[SÉRIES] Sense8: A série focada na Evolução Social Humana (crítica)

[SÉRIES] Sense8: A série focada na Evolução Social Humana (crítica)

“Sei que sentimentos e emoções podem vencer a lógica,e ao mesmo tempo a lógica pode estragar as emoções que fazem a vida valer a pena”. (Nomi – Sense8 )

Para a alegria de toda nação sensate finalmente está disponível na Netflix a 2ª Temporada de Sense8. Nós do Delirium Nerd não conseguimos nos controlar e como boas moças fomos devorar estes episódios maravilhosos. Deixaremos na resenha alguns pontos que chamaram bastante nossa atenção, porém fiquem bem tranquilas para ler o texto, ele é totalmente livre de spoilers.

Todos sabem que Sense8 é escrito e produzido pelas irmãs transgênero Lilly e Lana Wachowski e por tal motivo possibilita a  percepção de um grau de inclusão LGBTQI nunca observada antes em conteúdo televisivo. E as irmãs também são responsáveis por obras muito importantes na indústria cinemática, por exemplo: quem nunca ouviu falar de Matrix?

Sense8
As irmãs Lana e Lilly Wachowski

A seguir faremos um pequeno resumo para quem não conhece a série. É produzida nos EUA, e o nome é um trocadilho com a palavra “sensate“(Sense8 = sensEIGHT), se referindo ao indivíduo consciente com o que ocorre ao seu redor, ou seja, com apelos sensoriais. Ela se enquadra no gênero “ficção dramática” e é produzida e disponibilizada pelo serviço de streaming Netflix desde 5 de junho de 2015.

O enredo aborda a existência de oito desconhecidos que vivem em lugares totalmente separados geograficamente, com culturas, experiência de vida e motivações distintas. Porém de forma súbita todos são surpreendidos com a visão da violenta morte de uma mulher chamada Angélica e desde então descobrem estar ligados tanto mentalmente como emocionalmente uns com os outros.

Dessa forma, aprendem que é possível se comunicar e também usufruir do conhecimento, linguagem e habilidades que possuem entre si. Pessoas com tais habilidades são denominadas “Sensates“. Enquanto o grupo procura compreender a origem e motivo desta conexão tentando viver suas vidas normalmente ao mesmo tempo que estreitam laços, irão aparecer aliados e também pessoas mal-intencionadas para os procurar.  Sense8 faz com que o telespectador seja como o 9º sensate, já que a produção nos faz sentir na pele tudo pelo que os personagens passam.

Sense8
                  O nosso cluster (grupo) predileto.

O mais interessante da produção, porém, é a lição que ela traz do ponto de vista social, tendo coragem de explorar assuntos vistos como tabus como: homossexualidade, transexualidade, empatia, autoaceitação, superação, sexo, poder feminino, depressão, entre outros – e o mais importante: RESPEITO. Arriscamos a dizer que é um conteúdo televisivo que deveria ser assistido por todos; as lições são muito bonitas e sensíveis.

Ensina que devemos respeitar as singularidades e usá-las para o bem da pluralidade, que a verdade de um grupo como totalitária nem sempre é a única verdade, que outros pontos de vista e modos de vida podem também ser maravilhosos e não é necessário denegri-los ou humilhá-los. Sense8 é sobre AMOR, RECIPROCIDADE, EMPATIA e sentimentos desse nível.  Acima de tudo, aborda com força a Evolução Humana a nível social,  pois apesar de nos considerarmos “evoluídos”, ainda matamos, massacramos, ofendemos e inferiorizamos pessoas por simplesmente elas terem uma sexualidade, etnia, sexo, ou não estar no padrão que consideramos “normal e aceitável” (como exemplo, podemos citar o triste assassinato da travesti Dandara). A maior lição de Sense8:

“Não se sinta mal por ser quem você é”

Sense8
Uma cena de “nudez e sexo em demasia”.

“A música de Mozart não era sentida pelas pessoas de seu tempo da forma que a ouvimos hoje.”

Atualmente percebemos que algumas pessoas (na maior parte das vezes, homens) reclamam de que “há nudez e sexo em demasia” na série, mas será realmente este o incômodo? Levando em consideração que hoje em dia é muito difícil encontrar qualquer seriado que não possua sexo ou nudez, nós do Delirium Nerd debatemos bastante sobre isso.

O conteúdo adulto retratados em Sense8 não é algo abusivo, não está lá apenas para mostrar uma mulher sendo usada por um homem ou a nudez de seu corpo para o deleite masculino, não usa esses métodos para enaltecer o homem hétero, como faz a maioria das séries. E pelo contrário, todo sexo é demonstrado com amor e prazer de ambos os lados e das mais diversas formas.

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Podemos dizer que é inclusivo e artístico, vemos todos os tipo de sexo (grupal, lésbico, gay, hétero) sem discriminação ou estereótipo; eles focam totalmente em quebrar todos os rótulos nesse aspecto e mostrar a beleza existente nessas relações (o que raramente é bem representado em outros conteúdos). Então levantamos a questão: por qual motivo os mesmos “homens puros” incomodados em ver muito sexo e nudez numa série nunca reclamam dos estupros e nudez sem lógica nenhuma e em demasia (inegável) em Game of Thrones? Essa é uma questão que fica no ar.

