Lou: uma mulher à frente do seu tempo e vanguardista para o feminismo

Lou: uma mulher à frente do seu tempo e vanguardista para o feminismo

Sob direção da alemã Cordula Kablitz-Post, o filme intitulado Lou chegou às telonas brasileiras. A cinebiografia retrata a história de Lou Andreas-Salomé, filósofa, psicanalista e escritora russa que deixou uma vasta contribuição para a emancipação e libertação feminina no século XX, transgredindo convenções sociais, baseadas no patriarcado e direcionando um novo olhar para a condição do ser mulher.

Por meio de uma narrativa não linear, que não segue um tempo cronológico dos fatos, Lou, aos 72 anos, resolve escrever uma autobiografia, rememorando diferentes passagens de sua vida, desde a infância e seu convívio com o pai, até a juventude e vida adulta, quando conhece figuras famosas, como Paul Rée, Nietzsche, Rainer Maria Rilke e Freud, com as quais estabelece relações afetivas e de troca intelectual.

Embora a trama percorra o universo dos relacionamentos e conflitos entre Lou e os já citados intelectuais, o enredo se constrói a partir da ótica da personagem protagonista que se sobressai em meio a figuras masculinas, de características emocionais vulneráveis e dependentes. Portanto, há uma subversão da imagem da mulher tradicional: apêndice de um homem e fragilizada emocionalmente.

Pelo contrário, Lou transcende o arquétipo social e historicamente atribuído à natureza da mulher, circunscrito a um movimento de interiorização, ou seja, voltado para atender aos âmbitos da domesticidade, maternidade e sentimentalismo. Inicialmente, disposta a não se casar, Lou rejeita muitos pedidos de casamento, recusando-se a ceder a um modelo de sociedade tradicional e opressor para a humanidade e livre desenvolvimento da personalidade das mulheres.

Lou: uma mulher à frente do seu tempo e vanguardista para o feminismo

Leia também:
>> [CINEMA] Evolução: uma distopia feminina (crítica)
>> [CINEMA/LIVRO] Uma Dobra no Tempo: a fantástica jornada de uma garota
>> [CINEMA] Eu Não Sou uma Feiticeira: Bruxaria sob um olhar africano

Apesar do contexto social e cultural em que se desenrola o enredo, de 1861 a 1937, Lou Andreas-Salomé desafia o conservadorismo e patriarcado da época e da própria família, que lhe impõem um roteiro predeterminado sobre sua própria vida, em consonância com os padrões da mulher tradicional, erguendo sua voz contra as opressões do casamento e da mulher.

Mesmo contra a vontade da mãe que traçava um projeto de vida convencional para a filha; vez que a função social atribuída à condição feminina, na época, era ser esposa e mãe, Lou ousou e foi cursar Dogmática e História Geral da Religião sob uma perspectiva filosófica, Lógica e Metafísica em Zurique, sendo coagida a afastar-se dos estudos acadêmicos para tratar da saúde. Durante a recuperação da tuberculose a que esteve acometida, Lou foi para Roma, momento em que conheceu Paul Rée e Nietzche, formando com eles um grupo de estudo.

Aos 50 anos de idade, a filósofa e escritora adentra no universo da Psicanálise. Em 1911, Lou participou do III Congresso Psicoanalítico Internacional de Weimar, ocasião em que fora apresentada a Sigmund Freud.

Contemporânea à chamada primeira onda do feminismo, as obras de Lou romperam os estereótipos de um mundo interpretado segundo o olhar masculino, e defenderam a liberdade para as mulheres e a necessidade de autodeterminação para que elas alcançassem a condição de sujeitos de direitos e protagonistas de suas próprias vidas. Assim, durante toda sua vida e obra, Lou Andreas-Salomé lançou luz sobre novas ideias acerca do ser mulher em um mundo masculino.

Poema de Lou Andreas-Salomé

Ouse, ouse… ouse tudo!!

Não tenha necessidade de nada!
Não tente adequar sua vida a modelos,
nem queira você mesmo ser um modelo para ninguém.
Acredite: a vida lhe dará poucos presentes.
Se você quer uma vida, aprenda… a roubá-la!
Ouse, ouse tudo! Seja na vida o que você é, aconteça o que acontecer.
Não defenda nenhum princípio, mas algo de bem mais maravilhoso:
algo que está em nós e que queima como o fogo da vida!!

Escrito por:

18 Textos

Jornalista, pós-graduada em Comunicação, Semiótica e Linguagens Visuais, estudante de Direito, militante femimista, autora do livro A Árvore dos Frutos Proibidos, desenhista, cinéfila e eterna aprendiz na busca do aprender a ser.
Veja todos os textos
Follow Me :