[LIVROS] A Rainha e os Panos Mágicos: a nova era dos contos de fadas

[LIVROS] A Rainha e os Panos Mágicos: a nova era dos contos de fadas

Já pensou em se deparar com um conto de fadas no qual você se sentisse representada? Um conto de fadas que, sem perder o viés da fantasia e da magia, ainda assim conseguisse ser mais palpável? Já pensou se nesse conto de fadas você pudesse se espelhar em mulheres fortes que salvam a si mesmas ou homens/meninos que podem ser seus amigos sem, necessariamente se envolver amorosamente com você? Você já pensou em um conto de fadas que tratasse de temas que, se abordados na primeira infância, talvez diminuíssem todo o bullying e sofrimento que você passou? Enfim, você, em toda a sua existência, já pensou em um conto de fadas que se tivesse lido quando criança conseguisse te transportar para uma terra mágica em que ser você mesma pudesse ser uma possibilidade real?

A autora Janaína Leslão sim, e mais do que isso, criou um universo ficcional onde tudo isso fosse possível. Em seus dois primeiros contos de fadas a autora estreia quebrando paradigmas e mostrando que podemos e devemos falar de gênero¹ para crianças, sim! Até porque os contos de fadas tradicionais falam de gênero, mas com uma abordagem estereotipada e por um viés heteronormativo².

Em seu novo livro intitulado A Rainha e os Panos Mágicos, escrito em co-autoria com Deborah Delage, com ilustrações de Carol Borges, elas abordam a questão dos direitos sexuais e reprodutivos da personagem principal, a Rainha Sheila, que se encontrava em sua segunda gestação e faz uma viagem de barco com a sua primogênita, Sarah, para visitar amigos em outros reinos e mostrar o mundo para a filha, assim como sua mãe fez com ela, preparando-a para ser uma grande líder.

Panos Mágicos

No entanto, durante a viagem a tripulação é surpreendida por uma tempestade, seguida de um naufrágio que muda os planos da Rainha, levando-a a uma misteriosa e desconhecida ilha. Lá ela descobre que todas as habitantes da ilha são bruxas e magos e que, diferentemente de sua terra natal, todos os nascimentos se dão através de partos normais acompanhados dos lendários panos mágicos, sendo que somente em casos de risco à vida da gestante ou do bebê eram feitas as cirurgias.

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Depois de muito aprender sobre os costumes e tradições daquela ilha tão peculiar e harmônica, a Rainha e a princesa voltam para o reino de Península, onde tentam convencer o Grande Mago e seu marido, o rei, que há outras possibilidades seguras de parto, não necessitando sempre de intervenção cirúrgica. Mas a ideia dela soou como um delírio e temendo pela vida de sua amada Rainha e do bebê que estaria por vir, o Grande Mago e o rei decidiram enclausurá-la para o seu próprio bem! Afinal, os panos mágicos e o parto natural não passavam de lendas de outrora…ou será que não eram?

Curiosidades:

É impossível não admirar o maravilhoso trabalho da ilustradora Carol Borges. Ela conseguiu transportar para as ilustrações, com riqueza de detalhes, toda a beleza da história. Com traços de cartoon e Disney, a ilustradora deu vida às personagens do conto de fadas, levando-nos para dentro da trama e nos envolvendo com suas cores e traços.

Seguem algumas das personagens e as suas respectivas inspirações:

Panos Mágicos

A Rainha Sheila – referência a Sheila Kitzinger, antropóloga inglesa que liderou o movimento social de retomada do protagonismo das mulheres sobre as escolhas relacionadas ao nascimento. Autora de diversos livros, impulsionou a busca por evidências científicas na assistência à gestação e ao parto.

Panos Mágicos 

A Bruxa Agnes – referência a Ágnes Geréb, médica, parteira e psicóloga húngara, militante reconhecida internacionalmente por sua defesa dos direitos reprodutivos das mulheres. Acusada de homicídio no caso de uma morte neonatal, foi presa sem julgamento em 2010, passou por um longo período de prisão domiciliar e até o lançamento da primeira edição deste livro, permanece impedida de sair de Budapeste.