Mudando de assunto, o que acham de nos familiarizarmos com os sensates? Vamos lá:

Capheus “Van Damme” (Aml Ameen / Toby Onwumere): Pacífico motorista de van que vive em Nairóbi, no Quênia. Se esforça para viver corretamente e ajudar a comprar os remédios da mãe soropositiva, marcado por intenso senso de justiça.

Sense8

Sun Bak (Doona Bae): Lutadora à noite, participando de combates clandestinos, atua de dia como economista formada para auxiliar o pai, um grande empresário de Seul . Por ser mulher não possui reconhecimento como economista e nem aprovação quanto esportista de luta.

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Nomi Marks (Jamie Clayton): mulher trans, lésbica, hacker e ativista política lutando pelos direitos LGBTs. Vive em São Francisco com sua companheira Amanita e sofre com a não-aceitação de seus pais em relação a sua identidade de gênero e orientação sexual. A atriz que interpreta a personagem também é mulher trans, deixando personagem muito mais realista e coerente para a compreensão do telespectador.

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Kala Dandekar (Tina Desai): cientista farmacêutica bastante envolvida com seu trabalho, visa um futuro brilhante. Reside em Mumbai. Sensível e devotada aos Deuses Hindus, está em dúvida se aceita ou não o casamento com um  homem que não ama para fazer sua família feliz.

Sense8

Riley Blue / Gunnarsdóttir (Tuppence Middleton): uma DJ islandesa que vive em Londres. Possui um passado obscuro que a fez sair da Islândia para a Inglaterra.

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Wolfgang Bogdanow (Max Riemelt): criado desde criança numa família mafiosa de Berlim, teve uma infância conturbada, atua como “chaveiro” nos “trabalhos”, devido a sua alta habilidade em abrir cofres e arrombamento. Possui assuntos mal resolvidos com o falecido pai e alguns outros parentes.

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Lito Rodriguez (Miguel Ángel Silvestre): ator de ascendência espanhola que atua em filmes e novelas no México. Bastante envolvido com seu trabalho e fãs, cria uma falsa impressão que seja heterossexual, já que na verdade possui às escondidas um relacionamento sério e homossexual com companheiro Hernando. É visto como galã na indústria cinemática.

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Will Gorski (Brian J. Smith): policial que trabalha em Chicago e possui grande preocupação com seus aliados. É traumatizado por um desaparecimento não desvendado em sua infância, no qual fez um depoimento que não foi levado em consideração. Possui coragem e forte senso de proteção.

Sense8

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Crítica da 2ª temporada

A nova temporada, disponibilizada em 05/05, abrange questões necessárias que normalmente são evitadas e também nos ensina a aceitar as respostas tentando visar o lado positivista, é como um autoaprendizado: Quem realmente eu sou? Quem realmente somos?

A pergunta mencionada não está relacionada ao que tentamos parecer ou ao papel que assumimos perante a sociedade, mas sim a quando tiramos as máscaras e mentiras (muitas vezes necessárias para sobreviver), o que realmente nos resta e quais são nossas verdadeiras impressões sobre o que vemos? Realmente gostamos do que somos?

A segunda temporada se aprofunda mais nas questões sociais apresentadas na primeira temporada, enquanto nos enche de incríveis novidades, restando ainda tempo para cenas de ação e pancadaria. Nem dá tempo de respirar, a cada episódio assistido ficamos sem sossego até ver o próximo capítulo. Na pele destes adoráveis e distintos personagens você irá rir, chorar, cantar, dançar, lutar, dirigir, ficar eufórica e acima de tudo aprender sobre amor, empatia e respeito pela diversidade.

Sense8 é uma rica fonte de ensinamento relacionado à Evolução Social Humana, pois mostra que mesmo pertencendo à tantas culturas e formas de vida diferentes todos os personagens visam o bem comum sem preconceitos, buscam a autopreservação do grupo, surgindo da proteção existente na diversidade que há entre eles, sem questionar motivos trocam suas mais variadas experiências de vida e assim tranquilizam e apoiam uns aos outros quando surgem problemas.

Parte da singularidade como efeito que adiciona conteúdo à pluralidade ao mesmo tempo que a pluralidade possui cada vez mais poder e exerce proteção aos seus integrantes por compreender e tirar total aproveitamento de suas particularidades variadas. Essa é uma série que não só merece ser assistida, ela DEVE ser assistida. A compreensão da bela mensagem apresentada, caso seja aplicada por todos, deixaria as relações pessoais (com conhecidos, desconhecidos ou até a auto-relação) bem menos tóxicas e mais harmoniosas.

Esperamos de verdade que apreciem essa obra!

Sense8

Escrito por:

Ilustradora, quadrinista, colorista, amante da arte tradicional. Fã de mangá e anime desde a infância, gamer e rpgista. Amante de livros e viciada em seriados. Seus gêneros favoritos de filmes inclui thriller psicológico e animação. Curte rock alternativo, rock clássico, indie rock, metal (folk, viking e heavy). Sente-se determinada como sua heroína Mulan, mas gosta de abraços quentinhos igual o Olaf.
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