[MÚSICA] Mahmundi: Synthpop, R&B e minimalismos à moda carioca

[MÚSICA] Mahmundi: Synthpop, R&B e minimalismos à moda carioca

Melodias minimalistas, um pegada do R&B classudo dos anos 90 e sintetizadores e experimentalismos no melhor estilo Toro Y Moi. É nesse rico cenário que a poesia da carioca Mahmundi, nome artístico de Marcela Vale, ganha vida. Com um estilo próprio que reúne influências da música oitentista, lo-fi, eletrônica e indie, a artista vem trazendo refresco para o cenário pop nacional. O maior exemplo disso foi o excelente disco homônimo, lançado no ano passado e que foi sucesso de crítica, figurando nas principais listas de melhores discos nacionais de 2016.

Inventiva e destemida, a ideia de fazer parte do mainstream e investir na música pop são escolhas intimamente ligadas ao estilo musical que Mahmundi desejava construir: um repertório de músicas radiofônicas capazes de de acompanhar os momentos e a rotina do público.

Apresentando uma obra íntima e confessional, falar sobre a sua trajetória se torna indispensável quando se quer falar sobre o seu trabalho. Moradora do subúrbio do Rio de Janeiro, a música fisgou Marcela já aos nove anos de idade. Entretanto, a possibilidade de ser dedicar inteiramente à construção de sua carreira pareceu distante por muito tempo.

Uma das primeiras oportunidades de envolvimento profissional com a música veio com o trabalho de técnica de som no Circo Voador, uma das casas de shows mais reconhecidas do país. A escolha pela função veio através de um desejo simples e sincero: a possibilidade de assistir a shows de graça. Foi nesse período que a cantora desenvolveu o conhecimento necessário para se aventurar na produção e na gravação de suas próprias músicas com maturidade e qualidade.

Quando conseguiu migrar dos bastidores para o ponto central do palco, Mahmundi lançou seu EP de estreia, “Efeito das Cores”, em 2012. Registro feito em casa, totalmente independente, contendo seis faixas. Entre elas, está a conhecida “Calor do Amor”. Já no ano seguinte, foi a vez de apresentar o seu segundo EP, intitulado “Setembro”, que deu origem ao clipe da canção “Vem”.

Em “Mahmundi”, a artista mostra todo o seu talento como compositora, multi instrumentista e produtora com o apoio do antigo selo SeteroMono (responsável por artistas como Jaloo e Boogarins). Misturando passado e presente, o registro nos transporta para um ambiente marcado pelo minimalismo, nostalgia e letras que sobre amores e relações entrelaçadas com o clima do Rio de Janeiro, em faixas como “Azul”, “Calor do Amor” e “Eterno Verão”.

Atravessada por inquietações, foi na concepção de seu primeiro álbum que a cantora pode reunir canções produzidas desde 2012 e enxergar o seu trabalho com maior amplitude. A opção pelo lançamento de um disco é fruto de um processo de construção de afirmação de Mahmundi enquanto artista.

A intensidade com a qual ela se envolve com a sua própria obra pode ser percebida por sua constante presença em cada espaço de construção do disco: na voz, nas letras, nas batidas, na produção e no conceito da capa. Um atmosfera completa, pessoal e provocante que transmitem a autenticidade e a energia de Marcela.

Da parte técnica ao aspecto lírico,  a cantora costura vivências e influências passadas com as que vive no presente em uma passeio pelas memórias, reflexões e paisagens que a acompanham. A condução é feita de modo harmônico e sensível, fazendo com o que presente e a nostalgia se entrelacem.

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Essa entrega de Mahmundi é sentida de um jeito doce. As melodias oitentistas e suaves conversam com os ritmos do mar e do sol. Mesmo nas angústias de experiências amorosas, em versos como “Quanto tudo terminar enfim/Meu desejo transformado em saudade” e “Eu te espero/Não vá/ É tudo sobre um dia aqui”, a obra dialoga com sinceridade e foge de exageros.

Em 2017, a carreira da cantora é marcada por uma nova fase: lançamento de um novo EP ainda neste semestre, primeiro trabalho na gravadora Universal Music. Ao que tudo indica, podemos aguardar por um disco menos intimista, com um olhar mais amplo e urbano.

A primeira amostra da nova proposta pode ser conferida no ótimo single “Imagem”, que estreou no começo de julho. Com uma pegada black envolvente e romântica, Mahmundi te faz um convite irresistível: dar um rolê com os amigos pela noite e se acabar na pista.

Além da qualidade da canção, composta em parceria com Hugo Braga, Lux Ferreira e Leo Justi, “Imagem” também agrada enquanto clipe. Mahmundi surge como uma importante figura para estética negra, trazendo modelos e atores negros e negras para um cair num baile charme que ninguém bota defeito.

Após o elogiado disco de estreia, a expectativa é que o próximo registro de Mahmundi seja destaque no cenário nacional. Mesmo com pouco tempo de carreira, o amadurecimento da artista é constante e perceptível. A cantora não tem medo de experimentar e testar novas nuances sem deixar de se conectar com as propostas das antigas obras.  Enquanto o EP ainda não é lançado, você pode ficar de olho no trabalho dela no Spotify e no Youtube.

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Estudante de jornalismo que ama milkshake, comidas veganas e poesia na mesma intensidade que não suporta desfazer malas ou arrumar o quarto. Vivendo sempre em um ritmo frenético, só a música consegue se fazer presente em todos os momentos. Ouve de tudo toda a hora e já fez playlist até para tomar banho.
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