Depression Cherry: a melancolia do amor pelo som etéreo do Beach House

Depression Cherry: a melancolia do amor pelo som etéreo do Beach House

Depression Cherry é o quinto álbum da banda americana Beach House. Composto por apenas nove faixas, este trabalho da dupla musical formada por Victoria Legrand e Alex Scally, mantém a sonoridade característica do dream pop. O álbum traz influências dos sons dos anos 90 e aborda a ideia de sonhar acordado, mesclando melancolia com a percepção desconfortável da realidade ao redor.

O processo de criação do álbum começou de maneira turbulenta, logo após a conclusão da turnê do álbum anterior, Bloom (2012). A vocalista Victoria Legrand se sentiu perdida, enfrentando uma crise existencial que acabou por se refletir em Depression Cherry. Em suas palavras: “Não me senti nada criativa… só pensei bem, talvez nunca mais tenha outra ideia musical.”

Apesar de a dupla explorar sintetizadores, arranjos similares e guitarras, dando a impressão de que estão revisitando territórios musicais de álbuns anteriores, Depression Cherry transmite a sensação de vivenciar situações que se desenrolam em um único dia, algo semelhante aos filmes Before Sunrise ou às obras de diretoras como Sofia Coppola e Greta Gerwig. O Beach House consegue capturar a sensação de se perguntar: “Para onde eu vou agora?”

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Beach House e onde podemos sonhar acordados

Banda Beach House
Beach House | Foto: Shawn Brackbill

Diferentemente de Bloom, no quinto álbum da banda ocorre uma mudança significativa no som. Neste trabalho, as batidas fortes da bateria são substituídas por uma sonoridade mais etérea. Essa atmosfera sonora “limpa” reflete a inevitabilidade da experiência humana. Cada faixa nos transporta para situações que poderíamos ter vivido de maneira diferente ou nos faz lembrar de um passado que não pode ser revivido.

Na faixa Sparks, experimentamos uma mistura de instrumentos vintage e backing vocals muito próximos, o que pode causar um desconforto inicial. No entanto, uma análise mais profunda revela a sensação de sermos recebidas por um coro angelical, como se estivéssemos sendo convidadas a mergulhar em pensamentos de uma realidade alternativa, onde tudo é mais leve e simples.

Em Levitation, a primeira faixa do álbum, somos introduzidas por teclados e arranjos que evocam uma sensação de amor. Afinal, o que é o amor senão uma mistura de calma e incerteza, permeada por incertezas sobre o futuro? E se as coisas não derem certo? No final das contas, o que nos resta é o presente e a capacidade de fazer planos juntos, mesmo que você não esteja vivendo na mesma realidade.

There’s a place I want to take you
When the unknown will surround you
There’s a place I want to take you

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Depression Cherry e a melancolia de um coração partido

Depression Cherry
Beach House | Imagem: reprodução

O maior destaque de Depression Cherry é a faixa Space Song. A música conquista corações com sua melodia e letras que exploram um amor mais melancólico, transportando a ouvinte para um espaço de sensações contínuas. Victoria conseguiu criar uma atmosfera que evoca uma tristeza teatral, que é única e envolvente.

Tender is the night
For a broken heart
Who will dry your eyes
When it falls apart?

 

De certa forma, as faixas do meio do álbum trazem uma nostalgia inerente à experiência humana. A poesia da dupla muitas vezes aborda as complexas sensações da paixão e da vida em si.

As músicas nos levam a refletir sobre o mundo como seres que enfrentam o medo de não compreender plenamente o significado do amor ou de perder alguém que, naquele momento, parece ser a pessoa perfeita para nós. De forma semelhante a Space Song, a faixa 10:37 também evoca a sensação de estar perdido.

Chances are
10:37
House made of the dawn
Disappears

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A construção da queda

Victoria Legrand e Alex Scally
Beach House | Imagem: reprodução

Inicialmente, não percebemos a narrativa que Victoria e Scally desejam compartilhar em Depression Cherry. As músicas estão interligadas, mas é necessário ouvi-las atentamente, pois cada uma retrata um momento da história da dupla musical.

Primeiro, testemunhamos o surgimento de um amor, fazendo com que o casal pareça levitar e orbitar um ao redor do outro. Porém, à medida que avançamos para o centro do álbum, somos envolvidas pela melancolia e o medo de perdermos aquela pessoa em nossas vidas.

À medida que nos aproximamos do final do álbum, a narrativa revela a queda que ocorre quando a paixão ou o amor desvanecem. O casal fica perdido, sem saber como fazer a relação funcionar, muitas vezes se recusando a encarar que algo já chegou ao fim, mesmo que todos ao seu redor percebam.

Na faixa Wildflower surge um tom mais animado, porém, o eu lírico percebe que a pessoa amada não está mais no mesmo espaço ou tempo que ele. O ser amado construiu em sua mente outras situações ou uma versão do eu que não se encaixa mais naquela relação. Mesmo diante dos esforços e demonstrações do eu lírico, fica claro que algo mudou irreversivelmente.

Need a companion
My head in prayer
You know you’re not losing your mind
What’s left you make something of it
Sky what’s left above it
The way you want nothing of it
Baby I’m yours

Na faixa PPP, a vocalista começa sussurrando os questionamentos de um casal no início, como se ambos estivessem na mesma cama, conversando até tarde da madrugada, compartilhando segredos e sonhos. São confissões que, com o passar do tempo, perdem a força, e os planos traçados não se concretizam, perdendo sua intensidade.

It won’t last forever
Or maybe it will
The white clothes they gave you
You wear them so well

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Para onde vamos agora?

Apesar disso, o ritmo musical dançante persiste, mascarando novamente a melancolia da letra. Além de PPP e Wildflower, Bluebird também adota a abordagem de um ar melancólico envolto em dança, onde a presença constante de notas vibrantes sugere uma atmosfera de fantasias românticas fatalistas.

Dessa forma, Victoria Legrand e Alex Scally constroem uma narrativa de romance melancólico, onde o início de cada relacionamento nos transporta para lugares imaginários, carregando a promessa de um destino grandioso. Porém, quando finalmente alcançamos esse destino, a melancolia de realizarmos algo diferente do que imaginávamos se torna avassaladora, e a dor supera a felicidade. É nesse ponto sombrio que tanto nós quanto nosso parceiro se revelam diferentes do que idealizávamos.

Beach House aprimora a construção lírica que sempre permeou seus álbuns anteriores. Depression Cherry é, de certa forma, um disco maduro que aborda questões da solidão diante do mundo, além da trajetória de um amor desde seu início até seu término. Utilizando truques de sintetizadores e luzes para camuflar a tristeza e a angústia presentes nas letras, cada faixa se entrelaça, culminando na pergunta final: “Nós conseguimos ir além?”

Colagem em destaque: Isabelle Simões para o Delirium Nerd.

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Sou formada em Letras Português, buscando me especializar em Elena Ferrante. Falo italiano fluentemente. E sou apaixonada por comédias românticas, seja livros ou filmes. Sempre busco procurar o amor romântico nas coisas.
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