Aimée de Jongh é uma autora, ilustradora e quadrinista holandesa. Suas histórias em quadrinhos abordam temas jornalísticos, como em A Sala de Espera da Europa, obras biográficas, como Táxi e Dias de Areia, e ficcionais, como Sessenta Primaveras no Inverno e Honey Buzzard: O Retorno da Ave de Rapina.
Com pelo menos cinco de suas obras publicadas no Brasil, Aimée conquista o leitor com seus roteiros densos, reflexivos e impactantes. Seja em suas obras ficcionais ou naquelas biográficas, a narrativa envolve e emociona de diversas maneiras. Seguem algumas de suas HQs:
1) A Sala de Espera da Europa – Uma história de refugiados
Neste gibi jornalístico, Aimée viaja para um campo de refugiados na Grécia em 2017 para fazer uma reportagem sobre a vida naquele local. Ela explora o funcionamento do campo, o porquê daquelas pessoas estarem lá e quanto tempo ficarão.
O local, chamado Kara Tepe, abrigava mais de mil refugiados, e Aimée consegue interagir com alguns, conhecer as iso-boxes onde eles vivem e saber sobre outro campo de refugiados, mais lotado e insalubre, chamado Moria. A maioria da população local fugiu de países como Síria, Afeganistão, Iraque, Irã e Curdistão.
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A HQ também atualiza o leitor sobre a situação desses campos atualmente. Quais foram fechados e como está a situação atual dos imigrantes de países do Oriente Médio e da África para a Europa. As reflexões são muitas, especialmente quando pensamos nos problemas com as guerras atuais (na Ucrânia e Palestina), além da imigração devido a desastres ambientais (como o que ocorre no Brasil, atualmente).
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2) Táxi – Histórias Passageiras
Devido ao fato de Aimée viajar bastante a trabalho, o serviço de táxi é muito utilizado. Por essa razão, ela tem muito contato com pessoas (motoristas de táxi) de diversos países e culturas. Neste gibi, ela descreve esses diálogos em quatro histórias de chegadas e partidas, em países distintos, como Indonésia (Jacarta) e França (Paris), assim como dentro dos Estados Unidos, em Los Angeles e Washington, D.C.
Aqui, o choque cultural ocorre de diversas maneiras, como quando ela está em Jacarta e percebe o trânsito extremamente caótico, com várias pessoas (incluindo crianças) ocupando uma motocicleta, sem capacete! Mas ao mesmo tempo, fica um tanto desconfortável quando o motorista lembra a ela que os holandeses ocuparam a Indonésia por 300 anos e devastaram o país.
De alguma maneira, nos identificamos com suas histórias: seja o que perdeu o pai recentemente, o que ficou traumatizado por presenciar um acidente ou aquele que não está num dia muito bom para conversa. A gente se reconhece naquelas pessoas e reflete bastante.
3) Honey Buzzard – O Retorno da Ave de Rapina
A HQ mais pesada que eu li da autora traz uma história ficcional, mas que infelizmente é bem crível: adultos com traumas do passado (muitas vezes da infância) que não foram trabalhados e que despertam no presente devido a algum gatilho. A partir daí, começam a atrapalhar severamente a vida daquele indivíduo.
Simon é um livreiro que está com problemas financeiros e sua livraria está prestes a fechar. Porém, ele não quer vendê-la, pois é um negócio de família, mas sua esposa insiste que essa é a melhor opção nas circunstâncias (e de fato aparenta ser mesmo!). No entanto, ele testemunha uma tragédia que traz à tona lembranças de outro fato que ocorreu no passado, pesadíssimo, que ele sempre reprimiu.
Com todos esses problemas, ele conhece Regina, uma adolescente com quem ele começa uma peculiar amizade, que tende a se fortalecer e se transformar em algo mais.
Esse material nos remete a pensar sobre a importância de ter um apoio, seja familiar ou de um amigo, para lidar com as dificuldades da vida, inclusive quando se é criança. As consequências da solidão, introspecção excessiva e traumas não curados (oriundos de bullying, por exemplo) podem nos destruir, assim como a quem está ao nosso redor.