Pedro (Marco Nanini) é um enfermeiro solitário que está prestes a perder sua melhor amiga Daniela (Denise Weinberg) para uma doença grave. Quando ela precisa ser internada, mas não existem leitos disponíveis, Pedro ajuda um outro paciente, Jean (Démick Lopes), a fugir do hospital. Por ser procurado pela polícia, Jean precisa de um lugar para se esconder, e Pedro o acolhe em sua casa por um tempo. A partir daí, se desenrola um relacionamento afetivo e complicado entre os dois.
“Greta” é sobre a solidão dos marginalizados. Homossexual e idoso, Pedro está perdendo as poucas pessoas queridas que tem na vida. Quando pergunta a Daniela porque ela tem de ir embora, ela sempre responde “pra você aprender a viver sozinho”. Dessa forma, o sexo funciona para ele mais como um momento de carinho efêmero do que qualquer outra coisa.
Essas cenas, filmadas de forma naturalista e sem tabus, exibindo nus frontais, são as melhores do filme. Uma em especial, numa sauna, representa bem o estado emocional de Pedro durante todo o filme, onde ele não sabe se goza ou se chora.

No entanto, é uma pena que “Greta” não tenha uma melhor estrutura narrativa. Por vezes, parece manter resquícios de um estilo teatral, já que foi inspirado na famosa peça: “Greta Garbo, Quem Diria, Acabou no Irajá”.
Na coletiva de imprensa que ocorreu nesta última segunda-feira (30) no Petra Belas Artes em São Paulo, o diretor Armando Praça disse que considerava o tom cômico da peça original anacrônico, e que incomodava o modo como a plateia era convidada a rir dos personagens, que representavam caricaturas e estereótipos do mundo LGBTQ+. Armando, então, resolveu adaptar o filme como um drama, o que parece uma escolha bastante adequada, tanto para evocar maior seriedade do tema, quanto para refletir o espírito de desesperança e desamparo geral dos tempos atuais.
Mas a falta de uma maior coesão narrativa prejudica o envolvimento com a história e os personagens, lembrando as escolhas estruturais que costumam aparecer em filmes mais experimentais. Só que a estética de “Greta“, infelizmente, também não compensa essa falta de coesão narrativa, apostando numa câmera estática, claustrofóbica, e naturalista, que, embora emule de certa forma como o protagonista se sente, também desperta pouco prazer visual.
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O pior aspecto de “Greta“, surpreendentemente, são as atuações. Com exceção de Denise Weinberg, que consegue permanecer mais natural, todos os atores estão robóticos, até mesmo Marco Nanini. A todo momento soltam frases de forma artificial, entregando suas falas como se estivessem lendo o texto pela primeira vez em um ensaio. Esse é sem dúvida o aspecto que mais pode tirar a plateia do filme.
“Greta“, entretanto, se torna um veículo político nos tempos atuais apenas pelo seu tema. Já na mira de tentativas de boicote do governo, é triste constatar que há pouco tempo, quando estava em desenvolvimento, o filme nasceu em um ambiente muito mais livre e desprovido de censura, como afirma Nanini. Além de qualquer mérito artístico, produtos culturais com esses temas são mais necessários do que nunca como fonte de resistência.
O filme estreia dia 10 de outubro nos cinemas.