[SÉRIES] The Marvelous Mrs. Maisel – 2ª temporada: Entre o riso e a resistência

[SÉRIES] The Marvelous Mrs. Maisel – 2ª temporada: Entre o riso e a resistência

Em sua estratégia de se consolidar como maior concorrente da Netflix, a Amazon Prime Video vem preenchendo seu catálogo com diversas produções. Além de possuir séries como “The Office” e “Seinfeld”, o serviço de streaming impressiona atualmente com seus títulos originais, como “Transparent” e “Mozart in the Jungle”. Porém, foi com uma série de 8 episódios lançada em 2017 que a produtora alcançou a aclamação da crítica: “The Marvelous Mrs. Maisel“.

A série ganhou 5 Emmy Awards (melhor série cômica, roteiro, direção, atriz principal e coadjuvante) e foi um dos maiores barulhos da premiação nos últimos anos. Sem mencionar as indicações de outros prêmios importantes, como Globo de Ouro e o Critics Choice Award, os quais também faturou. Foi com toda essa expectativa que a segunda temporada de The Marvelous Mrs. Maisel estreou na Amazon Prime Video, em dezembro.

Criada por Amy Sherman-Palladino (da série “Gilmore Girls“), The Marvelous Mrs. Maisel narra a ascensão da humorista Miriam “Midge” Maisel (Rachel Brosnahan), em meio aos acontecimentos da vida de uma mulher desquitada, judia e rica no cenário de uma Nova Iorque dos anos 60. Em seu retorno, a série continua surpreendendo com seus personagens incrivelmente bem escritos, ponto pelo qual Amy Sherman é reconhecida desde Lorelai Gilmore.

NOVOS ARES

The Marvelous Mrs. Maisel

The Marvelous Mrs. Maisel amplia seus horizontes depois da aclamação do público: o cenário não se limita mais à paisagem nova-iorquina (do trajeto Gagslight para o apartamento no Upper West Side) e levam a história para diferentes caminhos: Paris, Catskills e diversas cidades americanas. E cada pequeno espaço tem situações muito peculiares e exclusivas, atravessando o contexto geral da temporada.

Talvez, por isso, o roteiro é cheio de eventos que são resolvidos mais facilmente do que na temporada anterior – é ainda mais cheio de surpresas que te tiram de um caminho linear. Apesar de um bom timing para a resolução dos problemas, alguns dos ganchos deixados para o próximo ano poderiam ter sido resolvidos ainda no último episódio. E outros que terminaram de maneira simplista poderiam levar mais tempo até terem a resolução.

O RISO EM MEIO À RESISTÊNCIA

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O caos, instaurado em sua vida quando Joel (Michael Zegen) a deixou na temporada passada, ainda é utilizado como material para seu show. Mas não é somente isso. Midge traz a plateia aos risos diversas vezes, contando casos da sua nova vida, e traz um dos melhores momentos da série quando revida insultos extremamente machistas, da maneira mais classuda possível numa apresentação. Um momento memorável, apesar de ser repreendida depois. 

Esse acontecimento fortalece o posicionamento de Midge, que começa a tomar conta de sua própria vida. Ela decide sair em turnê com todos os problemas de clubes estranhos, tem diversos momentos conturbados quanto à carreira… tudo ao lado de sua fiel escudeira, Susie. O relacionamento entre a personagem principal e a vivida por Alex Borstein ainda é o melhor da série e o que distribui mais risos, sem dúvida. É impressionante imaginar, numa época passada, duas mulheres tomando seu espaço num setor tão dominado por homens, inclusive nos dias atuais.

The Marvelous Mrs. Maisel

Mesmo como o turbilhão de força feminina que transparece dentro do palco e fora dele, a comediante ainda é amplamente atravessada pelo contexto que está inserida. E apesar de vermos por diversas vezes Midge com as rédeas de sua vida, estas são arrancadas por outros personagens. Sejam eles seus pais, Susie, Joel e até o novo interesse amoroso, Benjamin (Zachary Levi). O teor leve parece deixar as decisões mais simples nas mãos de outras pessoas, mas, ao fim, quem fica encarregada da grande escolha de sua vida é ela, e apenas ela.