Panos Mágicos

Princesa Sarah – nome de origem hebraica que significa princesa. Pessoa persistente, cuja vontade de conquistar seus objetivos é maior que os obstáculos. Na história, representa todas as garotas e garotos que aprendem que o nascimento é um processo fisiológico, natural, embora distinto para cada parturiente.

 

Não Percam os Lançamentos do livro

Janaína Leslão conta sobre os trabalhos A Rainha de os Panos Mágicos e Joana Princesa:


As autoras

Panos MágicosJanaína Leslão

A Escritora de “A Princesa e a Costureira” e “Joana Princesa”, os primeiros contos de fada brasileiros a abordarem direitos sexuais. Psicóloga, aproximou-se das questões de gênero ainda na graduação.Na ong NEPS, tornou-se militante feminista e LGBT. Conselheira no CRPSP de 2010 a 2016, tem especialização em Saúde Mental. Funcionária pública, trabalha com prevenção às violências autoprovocadas e interpessoais.

Maringaense de nascença, porecatuense de criação, errante na vida. Após oito cidades e quatorze casas, criou raiz em pessoas e não, em lugares. Apaixonada por MPB, gosta de música infantil inteligente. Cresceu lendo apostilas de literatura da mãe professora; adolesceu entre Cecília Meireles e Sidney Sheldon; “adulteceu” com Caio Fernando Abreu e Clarice Lispector. Prefere pequenas reuniões a grandes festas.

 

Panos MágicosDeborah Delage

Formou-se dentista há muitos séculos, quando ainda era menina e apenas sonhava com contos de fadas. Só tornou-se gente grande quando se deu conta de quanta violência marca a vida das mulheres em todos os âmbitos e, em particular, no campo de seus direitos sexuais e reprodutivos. O nascimento da filha mostrou-lhe um caminho de luta, do qual nunca mais conseguiu se afastar – a busca por assistência humanizada e livre de violência, no campo da saúde da mulher. Mestra e doutora pela Faculdade de Saúde Pública da USP, seu tema de doutorado foi o conflito de interesses que permeia as indicações de cesarianas. Trabalhadora e defensora do Sistema Único de Saúde (SUS), lida com a prevenção de violências autoprovocadas e interpessoais. É doula e vive se emocionando em nascimentos, sempre acompanhada de seu pano azul.

Notas:

¹ “Gênero, como compreendemos, é um dispositivo cultural, constituído historicamente, que classifica e posiciona o mundo a partir da relação entre o que se entende como feminino e masculino. É um operador que cria sentido para as diferenças percebidas em nossos corpos e articula pessoas, emoções, práticas e coisas dentro de uma estrutura de poder. Os arranjos de gênero colocados em prática na sociedade exercem uma força sobre toda nossa vida cotidiana. Eles criam expectativas a respeito de como devemos agir, do que pensar e do que gostar. […]” ( Diferentes, não desiguais – a questão de gênero na escola. autoras(es): Beatriz Accioly Lins e Bernardo Fonseca Machado e Michele Escoura)

² Heteronormatividade é a crença de que o normal, o padrão, o natural; é ser hétero, e à partir dessa crença, impor à todas as pessoas essa norma, repudiando-se (através de violência física, verbal e/ou psicológica), assim, todas que fugirem desse padrão.


Panos Mágicos

A Rainha e os Panos Mágicos

Autoria: Janaína Leslão e Deborah Delage

Ilustrações: Carol Borges

Prefácio: Rita Lisauskas

Editora: Metanoia

ISBN: 9788594750372

Ano: 2017

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Escrito por:

51 Textos

Feminista e membra da União de Mulheres de São Paulo, onde é coordenadora adjunta do Curso de Promotoras Legais Populares, projeto voltado para a educação popular e feminista em direitos. É viciada em Lego, apaixonada por ficção científica/terror/horror, apocalipse zumbi e possui sérios problemas em procrastinar vendo gif’s e não lembrar o nome das pessoas. No mundo real é advogada.
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