaranhado que se torna a relação das duas famílias.
Bong também faz uso de metáforas geográficas, como o nível inferior em que a casa da família Kim se situa – literalmente no porão – e níveis ainda mais profundos onde vários segredos se escondem. Novamente: obviedades que são aplacadas pela qualidade do filme e também por um certo senso de realismo e honestidade dos cenários retratados. A chuva também traz situações completamente diferentes para as duas famílias.
Por fim, recomendamos que seja assistido no cinema, pois o desenho de som do filme completa a experiência de forma que seria difícil de reproduzir em casa. “Parasita” é um filme que deixa uma forte impressão por bastante tempo após ser visto.
O filme estreia nos cinemas dia 7 de novembro, e, no Petra Belas Artes, em São Paulo, a pré-estreia será gratuita e ocorre hoje, 6 de novembro, às 19:30, seguida de debate sobre o filme.