O Mundo Sombrio de Sabrina – Parte 4: o ciclo chega ao fim

O Mundo Sombrio de Sabrina – Parte 4: o ciclo chega ao fim

Com estreia no dia 31 de dezembro de 2020, a última temporada de O Mundo Sombrio de Sabrina está despertando emoções distintas entre o público. Há quem diga que vai sentir saudade e há quem diga que foi perda de tempo.

Os oito episódios foram pouco para dar conta de finalizar a série desenvolvida por Roberto Aguirre-Sacasa, que foi cancelada no início do ano passado, tendo em vista que os vilões principais da temporada seriam exatamente oito e além de derrotá-los seria necessário encerrar o ciclo das personagens. 

AVISO: o texto abaixo contém spoilers da 4ª temporada de O Mundo Sombrio de Sabrina

Os terrores sobrenaturais e a solidão

Depois de ter adquirido a Marca de Caim e se tornar imortal, Faustus Blackwood (Richard Coyle), obstinado a acabar com a vida de Sabrina (Kiernan Shipka) e das bruxas que o renegaram, deu início à libertação do Vazio nesta temporada. Agora, fundou sua própria igreja com auxílio de Agatha (Adeline Rudolph) e Miss Wardell (Michelle Gomez) e aguarda a vinda dos Terrores Sobrenaturais, criaturas imortais e praticamente invencíveis que representam o horror encarnado e servem ao Vazio, uma espécie de entidade que vai acabar com a Terra se não for impedida.

Faustus Blackwood (Richard Coyle) com um dos terrores sobrenaturais.
Faustus Blackwood (Richard Coyle) com um dos terrores sobrenaturais. (Foto: Netflix/reprodução)

Atrelado à chegada dos Terrores, a série aborda principalmente a solidão de Sabrina, que passou as outras temporadas acostumada a ser o centro das atenções e dos conflitos. Além de estar solteira, a garota encontra-se bastante afastada dos amigos e até mesmo das tias.

A princípio, por se tratar de uma série adolescente, é interessante observar como as tentativas de Sabrina de preencher esse vazio são retratadas na última temporada, afinal, ela chega até a criar um namorado perfeito. No entanto, a mensagem transmitida ao público é a de que não é com um relacionamento que a jovem bruxa deveria lidar com suas angústias.

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Ademais, no fim da 3ª temporada – e sem muitas explicações lógicas – temos duas Sabrinas: a Spellman e a Morning Star, e a divisão continua nesta 4ª parte. Sabrina Spellman, porém, sempre foi uma adolescente destemida que dava um jeito de fazer tudo o que entendesse como certo. Contudo, finalmente ela percebe que não pode ter tudo o que quer e em seguida passa a questionar sobre sua decisão de ter escolhido Greendale à Pandemônio, já que Sabrina Morning Star reina no inferno feliz e apaixonada e ela está passando por um momento bastante solitário.

Sabrina e Caliban em uma festa no Inferno na parte final de "O Mundo Sombrio de Sabrina".
Sabrina e Caliban em uma festa no Inferno. (Foto: Netflix/reprodução)

Além do romance dos amigos manterem-nas mais distantes, a meia bruxa meia mortal se depara com a negação de ambos os pais ao longo dos episódios. Aliás, toda essa frustração deixa a trama adolescente interessante, afinal, sabemos que essa fase da vida é complicada, pois Sabrina não é nem criança nem adulta, além de não estar totalmente preparada para lidar com conflitos internos e angústias sozinha.

Esta temporada mantém Sabrina no lugar que a jovem sempre ocupou: capaz de fazer tudo o que for preciso para salvar quem ama (família, amigos, seu Coven, enfim, o mundo). É um desfecho digno, mesmo que um tanto apressado, ver a protagonista dar a vida para derrotar algo que acabaria com tudo o que ela entende como precioso.