SUA PLATEIA

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Além de Susie, outros personagens principais ganharam espaço interessante durante a 2ª temporada. Por vezes, até viraram o centro das atenções do episódio. Entre eles, os pais da protagonista mostraram um carisma inegável nessa temporada. Tanto Rose (Marin Hinkle) quanto Abe (Tony Shalhoub) são aprofundados e se revelam pessoas totalmente diferentes do esperado. Sem dúvidas, um dos pontos altos da série é notar o quanto a descoberta de Midge por si mesma acaba acarretando na descoberta de outros personagens.

Quase como um clichê das continuações de séries protagonizadas por mulheres, outro interesse amoroso é apresentado. Benjamin, protagonizado por Zachary Levy, é divertido, espirituoso e apoia a carreira da comediante, comparecendo em várias apresentações. Apesar de estar num relacionamento com ele, a vida de Midge continua fortemente ligada à de Joel. E apesar do esforço da série em transformá-lo num anti-herói, é difícil se esquecer do quão mimado e cansativo o personagem de Michael Zegen é.

The Marvelous Mrs. Maisel

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Por outro lado, os pais de Joel são tão inconvenientes que chegam a ser bruscamente cômicos. Os momentos da viagem à Catskills valem a pena por causa deles, sem dúvida. Já as cenas com o assustado e misterioso irmão de Midge, Noah (Will Brill), lhe deixam apreensiva e fazem entender que, talvez, toda a sua graça tenha se concentrado em sua irmã. A amizade com Lenny Bruce (Luke Kirby) é outro ponto de apoio muito interessante – poucas vezes podemos notar um homem na mesma profissão sendo tão receptivo e, com o que parece, não ter interesse ambíguo algum.

NEXT MARVELOUS ACT  (contém spoilers)

The Marvelous Mrs. Maisel

The Marvelous Mrs. Maisel desemboca em cliffhangers, ou ganchos, dignos de diversas expressões faciais. É o agridoce. 

Abe, o pai que parecia conservador, é excluído de seu projeto da faculdade onde leciona – por causa de uma piada de Midge – e por um momento parece que vai perder o rumo da vida, além de sua casa. E de repente nos é apresentado um jovem Abe revolucionário que reaparece num corpo mais velho. O que sairá do processo e das manifestações é de se esperar para ver.

Primeiro, temos o pedido de casamento de Benjamin – que parece ser bem recebido pela protagonista, apesar de não ser tão escolhido por ela e levar um certo tempo para que o pai dela “decida” se dá ou não a pretendida benção. É uma reviravolta, quando logo tudo isso é deixado para trás após uma oportunidade irrecusável para sua carreira.

Joel, que vive a vida boêmia, enquanto tenta equilibrar os negócios da família, é convocado para sanar os últimos desejos da – até então – senhora Maisel antes de partir. O fato deixa a entender que Midge ainda está em dúvida sobre a vida que deseja, mesmo proferindo bravamente que decidiu pela sua carreira. Nesse momento, e em seus flashbacks, percebemos o quão continua ligada à Midge de 18 episódios atrás; aquela que acordava cedo e ia dormir antes para fazer um ritual de beleza e seguia todos os padrões da mulher perfeita, a mesma que Joel deixou sem pestanejar, com duas crianças numa noite de ego ferido.

The Marvelous Mrs. Maisel

Apesar de seus problemas e suas inconstâncias, “The Marvelous Mrs. Maisel” continua consolidando Amy Sherman como a incrível roteirista que é. Rachel Brosnan dá seu show e também se consagra – parecendo cada vez mais acostumada na pele de comediante. A série continua trazendo diversos momentos incríveis e a sensação de “quero mais” é ainda maior do que na temporada anterior. 

O próximo passo parece trazer Midge grandiosa após uma turnê incrível, que provavelmente estará de coração partido e com material ainda mais vasto por essa razão. Sua evolução é notável, apesar de distinta, e parece que será ainda mais no ano seguinte, pois a história ainda é dela, além de ser incrível ver que os holofotes e as escolhas ainda estão em suas mãos.

Autora convidada: Leticia Rocha é estudante de jornalismo e paulistana. Com um pé no punk rock e outro em Taylor Swift. Mas com os dois pés, a cabeça e tudo o mais em cultura pop, ainda mais se estiver aliada a celebrar mulheres incríveis.

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