Evelyn Hugo, Daisy Jones, Celia St. James, Mick Riva e Billy Dunne. Todas essas pessoas têm uma característica em comum, além do fato de serem grandes personalidades midiáticas envolvidas em polêmicas que chocaram o mundo durante suas épocas de estrelato: nenhuma delas existe na vida real. Todos são personagens criados pela escritora estadunidense Taylor Jenkins Reid, e integrantes do chamado “Reidverso” – universo literário onde todas as narrativas da autora se unem por algum personagem em comum.
Meu primeiro contato com Taylor foi lendo Os Sete Maridos de Evelyn Hugo (lançado em 2017 e distribuído no Brasil pela editora Paralela). Considerações sobre plot twists e superação de expectativas à parte, algo que me marcou muito foi a riqueza de detalhes que a autora empregou não apenas aos personagens, mas a suas histórias.
Era tudo tão realista, que me peguei pesquisando diversas vezes sobre Evelyn Hugo e os filmes estrelados por ela, para ter certeza de que a protagonista do livro não existia na vida real.
Quando li Daisy Jones and The Six (lançado em 2019, também distribuído pela editora Paralela), acabei repetindo minhas pesquisas sobre os protagonistas, pois Reid me fez acreditar, pela segunda vez, que eu estava lendo algum tipo de biografia de artistas que realmente existiram em algum momento.
Antes do sucesso como escritora, Taylor trabalhou com cinema
Graduada em Cinema e Televisão pela Emerson College (Boston, Estados Unidos), Reid começou sua carreira no mundo do entretenimento em Los Angeles, como assistente de elenco.
Mas, apesar de gostar do trabalho, ela sentia que não se encaixava verdadeiramente naquele ambiente. Na mesma época, conseguiu emprego em uma escola, onde dividia seu tempo entre a rotina e o hábito de escrever.
A escrita se tornou sua paixão e, em 2011, com o lançamento de Para Sempre Interrompido, ela decidiu se dedicar integralmente à literatura. Mas foi apenas em 2017, com o lançamento de Os Sete Maridos de Evelyn Hugo, que seu sucesso como escritora alcançou outro patamar.
O Booktok impulsionou as vendas da autora
O expressivo número de vendas do best seller, que conta a história de uma estrela de cinema dos Estados Unidos e todas as suas questões profissionais, profissionais e conjugais, deve-se, além do inegável talento de Reid, à comunidade literária concentrada no TikTok.
O chamado “Booktok” é, resumidamente, uma categoria de vídeos onde os criadores produzem resenhas ou conteúdos engraçados e informativos sobre os livros que leram. Embora a obra tenha sido bem recebida em seu ano de lançamento, foi a viralização orgânica do título no BookTok anos depois que o tornou um dos livros mais vendidos do mundo.
Os membros da comunidade literária do aplicativo criaram vídeos contando suas experiências com o enredo, os personagens e os plot twists (que não são poucos), e essa reação em cadeia gerou uma movimentação que refletiu nos inflados números de exemplares do título.
A partir disso, as narrativas e os protagonistas de Taylor Jenkins Reid, além de Evelyn Hugo, ganharam o coração dos amantes da literatura. Prova disso é o sucesso de vendas de Daisy Jones and the Six. O livro ganhou adaptação no Prime Video em 2023, e também foi um sucesso de audiência, alcançando 70% de aprovação no site de críticas Rotten Tomatoes.
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Sua ficção é tão bem construída que se confunde com realidade
Uma das marcas registradas da autora é sua capacidade de construir universos ricos em detalhes, que confundem a noção de ficção e realidade dos leitores. Seus romances se passam em épocas e contextos específicos, onde diversas referências culturais e históricas são apresentadas de maneira a dar sutis toques de vida aos seus personagens.
Taylor tem uma habilidade incontestável de construir protagonistas complexos, com histórias de vida cheias de bifurcações, dúvidas e erros. Ela sabe a maneira certa de explorar as nuances da personalidade de cada um, sem a intenção de torná-los heróis ou vilões.
Segundo a autora, sua intenção é sempre descrevê-los como seres humanos normais, tais quais as pessoas que os leem, apesar de serem, em sua maioria, retratos de pessoas famosas.
“Sempre fui atraída pelas pessoas que elevamos em uma sociedade. A fama nos diz muito sobre nossos desejos e demônios. As pessoas que canonizamos são um reflexo de nós mesmos e do nosso tempo. E, no entanto, eles ainda são seres humanos.
E pedimos-lhes que parecessem sobre-humanos para que possamos experimentá-los como queremos, não como realmente são. Há muita dor associada a isso. Para mim, não há nada mais conflitante do que a forma como construímos mulheres famosas, esperando que elas sejam melhores do que nós”.
A sensação comum entre os seguidores de Reid de que seus personagens são reais, pode ser considerada fruto de uma combinação de alguns fatores. A narrativa em primeira pessoa, detalhes quase biográficos e construção de universo detalhado, causam sensação de proximidade e entendimento da realidade do personagem.
As criações de Taylor Jenkins Reid são imersões em mundos complexos e muito bem trabalhados, onde a ficção se une com a realidade. Seus personagens inclinam o leitor ao questionamento da origem da fama, do amor e da identidade de grandes ícones.
Em cada novo lançamento, a autora consolida seu lugar como uma das vozes mais importantes da literatura contemporânea.