[QUADRINHOS] “Desafiadores do Destino” e as pluralidades culturais e de significação

[QUADRINHOS] “Desafiadores do Destino” e as pluralidades culturais e de significação

Desafiadores do Destino: Disputa por Controle é um dos mais novos quadrinhos nacionais da editora AVEC, roteirizado por Felipe Castilho (A Ordem Vermelha), desenhado por Mauro Fodra (Soberanos, HQ autoral) e colorido por Mariane Gusmão (Reparos, de Brão Barbosa), cujos personagens foram criados por Marcelo Campos e Ronaldo Barata. No enredo, acompanha-se um grupo de guerreiros, das mais variadas etnias e personalidades, indo às Ilhas Falkland tentar dar um fim ao conflito entre os reinos de Lemúria e Atlântida, ao passo que memórias do passado de cada um são expostas e postas à prova.

Desafiadores do Destino

Na obra, diversos fatores que constroem a trama são muito interessantes, a começar pela pluralidade de personagens, bem como de suas respectivas etnias e personalidades. Felipe Castilho teve a permissão de Marcelo Campos e Ronaldo Barata para incluir os personagens destes em uma aventura para lá de emocionante e repleta de significados:

“(…) ele (Marcelo Campos) e Ronaldo Barata (autor de Sobrenatural Clube, diretor da Quanta e outro grande amigo) me contaram de alguns personagens que eles criaram há alguns anos para um projeto bem pulp aventuresco, mas que também homenagearia o espírito dos super-heróis que acompanharam a passagem do século vinte. Cara, era tudo muito interessante: enquanto eles me contavam, eu encontrava vestígios de Júlio Verne, Stevenson, H. G. Wells, Jack Kirby (principalmente o Quarteto Fantástico dele, que sei que é uma das paixões do Campos) e já estava completamente fisgado pelo conceito dos personagens.”

(Felipe Castilho)

Redhawk é um guerreiro indígena, Loberstein é um senhor cientista e extremamente inteligente, o qual constrói autômatos e, inclusive, tem seu cérebro implantado em uma de suas criações para que tenha sua memória preservada, Embaixador é o porta-voz dos tripulantes e descendente do povo Gorg, um filho de humanos nascido em Atlântida e com poderes especiais, Nay, nascida em uma tribo africana e Lune Lefevre, uma das guias e líderes do grupo, cujo corpo abriga o demônio Qandisa. Cada personagem tem sua história contada rapidamente, através de flashbacks ou de diálogos indiretos. E, por mais diferenças que possuam entre si, todos têm algo em comum: nasceram ou viveram lutando para serem exatamente do jeito que são.

Desafiadores do Destino

Desafiadores do Destino

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A ambientação evoca, também, lugares diferentes; ora estamos a bordo do Marine, um submarino repleto de tecnologias diferentes, que pode tanto navegar abaixo do nível do mar quanto acima dele, rumo às Ilhas Falkland, ora vamos para Atlântida através das lembranças do atlante, ou para Londres no momento em que todos foram recrutados para a missão pelo Quinteto, um conselho de anciãos.

A atmosfera mistura elementos dos gêneros steampunk, fantasia e aventura e é impossível não lembrar de histórias de super-heróis, como X-Men, ao vermos o grupo em ação e também pelas problemáticas individuais, como a questão do bullying sofrida pelo atlante ao longo da vida e pela história sofrida de Nay, que teve seu vilarejo dizimado quando ainda era pequena. Pautas políticas como a escravidão e exploração sofrida pelos gorgs, disputa por territórios que culminam em guerras e devastações e manipulação religiosa também são abordadas de forma explícita, propagando discussões importantíssimas.

Desafiadores do Destino

Desafiadores do Destino

Lune é uma personagem complexa e muito forte. Ela possui um grande destaque, motivação e importância em Desafiadores do Destino, sendo uma figura misteriosa e com um passado atemorizante. O fato de ter de ser o receptáculo para Qandisa diz muito sobre a personalidade feminina e a capacidade que temos de conseguir transformar sofrimentos, externos e internos, em um artifício para lutar constantemente pelo bem comum. Porém, a relação dela com Nay não é nada amigável: quase sempre, ao encontrarem-se no mesmo ambiente, as duas discutem e ameaçam uma a outra o que, em uma perspectiva da construção das duas personagens, acaba sendo muito tóxico. Nay é uma personagem igualmente forte e que não foi tão bem aproveitada na trama – ela poderia ter um arco só para ela e a história de seus antepassados, assim como Lune.

Desafiadores do Destino

O traço dos desenhos de Desafiadores do Destino: Disputa por Controle são bem trabalhados e, junto com as cores, transformam cada quadro em um deleite para os olhos das leitoras. O estilo relaciona-se muito bem com a pluralidade dos gêneros encontrados na obra, o que faz com que a leitora prestigie e aproveite ainda mais esta grande aventura!


Desafiadores do Destino

Desafiadores do Destino: Disputa por Controle

Autor: Felipe Castilho

Editora Avec

62 páginas

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117 Textos

Formada em Letras, pós-graduada em Produção Editorial, tradutora, revisora textual e fã incondicional de Neil Gaiman – e, parafraseando o que o próprio autor escreveu em O Oceano no Fim do Caminho, “vive nos livros mais do que em qualquer outro lugar”.
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