Ao completar 60 anos, Josy decide deixar seu esposo e partir. Para onde? Ela não decidiu ainda, mas apenas pega sua Kombi e vai embora. Esse é o início dessa história em quadrinhos muito forte, bonita e bastante reflexiva, intitulada Sessenta Primaveras no Inverno.
Quando chega a hora
Josy é uma mulher casada, mãe de dois filhos e avó. Durante sua festa surpresa de 60 anos, ela informa à família: “Eu vou embora.”
O clube das vilãs livres em Sessenta Primaveras no Inverno
A partir desse ponto, a história, roteirizada por Aimée de Jong e belamente desenhada por Ingrid Chabberth, desenrola-se de maneira imersiva e singela. Camélia apresenta Josy a um grupo de mulheres conhecido como “Clube das Vilãs Livres”.
Essas mulheres decidiram se separar de seus cônjuges após anos de casamento e estavam em busca de um recomeço na vida, encontrando novas amizades que compreendessem melhor essa fase única pela qual estavam passando.
Por meio das frequentes visitas ao Clube, Josy começa a estabelecer laços com essas novas amigas e ouvir suas histórias, muitas das quais as retratam como “ex-esposas terríveis que tiveram coragem de ir embora“, segundo a percepção de familiares e conhecidos.
Com o passar dos dias e uma convivência mais estreita, Camélia indaga Josy sobre o motivo que a levou a deixar o esposo: “Seu marido batia em você? Minha mãe sempre disse que esse é o único bom motivo para largar um homem“.
Falta de apoio familiar em Sessenta Primaveras no Inverno
Os filhos de Josy são incompreensivos, preconceituosos e imaturos. Agem como adolescentes egoístas, demonstrando pouco interesse em ouvir a mãe ou compreender seus sentimentos. Parecem apenas desejar que ela retorne para casa, sem considerar seus sentimentos. Josy sente-se culpada pela falta de maturidade deles, e a pressão constante a faz repensar suas decisões.
Enquanto os dias passam, nossa heroína continua sua jornada de recomeço e autoconhecimento. Um novo relacionamento começa a surgir de maneira natural, mas inesperada. Como ela lidará com isso, especialmente diante dos desafios decorrentes da recente separação? Sentimentos de culpa, dor e questionamentos permeiam sua experiência.
Em nenhum momento da história, Josy consegue sentar com o marido para um diálogo franco sobre o assunto. Por que essa comunicação não é possível? Qual barreira se construiu entre um casal com mais de 30 anos de relacionamento, que teoricamente deveria sentir-se confortável para discutir qualquer assunto?
Condicionamento social
A narrativa aborda implicitamente a ideia de que a única razão socialmente aceita para o divórcio é a violência doméstica. Traição e outros desentendimentos não parecem motivos suficientes, e a ausência de amor é considerada irrelevante.
Muitas mulheres, ao contrário de Josy e Christine, optam por não deixar seus esposos, mesmo tendo condições financeiras para fazê-lo, devido a toda essa pressão social e familiar. É lamentável que ainda vivamos em uma sociedade tão restritiva para as mulheres, com uma falta notável de apoio e sororidade.
A ausência de educação emocional em casa contribui para a escassez de questionamentos e reflexões. Josy suportou por décadas um relacionamento desprovido de amor e diálogo, simplesmente por não saber como encerrá-lo. Quantas de nós não nos encontramos em situações semelhantes?