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Diz a Ela Que Me Viu Chorar - crítica
CINEMA

Diz a Ela Que Me Viu Chorar: humanizando os abandonados

por Carol Lucena · 20 de novembro de 2019

“Diz a Ela Que Me Viu Chorar“, canção que é cantada pelos personagens em uma cena, nomeia o documentário dirigido por Maíra Bühler, exibido na Mostra do DOCSP deste ano. A obra traz o retrato de alguns moradores de um hotel social no centro de São Paulo, parte de um programa da prefeitura para redução de danos do vício em drogas. 

Neste documentário, acompanhamos diversas mulheres e homens que habitam aquele espaço, em seus quartos compartilhados, na varanda do prédio e dentro do elevador. Eles compartilham seus amores, o medo da solidão, e podemos ver vários casais e até algumas brigas, assim como tentativas de resolução dos conflitos. 

“Tudo de bom nessa vida eu já fiz. E de ruim também. Mas pelo menos não matei ninguém e nem morri.”

Diz a Ela Que Me Viu Chorar - crítica

Cena de “Diz a Ela Que Me Viu Chorar”. (Imagem: reprodução)

Um medo que o título abstrato e as imagens de divulgação altamente estilizadas suscitam é que o documentário possa romantizar a vida dessas pessoas, manipulando as emoções com uma bela fotografia para imprimir um senso “artístico” ao filme. Entretanto, e felizmente, a obra foge disso, tentando ser o mais fiel possível às situações assim como elas foram captadas. A diretora optou por uma câmera bastante estática, e que não segue os personagens, invadindo seu espaço.

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Assim, as cenas nos corredores são sempre acanhadas. Embora a câmera testemunhe brigas, por exemplo, o documentário jamais tenta manipular esses eventos, nem com a fotografia nem com a montagem, apenas constatando o que aconteceu naquele momento perante a lente. A diretora também dá margem para que os próprios envolvidos comentem os fatos ocorridos mais tarde, revelando seu lado da história e os motivos que os levaram a participar dos conflitos.

Diz a Ela Que Me Viu Chorar

Cena de “Diz a Ela Que Me Viu Chorar”. (Imagem: reprodução)

Maíra Bühler, que já pesquisava a região batizada de “cracolândia” no centro de São Paulo, se aproximou de várias pessoas, e, quando esse hotel social surgiu, seguiu essas pessoas até que fosse convidada a entrar e filmar. Foi assim que ela conseguiu tamanha naturalidade na tela. Ela se preocupou em humanizar seus personagens. Mostrar como aquelas pessoas não são “zumbis”, como é característico denominá-los ao vê-los na rua abandonados, mas possuem sonhos, amores, temores, e tem histórias pra contar, como todo mundo.

A única coisa que essa estética mais distanciada impede é que vejamos a interação da equipe de “Diz a Ela Que Me Viu Chorar” com os personagens. Só há uma cena no elevador em que isso acontece, então fica difícil ter noção da ligação deles com os moradores. Se a intenção era mostrar o mínimo de interferência possível, bem, filmar já é, por si só, uma interferência. Seria legal poder ter mais noção de como era o envolvimento da diretora com os moradores do hotel, mas ela optou por não se colocar no documentário.

A cidade também não aparece, apenas vemos prédios lá longe, através de uma grade na cobertura, onde alguns moradores passam o tempo. Isso confere uma sensação de confinamento, pois não podemos ver como é a vida dessas pessoas quando saem do hotel. Entretanto, Maíra quis que sempre houvesse alguém enquadrado em todos os planos, pois o foco do documentário era sobre as pessoas, não sobre o espaço. 

Cena do documentário de Maíra Bühler

Cena do documentário de Maíra Bühler. (Imagem: reprodução)

“Diz a Ela Que Me Viu Chorar” também informa que, quando Dória assumiu a prefeitura da cidade em 2017, o programa que incluía o hotel social foi extinto, e a maioria das pessoas residentes ali teve que ir morar na rua. Após finalizado, a diretora conseguiu mostrar o documentário para algumas dessas pessoas, e elas ficaram melancólicas ao lembrarem da época em que tinham um lugar para morar. É uma informação de partir o coração.

Em filmes como esse, sempre surge a questão sobre a ética de se retratar pessoas vulneráveis. Enquanto o documentário passa em festivais, qual o benefício que essas pessoas ganham? Além disso, há o fator de serem retratados por alguém que claramente não faz parte da realidade deles, e não está na mesma situação. Por outro lado, será que filmes como esse jamais deveriam ser feitos, colaborando ainda mais para a invisibilização dessas pessoas? São questões muito delicadas, que devem estar sempre em debate. Enquanto situações de tamanho abandono social existirem, nenhuma resposta será fácil.


Edição e revisão por Isabelle Simões.
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Carol Lucena

Cineasta, musicista e apaixonada por astronomia. Formada em Audiovisual, faz de tudo um pouco no cinema, mas sua paixão é direção de atores. Vocalista da banda Noite e compositora nas horas vagas. Também escreve sobre cinema em seu site Cine Medusa, e é co-fundadora do Verberenas.

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