Com o objetivo de divulgar e enaltecer o Brasil leitor, o Delirium Nerd apresentará clubes de leitura espalhados pelo país. O primeiro dessa edição será o Quinta Página, clube criado na região Norte do país, na capital amazonense, Manaus.
Nascido da forma clássica, o clube de leitura Quinta Página surgiu da vontade de duas amigas, Jéssica Hellen e Isabelle Cardoso, para elas conversarem a respeito de suas leituras favoritas. Idealizado em 26 de setembro de 2018, o clube teve seu primeiro encontro no dia 4 de outubro daquele mesmo ano.
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Inicialmente, começou com um grupo pequeno de amigos. Mas após três anos, o clube Quinta Página cresceu e se tornou um dos principais de Manaus, contando com o apoio das redes de comunicação da cidade e do governo do estado.
O funcionamento do Quinta Página
O clube foi nomeado como Quinta Página a partir das características essenciais do clube: quinta refere-se ao dia da semana que os encontros ocorrem mensalmente, e página faz referência à raiz do clube: os livros!
A dinâmica da leitura se estrutura dessa maneira: são duas leituras mensais. A partir disso, são feitas duas listas, uma com países – a fim de dar uma volta ao mundo literária – e a outra com os “temas” – romance, young-adult, não ficção, filosofia, contos, biografias e muito mais. Assim, cada membro do clube sugere um título para cada tema e o sorteio é feito.
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Na segunda quinta-feira de cada mês, o grupo se reúne em algum café da cidade, comem e iniciam o seu debate; quem sugeriu a leitura, inicia a conversa com a introdução – ou ficha técnica – da história e a discussão ganha vida.
A influência do clube de leitura
O clube Quinta Página já saiu em alguns portais da cidade divulgando seus encontros e também foram feitas algumas campanhas (como do Setembro Amarelo no encontro de setembro de 2021) e projetos feitos juntos dos membros (como a doação de livros para instituições de caridade manauaras no correr dos anos de atividade do grupo).
Com a pandemia, o grupo teve de se adaptar aos meios virtuais de encontros. O que pôde soar desafiador para todas as pessoas do mundo, o clube conseguiu se adaptar com louvor. Inclusive, trazendo membros que, por diversas razões, já não moram em Manaus de volta aos encontros.

Além do apoio midiático e do governo, o clube já contou com a presença de alguns autores locais e nacionais, entre eles: Jotabê Medeiros, autor da biografia do Belchior, “Belchior: apenas um rapaz latino-americano”, Ernesto Moamba, autor da “Liberta-te, mãe África” e Myriam Scotti, poetisa amazonense e autora do livro (o qual foi discutido), “A língua que enlaça também fere”.
Abaixo, veja algumas das leituras favoritas dos membros do clube:
Da poesia, Hilda Hilst

Sinopse: A intensa e prolífica atividade literária de Hilda Hilst se desdobrou em livros de ficção e em peças de teatro, mas foi na poesia que ela deu início e fim à sua carreira. Ao longo de 45 anos, entre 1950 e 1995, a poeta publicou em pequenas tiragens graças ao entusiasmo de editoras independentes ― com destaque para Massao Ohno, seu amigo e principal divulgador. No início dos anos 2000, os títulos de Hilda passaram a ser publicados pela Globo, editora com ampla distribuição. Nessa época, a sua escrita, até então considerada marginal e hermética, começou a receber o interesse de uma legião de leitores e estudiosos.
A poesia de Hilda ― que ganha forma em cantigas, baladas, sonetos e poemas de verso livre ― explora a morte, a solidão, o amor erótico, a loucura e o misticismo. Ao fundir o sagrado e o profano, a poeta se firmou como uma das vozes mais transgressoras da literatura brasileira do século XX. (Crédito: Companhia das Letras | Via: Amazon)
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Eu ouviria as piores notícias dos seus lindos lábios, Moacyr Scliar

Sinopse: No momento em que começa a narrar os fatos de Eu receberia as piores notícias dos seus lindos lábios, o fotógrafo Cauby está convalescendo de um trauma numa pensão barata, numa cidade do Pará prestes a ser palco de uma nova corrida do ouro. Sua voz é impregnada da experiência de quem aprendeu todas as regras de sobrevivência no submundo – mas não é do ambiente hostil ao seu redor que ele está falando. O motivo de sua descida ao inferno é Lavínia, a misteriosa e sedutora mulher de Ernani, um pastor evangélico.
A trajetória do fotógrafo, dado a premonições e a um humor desencantado, vai sendo explicada por meio de pistas: a história de Chang, fotógrafo morto num escândalo de pedofilia; o mistério de Viktor Laurence, jornalista local que prepara uma vingança silenciosa; a vida de Ernani, que tirou Lavínia das ruas e das drogas no passado. Mesmo diante de todos os riscos, Cauby decide cumprir seu destino com o fatalismo dos personagens trágicos. “Nunca acreditei no diabo”, diz ele. “Apenas em pessoas seduzidas pelo mal.” (Via: Amazon)
Todas as cores do céu, Amita Trasi

Sinopse: Aos 10 anos, Mukta é forçada a seguir um ritual de sua casta que, essencialmente, torna-a prostituta. Para salvá-la deste horrível destino, um homem a resgata e lhe dá um lar. Tara, filha dele, cria um laço especial com a criança recém-chegada – um vínculo digno de irmãs. A amizade sofre um baque definitivo, entretanto, quando Mukta é sequestrada.
Anos depois, vivendo nos Estados Unidos, Tara retorna à Índia para encontrar a amiga que, ao que tudo indica, foi submetida novamente à prostituição. Mas a extrema pobreza em Mumbai se mostra uma realidade mais difícil do que Tara consegue suportar.
Relato emocionante e realista da Índia contemporânea, “Todas as cores do céu” mostra como o sistema de castas explora os mais fracos, e como o amor nos faz buscar a reparação para nossos atos mais horríveis, vencendo barreiras impenetráveis. (Crédito: TAG)
Lavoura arcaica, Raduan Nassar

Sinopse: Lavoura arcaica é um texto em que se entrelaçam o novelesco e o lírico, por meio de um narrador em primeira pessoa – André, o filho encarregado de revelar o avesso de sua própria imagem e, conseqüentemente, o avesso da imagem da família. É sobretudo uma aventura com a linguagem: além de fundar a narrativa, a linguagem é também o instrumento que, com seu rigor, desorganiza um outro rigor, o das verdades pensadas como irremovíveis. Lançado em dezembro de 1975, Lavoura arcaica foi imediatamente considerado um clássico, “uma revelação, dessas que marcam a história da nossa prosa narrativa”, segundo o professor e crítico Alfredo Bosi.
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Histórias lindas de morrer, Ana Claudia Quintana Arantes

Sinopse: Uma das principais vozes na tentativa de quebrar o tabu sobre a morte no Brasil, ela nos traz uma coleção de emocionantes histórias reais colhidas em sua prática diária, em que a proximidade do fim nos revela em toda a nossa profundidade.
Ana Claudia exerce uma medicina que dá aos sentimentos e à história dos pacientes a mesma atenção que dedica aos sintomas e desconfortos físicos. Mas como será, no dia a dia, alcançar as camadas mais profundas das pessoas justo antes de elas partirem?
Com momentos tocantes, tensos e também divertidos, estas histórias nos relembram a importância das relações humanas e do respeito ao outro. O medo da morte é o medo do não vivido, mas nunca é tarde para se envolver com a própria história.
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