As duas Sabrinas lutando contra um dos terrores sobrenaturais.
As duas Sabrinas lutando contra um dos terrores sobrenaturais. (Foto: Netflix/reprodução)

Easter Eggs e pontos fracos da 4ª temporada de O Mundo Sombrio de Sabrina

A série, que teria mais uma temporada se não fosse cancelada, acaba correndo com algumas cenas. Primeiro, poderia ter trabalhado melhor algumas questões, como a própria inspiração em H.P. Lovecraft para a criação dos terrores sobrenaturais; a maternidade de Lilith (Michelle Gomez); a relação de Zelda (Miranda Otto) e Mambo Marie (Skye Marshall) e o desfecho da personagem, que fica um tanto confuso; a volta de Nick (Gavin Leatherwood) e Spellman; e o casamento de Morning Star com Caliban (Sam Corlett).

Segundo, os personagens secundários são pouco desenvolvidos. Os amigos de Greendale, que tiveram um caminho bem mais interessante traçado ao longo da série, agora se reduzem a pares românticos. Robin (Jonathan Whitesell) e Theo (Lachlan Watson) se deparam com uma possível dificuldade no relacionamento, mas rapidamente a resolvem; Harvey (Ross Lynch) tem seu ponto alto no episódio em que Blackwood se torna um líder fascista em Greendale graças a um dos terrores sobrenaturais; e a que mais se destaca é Roz (Jaz Sinclair), a qual finalmente se entende e se declara como bruxa, usando seu terceiro olho para ajudar na proteção do Coven e de Greendale.

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Mas a temporada de despedida também tem um grande presente pra quem acompanhava a primeira série baseada na história da bruxinha adolescente: o penúltimo episódio se passa na sitcom dos anos 1990, “Sabrina, Aprendiz de Feiticeira” (1996-2003), com direito à participação especial de Caroline Rhea e Beth Broderick. O set se trata de um universo paralelo para onde Sabrina Morning Star é enviada para lutar contra o Vazio e o Infindável, interpretado por Salem, o gato de pelúcia que finalmente falou com um ar de deboche supremo.

As tias de Sabrina. Foto: Netflix
As tias de Sabrina. (Foto: Netflix/divulgação)

De qualquer forma, os efeitos visuais continuam sustentando grande parte da série, impecáveis e com uma fotografia voltada ao folk horror que não deixa a desejar, além das referências ao horror clássico que nos foram entregues desde o início da história.

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Bem como, temos outras referências nesta temporada. Além de Riverdale, temos The Good Place, O conto da Aia, A Noviça Rebelde, Operação Cupido e até mesmo Alien. Particularmente, a cena das duas Sabrinas dançando no quarto ao som de Dancing With Myself, música de Billy Idol, foi uma das minhas preferidas.

O 17º aniversário de Sabrina.
O 17º aniversário. (Foto: Netflix/reprodução)

Em seu aniversário de 17 anos, Sabrina se despede de suas tias e do público, deixando alguma esperança do retorno ou crossover com Riverdale e de uma conclusão mais elaborada nos quadrinhos, que estão sendo traduzidos e publicados no Brasil pela editora Geektopia. Sua morte, no entanto, é emocionante, ainda mais com uso do recurso de feedbacks das temporadas anteriores.

A cena final infelizmente quebra a crítica feita anteriormente, de que não é através de um relacionamento que uma adolescente deve resolver seus problemas, já que tudo dá a entender que Nick havia se suicidado para ficar ao lado de sua amada por toda a eternidade. Nabrina, como o casal foi apelidado, acaba se tornando um relacionamento forçado ao longo da temporada para que isso aconteça.

Mesmo com as confusões e correrias no roteiro, O Mundo Sombrio de Sabrina é uma série carismática e divertida, com ótimos elementos visuais e mitológicos que cumpre seu papel ao levar ao público adolescente questões que abordam feminismo e sexualidade de modo empático e compreensível.


Revisão realizada por Gabriela Prado.

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Psicóloga, mestranda e pesquisadora na área de gênero e representação feminina. Riot grrrl, amante de terror, sci-fi e quadrinhos, baterista e antifascista.
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