Reputation: a velha Taylor Swift definitivamente não está morta

Reputation: a velha Taylor Swift definitivamente não está morta

Lançado nesta sexta-feira, 10 de novembro, Reputation é o sexto álbum da cantora norte-americana Taylor Swift, sendo um dos lançamentos mais esperado do ano desde a sua confirmação em setembro com o single Look What You Made Me Do.

Mas enquanto o que se esperava depois desse single era um álbum que expressasse toda a mágoa de Swift por causa das suas brigas com famosos e com a mídia, que se resumem na frase “The old Taylor can’t come to the phone right now / Why? Oh, cause she’s dead”, Reputation traz várias canções diferentes mostrando exatamente o contrário: a antiga Taylor está mais viva do que nunca, ela apenas reinventou seu estilo para se encaixar no pop de 2017 e mais uma vez quebrar recordes de vendas e prêmios.

Nessa nova fase de sua carreira, Taylor continua seguindo o estilo synth-pop já usado no seu álbum anterior, 1989, que também foi feito em parceria com os produtores Max Martin e Shellback, e Jack Antonoff. Reputation, porém, traz novos efeitos sonoros, batidas mais dançantes e um visual mais moderno onde a cantora explora elementos como bebidas, sexo e festa, sem deixar de lado os temas que já são centrais das suas músicas: amor, relacionamentos, traições e fama.  

É claro que, após um ano conturbado, era de se esperar que Swift utilizasse o que estavam falando dela na mídia e nas redes sociais em suas novas composições (ela não tinha muita opção, se formos considerar que suas músicas sempre abordaram os acontecimentos mais recentes da sua vida).

Músicas como I did Something Bad, This is Why We Can’t Have Nice Things e Call it What You Want fazem referências direta à sua briga com Kanye West e Kim Kardashian no verão passado (se você não sabe do que eu estou falando se atualize de todo esse drama aqui), e outras como End Game e Look What You Made Me Do exploram o lado da sua reputação de “cobra”, refletindo a forma como o público tem visto e falado dela no último ano.

Porém, o foco do álbum ainda é o romance, que dessa vez aparece muito mais maduro do que nos anteriores. As faixas que mais se destacam são Dress, New Year’s Day e Delicate, que se referem ao seu relacionamento atual com Joe Alwyn, enquanto Getaway Car ganha destaque por apresentar pela primeira vez uma narrativa onde a cantora admite ter traído para sair de um relacionamento que já estava dando errado.

O romance é explorado com elementos realistas de uma jovem adulta de 27 anos que não sonha mais com o príncipe encantado, apenas com um parceiro que possa participar da sua vida conturbada e esteja aberto a conhecê-la por completo, sem se importar com as fofocas da mídia e a sua “má reputação”.  

Essa mudança é positiva e funciona para se encaixar na visão romântica dos tempos atuais, onde as mulheres estão se emponderando e buscando sua independência dos homens.

Com letras como “I want to wear his initial on a chain ‘round my neck, chain ‘round my neck / Not because he owns me but ‘cause he really knows me” (Eu quero usar as iniciais deles em uma corrente em volta do meu pescoço / Não porque ele é meu dono mas porque ele realmente me conhece) e You don’t need to save me / But would you run away with me?” (Você não precisa me salvar/ Mas você fugiria comigo?) esse amor é explorado de forma mais intimista, onde Taylor não se coloca mais como a vítima de amores não correspondidos, e sim como alguém que encontrou a pessoa ideal para compartilhar sua vida.

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Por outro lado, quando se trata de abordar as suas brigas midiáticas com outros famosos ela utiliza letras inteligentes para mostrar que não está exatamente arrependida. Em I did Something Bad, Taylor faz uma referência direta à música Famous de Kanye West, enquanto em This Is Why We Can’t Have Nice Things ela fala que irá perdoá-lo, e depois ri dessa frase dizendo que não consegue dizer isso com uma cara séria.

As músicas são boas, entretanto, não funcionam para mudar a percepção de vitimista e manipuladora que o público tem sobre ela. A narrativa continua sendo sobre como Taylor foi ingênua de confiar nas pessoas, e como eles fizeram coisas ruins, sem que ela tivesse alguma culpa na história. Independente da sua opinião sobre esse assunto, a cantora acaba parecendo como alguém que simplesmente não consegue superar essas “brigas”, mas continua usando-as em suas músicas porque sabe que isso fará o álbum vender e ser muito comentado.

E no fim do dia, essas estratégias e várias outras, como a realização de Secret Sessions e a interação com fãs nas redes sociais, combinadas com boas composições, estão mais uma vez funcionando.

De acordo com a Bilboard, em seu primeiro dia de lançamento, Reputation já vendeu mais de 700 mil cópias nos Estados Unidos e todas as suas críticas têm sido positivas. Além disso, o álbum está sendo vendido junto com 2 revistas que trazem pôsteres e fotos inéditas da cantora. Também será lançado um documentário sobre ele e em breve será divulgada uma turnê mundial.

Ou seja, apesar de não funcionar para mudar a persona de Swift, que no pior dos casos é vista como “mentirosa” e nos melhores como uma mulher privilegiada que não utiliza a sua voz para se posicionar sobre assuntos importantes, Reputation funciona como um álbum pop de 2017 que explora diversas fases de romances que deram certo e alguns que deram errado.

O álbum traz músicas de qualidade, performadas por uma artista que está sempre se reinventado para conseguir os melhores números do mercado. Em Reputation, a antiga Taylor não está morta, ela apenas se reinventou e construiu outras narrativas para continuar se mantendo relevante dentro do pop. Resta saber se isso será o bastante para garantir essa relevância dentro de um contexto cultural onde celebridades cada vez mais se posicionam politicamente e se engajam em causas sociais.

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Feminista. 20 anos. Libriana indecisa com ascendente em leão que sonha em viajar o mundo. Estudante de publicidade e propaganda, apaixonada por séries, livros, filmes e levemente viciada em ver fotos de animais fofinhos na internet.
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