2ª temporada de “O Mundo Sombrio de Sabrina” é mais crítica, mais sinistra e melhor direcionada!

2ª temporada de “O Mundo Sombrio de Sabrina” é mais crítica, mais sinistra e melhor direcionada!

A nova temporada de “O Mundo Sombrio de Sabrina” estreou neste último dia 05 de abril e já encantou seus muitos fãs! Aqui no Delirium nós assistimos aos cinco primeiros episódios com acesso antecipado, e retornamos agora com um texto com spoilers sobre a temporada completa.

Na 2ª temporada, Sabrina (Kiernan Shipka) parece um tanto mais segura do que estava na primeira parte. Se foi algum efeito causado após ter assinado o livro do Senhor das Trevas ou se foi a maturidade, não sabemos dizer. Mas Sabrina parece reconhecer melhor seu lugar como filha de um bruxo e de uma humana. Parece, também, mais interessada em aprender sobre o mundo bruxo, a participar, percebendo que se as coisas continuarem nas mãos do Padre Blackwood (Richard Coyle) a academia vai regredir cada vez mais para um caminho de trevas e misoginia

Sabrina, inclusive, está muito mais atenciosa à essas questões. Quando Harvey (Ross Lynch) e Roz (Jaz Sinclair) decidem começar a sair, Sabrina consegue separar seus sentimentos conflitantes e apoiar a decisão. Algo interessante, visto que uma grande parte de obras voltadas ao público adolescente utiliza o recurso da intriga entre garotas causadas por um cara, para fazer com que o enredo funcione. A série não precisa disso para funcionar. Apesar da pequena desconfiança que surge contra Sabrina ao longo da temporada, quando Roz começa a ficar cega, – algo que já era previsto desde a primeira parte -, isso logo é deixado de lado quando Theo (Lachlan Watson) avisa aos amigos que Sabrina é uma boa pessoa.

O Mundo Sombrio de Sabrina
Sabrina e Roz. Imagem: Netflix/Divulgação

A história de Theo também é interessante. Susie sente que precisa ser chamado de Theo, e o debate da transexualidade, apesar de feito superficialmente, também está presente nesta temporada. As conversas com o pai de Theo, a entrada para o time de basquete masculino, sua entrada para o vestiário masculino, tudo isso torna um cenário interessante para o desenvolvimento do personagem. Poderia, realmente, terem tido mais conversas sobre a questão, ampliado o debate, mas foi tratado de forma razoável dentro das possibilidades. Aliás, Lachlan Watson, que vive Theo na série, se identifica como não-binário, e se identificava como transexual masculino dos 3 aos 15 anos. Em uma matéria do Buzzfeed, é dito que seu teste para o papel foi um monólogo sobre um personagem que se assumia transexual. Watson afirma que não passou pelos mesmos julgamentos de Susie, e de como a personagem foi importante para que ela se lembrasse das dificuldades de ser você mesmo nesse mundo. 

A grande luta de Sabrina nessa temporada, além do próprio Senhor das Trevas que aparece de carne e osso ao final da temporada, é a misoginia do Reino Bruxo. Desde a primeira temporada percebemos como as regras são machistas e conservadoras, presos em uma ideia antiga de submissão feminina que há muito deveria ser esquecida. Sabrina, que tentou fazer isso na primeira temporada, repete (dessa vez com sucesso) a briga. Entra de cabeça nas tentativas de contrariar Padre Blackwood, disputando poderes com ele diversas vezes durante a temporada.

Sabrina e o Senhor das Trevas. Imagem: Netflix/Divulgação
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Das maneiras mais simples até as maneiras mais complicadas, gerando suspensão e expulsão, Sabrina luta firmemente por aquilo que acredita. Padre Blackwood acaba representando tudo aquilo de pior que encontramos nos homens cis e conservadores do mundo real: acredita que todos devem se submeter à sua posição de poder, e almeja conquistar todas as posições acima dele. Além disso, mantém sua esposa submissa, pretende que suas filhas sejam todas inferiores a ele, e afirma que jamais abaixaria a cabeça para qualquer uma das Spellman, como se as mesmas não fossem boas o suficiente para o ameaçarem.

Sabrina
Father Blackwood. Imagem: Netflix/Divulgação

Ao assumir o controle da academia, após algumas mortes e situações inesperadas, percebemos como Blackwood consegue ter uma mente atrasada, e até mesmo as Weird Sisters, principalmente Prudence (Tati Gabrielle), acabam ficando contra ele. 

Lilith (Michelle Gomez) acaba sofrendo bastante durante a série. Percebemos a posição em que ela se encontra e como deseja desesperadamente sair de tamanha humilhação, mas jogar contra o Senhor das Trevas é complicado. E, quando ele acaba descobrindo seus planos, tudo vai por água abaixo. Porém, é outra mulher que se recupera das garras de um homem absurdo (o que tem de monte nessa temporada, inclusive), e consegue encontrar o que almeja e tanto espera: a coroa do submundo. 

Sabrina

Essa temporada de Sabrina parece realmente mais madura, lida com temas mais interessantes e parece melhor trabalhada. Mesmo o relacionamento de Sabrina com Nick (Gavin Leatherwood) não incomoda, pois parece natural. Roz e Harvey acabam formando um casal interessante também. Tem ótimos episódios e decisões melhores que a primeira parte.

Sabrina permanece sendo um pouco ingênua, mas parece ser parte da personagem, essa coisa da salvadora, de quem continua acreditando e perseguindo aquilo que pensa ser o certo — o que faz com que ela acabe parecendo cabeça dura, teimosa, e mimada as vezes. Mas Sabrina acaba representando, também, algo importante: ela não desiste fácil. Apesar de quase sempre colocar todos em perigo, o que demonstra pouquíssima responsabilidade, Sabrina quer ajudar, e na maioria das vezes ela ajuda. 

Infelizmente, por outro lado, acho que podemos desistir das esperanças de que, em algum momento, Salém fale. Não foi dessa vez, de novo.

Gif: Chilling Adventures of Sabrina (Giphy/reprodução)

A nova temporada de “O Mundo Sombrio de Sabrina” pode ser vista no serviço de streaming Netflix


Edição realizada por Isabelle Simões.

Escrito por:

52 Textos

Formada em História, escreve e pesquisa sobre terror. Tem um afeto especial por filmes dos anos 1980, vampiros do século XIX e ler tomando um café quentinho.
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