[LIVROS] Jarid Arraes: A heroína negra da literatura

[LIVROS] Jarid Arraes: A heroína negra da literatura

Estamos em um momento da história em que a palavra representatividade começa a ganhar um significado simbólico revolucionário. Queremos nos ver representadas e questionamos o status quo. Só que o discurso da representatividade não vem sendo levantado apenas quando falamos da atualidade. Queremos conhecer a nossa história, mesmo que tenham nos ensinado que não temos história ou que mulheres não fizeram história. É nesse estopim que surge o livro “Heroínas Negras Brasileiras em 15 cordéis”, da querida Jarid Arraes, que utiliza-se da literatura de cordel para nos falar sobre de 15 mulheres negras que quebraram paradigmas e escreveram alguns parágrafos ou até capítulos inteiros da história do Brasil.

Jarid Arraes

A Jarid também escreve seu próprio capítulo na história do país quando quebra a tradição machista e LGBTfóbica da literatura de cordel. Quem acompanha o trabalho da autora sabe que o cordel da Jarid sempre foi feito com a proposta de tratar de temas que não eram abordados no Cordel tradicional e, muitas vezes, nem na sociedade como um todo. Suas protagonistas sempre são mulheres, em geral mulheres negras, e ela aborda sempre temáticas da pauta de discussão do feminismo interseccional.

A gente aprende que os homens brancos são aqueles que descobriram coisas e inventaram coisas, o que é verdade, mas não é a única verdade. Não é só isso. As mulheres negras fizeram muitas coisas também.” (Jarid Arraes no lançamento do livro em São Paulo)

Jarid Arraes

Como a própria autora mencionou, ainda no lançamento do livro, quando aprendemos que só homens brancos contribuíram para a história da humanidade, estamos afirmando, ainda que inconscientemente, que um grupo é mais capaz, mais inteligente e mais corajoso que o outro.

No entanto, quando conhecemos as mulheres negras do livro, somos capazes de perceber que esta não é uma verdade e que as mulheres e, no caso em questão, as mulheres negras, contribuíram de forma significante para a conquista dos direitos que temos hoje.

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Esta fala da Jarid Arraes vem de encontro com o que a autora nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie chama de “O perigo de uma única história”:

É impossível falar sobre única história sem falar sobre poder. Há uma palavra, uma palavra da tribo Igbo, que eu lembro sempre que penso sobre as estruturas de poder do mundo, e a palavra é “nkali”. É um substantivo que livremente se traduz: “ser maior do que o outro.” Como nossos mundos econômico e político, histórias também são definidas pelo princípio do “nkali”. Como são contadas, quem as conta, quando e quantas histórias são contadas, tudo realmente depende do poder. Poder é a habilidade de não só contar a história de uma outra pessoa, mas de fazê-la a história definitiva daquela pessoa […]”.

Confira aqui a palestra completa:

A menina nascida em 1991 no sertão do Cariri nos salva do perigo de uma única história sobre as mulheres negras e, com seu ato revolucionário de contar o que ninguém nos contava e de nos devolver nosso passado, Jarid Arraes se torna a nossa própria heroína negra.

“Julho é o mês da celebração da luta e da resistência da mulher negra. Marcadamente, o dia 25 representa o Dia Internacional da Mulher Negra Latino Americana e Caribenha. Durante todo o mês, núcleos e coletivos articulam entre si campanhas de cultura, identidade e empoderamento dessas mulheres.” #JulhodasPretas


Jarid ArraesHeroínas Negras Brasileiras Em 15 Cordéis

Pólen Livros

Autora: Jarid Arraes

176 páginas

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Escrito por:

51 Textos

Feminista e membra da União de Mulheres de São Paulo, onde é coordenadora adjunta do Curso de Promotoras Legais Populares, projeto voltado para a educação popular e feminista em direitos. É viciada em Lego, apaixonada por ficção científica/terror/horror, apocalipse zumbi e possui sérios problemas em procrastinar vendo gif’s e não lembrar o nome das pessoas. No mundo real é advogada.
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