Star Wars: a religião por trás da Força

Star Wars: a religião por trás da Força

No dia 4 de maio, os fãs de uma das maiores sagas da ficção científica se reúnem para celebrar o universo de Guerra nas Estrelas (Star Wars). A icônica frase “Que a Força esteja com você” é usada não apenas como um mantra para os personagens, mas também como um lembrete do caráter religioso da Força dentro do universo da saga.

Em seu idioma original, “May the force be with you” se assemelha a “May the Fourth” (quatro de maio), dando origem a uma interpretação popular entre os fãs. Essa curiosidade linguística não só fortaleceu o vínculo entre a data e a franquia, mas também estabeleceu o dia como uma ocasião especial para o fandom de Star Wars em todo o mundo.

Ao criar este universo, George Lucas se inspirou em todos os tipos de artes e acontecimentos reais, desde os filmes de samurai de Akira Kurosawa até os reinados de vários ditadores ao longo da história. Como a franquia gira em torno das batalhas entre Jedi e Sith (o famoso bem contra o mal), notamos diversas alusões religiosas nas obras.

Assim, para comemorar a data especial, vamos analisar alguns pontos desses importantes temas religiosos que sustentam a franquia de Guerra nas Estrelas, abrangendo especificamente o cristianismo, taoísmo e budismo.

This is the Way: o taoísmo em Guerra nas Estrelas

“A Força é o que dá ao Jedi seu poder. É um campo de energia criado por todas as coisas vivas. Ela nos cerca e nos penetra e une toda a Galáxia.”

Obi-wan Kenobi

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A filosofia dos Jedi compartilha muitos paralelos com o Taoísmo. Em O Império Contra-Ataca, o Mestre Yoda declara: “Um Jedi usa a Força para adquirir conhecimento e para defesa, nunca para o ataque”, sendo que este princípio de utilizar habilidades marciais apenas na autodefesa é um dos lemas centrais da grande maioria das artes marciais do Oriente.

No mesmo filme, quando Luke Skywalker (Mark Hamill) duvida da Força, Yoda o repreende: “O tamanho não importa. Olhe para mim. Julga-me pelo meu tamanho? E não deve, pois a Força é minha aliada. Uma poderosa aliada“. Esse ensinamento reflete um princípio básico da estratégia: nunca subestime alguém, independentemente de sua aparência física, pois a verdadeira força reside no interior de cada ser.

Força cósmica

A compreensão dos Jedi em relação à Força vai além, como continua Yoda: “A vida a cria, a faz crescer. Sua energia nos cerca e nos conecta. Somos seres de luz, não de matéria. Precisa sentir a Força ao seu redor, entre nós, na árvore, na pedra, em tudo“.

O Taoísmo ensina que tudo é permeado pelo Qi, uma força cósmica que criou e permeia o universo, fluindo através de todas as coisas e dando origem às manifestações visíveis do todo.

Obi-Wan Kenobi (Ewan Mcgregor) começa o treinamento de Luke explicando a natureza da Força e como ela funciona. Em seguida, ele o instrui no uso do sabre de luz, com técnicas muito semelhantes às da espada Samurai. Luke é orientado a confiar em seus sentimentos em vez de depender apenas de seus próprios olhos, pois o uso da espada deve ser guiado pelo espírito, não pela mente.

O verdadeiro combate não é com a arma em si, mas com o Qi, e, consequentemente, com o universo em sua totalidade.

Atenção plena e desapego: o budismo em Star Wars

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No budismo, a prática da atenção plena é considerada um caminho para purificar a mente de discriminações e conceitos, levando a um estágio de percepção pré-conceitual. Essa abordagem é paralela à perspectiva Jedi: ao aplicar a atenção plena, os Jedi acessam os recantos mais profundos de suas mentes, permitindo conectar-se com a Força.

À medida que os Jedi se conectam com a Força, as distrações são eliminadas, concedendo a eles habilidades especiais e uma vantagem sobre aqueles desprovidos dessa conexão. Nos filmes, é evidente que as práticas meditativas são uma parte essencial da vida na Ordem Jedi, com técnicas que lembram posturas de ioga e exercícios de controle da respiração.

Pratītyasamutpāda, uma doutrina budista, afirma uma interconexão entre todos os seres. Quando um ser deixa de existir, outros também desaparecem, ou seja, eles coexistem em um fino tecido de relações. Em paralelo a isso, os Jedi acreditam que tudo está interligado pela Força e, através da atenção plena, podem perceber essas conexões sutis.

A Força dá aos Jedi acesso a algo maior. Ela os torna mais poderosos, mas também os conecta a tudo o que existe, tanto os aspectos negativos quanto positivos.

Outro elemento fundamental do ensinamento Jedi é a filosofia do desapego: o apego a algo é visto como fonte de sofrimento. Os Jedi buscam aceitar a dor como parte inevitável da existência, encontrando nela uma fonte de crescimento e virtude.

Este tema é recorrente em Star Wars, especialmente na Saga Skywalker, na qual Anakin (Hayden Christensen) se torna Darth Vader — o garoto-propaganda do lado negro da Força — e outros personagens, como Obi-Wan Kenobi, também vivenciam o sofrimento, mas encontram novos caminhos de virtude lúcida — o caminho budista.

Jesus Jedi e a nova esperança: o cristianismo em Guerra nas Estrelas

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Há alguns paralelos entre os filmes de Star Wars que fazem alusões cristãs, mas a de destaque é a luta constante entre os Jedi e os Sith que pode ser vista, essencialmente, como uma guerra santa.

Na trilogia prequel, quando Qui-Gon Jinn (Liam Neeson) conhece Anakin Skywalker em A Ameaça Fantasma, ele se convence de que a criança é o “Escolhido” que foi profetizado para trazer equilíbrio à Força. A ideia de um “Escolhido” é muito semelhante ao conceito religioso de um “messias”, ou seja, com a figura de Jesus Cristo na Bíblia Sagrada.

Já no início do primeiro filme da trilogia original, Han Solo é cético em acreditar nas crenças religiosas de Luke e Obi-Wan. Ele diz a Luke:

Garoto, voei de um lado a outro desta galáxia. Já vi muitas coisas estranhas, mas nunca vi nada que me fizesse acreditar que existe uma Força todo-poderosa controlando tudo.” 

No entanto, ao final do mesmo filme, Han passa a acreditar na Força e ao longo do resto da trilogia, ele costuma dizer a Luke: “Que a Força esteja com você”. Assim como diversas histórias da Bíblia de pessoas que duvidaram de Deus e passam a vê-lo como seu único Salvador.

No mesmo filme de 1977, Obi-Wan Kenobi sacrifica sua vida para permitir a fuga de seus amigos. O sacrifício de seu corpo terrestre permite que ele se comunique espiritualmente, através da Força, com Luke Skywalker. Obi-Wan torna-se uma analogia ao Espírito Santo, oferecendo conselhos e coragem nos momentos importantes e mais vulneráveis.

A ressurreição em Star Wars

A ressurreição também é um elemento-chave do Cristianismo, pois Jesus ressuscitou três dias após ser crucificado. Há um monte de outras ressurreições e/ou mortes recontadas em toda a franquia de Star Wars, como de Kylo Ren, Rey, Boba Fett, Palpatine, Darth Maul e possivelmente Mace Windu.

No geral, Star Wars é uma biblioteca de histórias sobre renascimento: o renascimento de Anakin para Darth Vader, de Luke Skywalker, um fazendeiro perdido, para um Jedi focado, de Han Solo, o maior ladrão da galáxia, para um herói, o renascimento do FN-2187 para Finn, Ben Skywalker para Kylo Ren e a lista só continua.

Mas talvez a grande história de renascimento – aquela que impulsiona e alimenta todas as outras histórias de renascimento da franquia – seja o renascimento da galáxia. O arco dos filmes move a galáxia de uma existência quebrada e corrupta para um tempo de escuridão e luta e, então, para um renascimento esperançoso e mais idealista.

Referências:

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Escritora, estudante de jornalismo e leitora voraz de fanfics. Assiste filmes, séries e shippa casais gays mais do que deveria. Parece fria e séria, mas já chorou escrevendo sobre Sherlock Holmes e John Watson na internet.
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