[SÉRIES] Game of Thrones – 7×01: Dragonstone (Resenha)

[SÉRIES] Game of Thrones – 7×01: Dragonstone (Resenha)

No domingo (16), Game of Thrones, série da HBO, retornou para a sua sétima e penúltima temporada. O episódio, que traz consigo a carga do fim próximo da série, pode não ter sido marcante por grandes batalhas, mas impactou os fãs que há muito aguardavam o retorno. É certo que o episódio serviu ao propósito de situar os personagens e mostrar que todos estão determinados a alcançar seus objetivos. E revelou que as mulheres exercerão importante papel no cenário da guerra pelo trono, apesar de todos os clichês de cunho machista já reproduzidos no decorrer da adaptação.

A sexta temporada finalizou com eventos marcantes, tais como o fogo vivo de Cersei (Lena Headey), o exército de White Walkers, a retomada de Winterfell por Jon Snow (Kit Harrington) e Sansa (Sophie Turner) – afinal, sem ela, Jon Snow não teria recebido auxílio de Littlefinger (Aidan Gillen) – e a vinda de Daenerys (Emilia Clarke) a Westeros, bem como sua aliança com as casas Martell, Tyrell e Greyjoy – todas representadas por mulheres.

A primeira cena da nova temporada pertence com louvor a Arya (Maisie Williams), como um prelúdio de que os Stark finalmente estão contra-atacando. A personagem iniciou a série como uma das mais fortes do gênero. Rebelde, Arya não aceitava que seu destino fosse ser uma dama com hábitos e modos limitados pelas convenções. No decorrer da série, contudo, pareceu haver uma perda da personagem. A insistência e a rebeldia, muitas vezes manifestavam-se de forma cega. Seu processo foi diferentes dos demais personagens. Distante dos combates principais e sozinha, Arya olhou para si e teve que enfrentar suas diversas faces antes de se entregar ao jogo.

Game of Thrones - 7x01

Mais amadurecida, embora ainda muito jovem para o papel que desempenha, ela vinga sua família pelo episódio do Casamento Vermelho. Arya, na cena, representa tudo o que jamais diriam dela. Uma criança transformada pelo mundo numa assassina e, acima de tudo, uma menina capaz de matar homens que duvidariam e debochariam de sua capacidade caso lhes fosse contado, como ocorreu em diversos momentos da série. Parada diante dos corpos de suas vítimas, acompanhada por mulheres que como ela foram de algum modo vítimas da opressão – impossível ignorar o modo abusivo com que Walder Frey (David Bradley) tratava as mulheres -, muito embora nada tivessem a ver com o ocorrido, ela mesma parece ignorar o alcance de sua força. Pequena e mulher, olha para os grandes homens não com a face de vitória arrogante com a qual eles costumam olhar, mas com a seriedade de quem finalmente começa um processo há muito planejado.

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Em Winterfell, Jon Snow e Sansa enfrentam as formalidades de um novo “reinado”. Reconhecido como Rei do Norte, Jon busca aliados na futura luta contra o exército de White Walkers que se encaminha à muralha. Entre os aliados está a pequena Lyanna Mormont (Bella Ramsay), que, como Arya, desde jovem demonstra ter enorme força. Destaque já no final da sexta temporada, Lyanna, embora ainda criança, demonstra mais maturidade que os homens com quem convive, uma maturidade desenvolvida pelas condições de sua vida, por óbvio, mas um contraste ao constante descrédito que se dá às mulheres. Lyanna Mormont, com suas falas que viralizam, parece ser um meio termo entre as irmãs Stark. Fala abertamente como Arya, mas desenvolve um jogo político como Sansa.

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Sobre Sansa, uma das personagens que mais cresceu durante a produção, enganam-se aqueles que subestimam a capacidade da irmã, que um dia foi considerada apenas bela e tola, movida por sonhos de contos de fada. Enquanto Jon Snow enxerga apenas a ameaça do exército de White Walkers, Sansa observa as estratégias políticas. Por vezes parece estar dividida entre aceitar o “meio-irmão” como Rei, ignorando ser a herdeira legítima de Winterfell, e desejar ser reconhecida como tal. Por vezes, também parece estar dividida entre jogar com Littlefinger ou se deixar ser uma peça no jogo dele. Espera-se que depois de conviver com tantos homens que a usaram em jogos de poder – Joffrey (jack Gleeson) e Ramsay Snow (Iwan Rheon) -, Sansa se posicione como uma mulher dotada de poder próprio e lute pelas causas que verdadeiramente deseja.

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As ameaças são externas também em Porto Real. Depois de se livrar da oposição religiosa com o fogo vivo e de encarar o suicídio do filho, o Rei Tommen Baratheon (Dean-Charles Chapman), Cersei assume o trono que por tantos anos desejou. Encara finalmente a posição de poder que lhe foi negada pelo sexo. Porém, como muitas mulheres, alcança a posição em solidão, como se o sucesso feminino fosse incompatível com a presença de outras pessoas.

Assim como nas descrições dos livros, Cersei é desenvolvida em um progresso de insanidade, entregando-se aos vícios e às ambições irracionais. Apesar de todo o ódio que se pode gerar pela personagem, reconhecida como uma das vilãs da história, não se pode deixar de pensar que Cersei é o retrato da mulher que tem que escolher o sucesso em detrimento da família. Cersei foi entregue como esposa a um homem que não amava e que não a amava, um homem que a traía, esnobava e subestimava do mesmo modo que fizera seu pai. Amava seu filhos, mas ter filhos não nunca fora seu único objetivo. Nunca foi a figura materna de Catelyn Stark (Michelle Fairley), embora sempre tenha deixado claro o amor que nutria por eles. E por querer mais, pagou com a vida de seus três filhos e encontrou a solidão. Agora encara a ameaça de Daenerys, uma rainha mais jovem – recordando a profecia que um dia lhe foi feita. A sexta temporada, assim, promete ser ainda mais só para ela, mesmo com os aliados que ela faz.

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O episódio se encerra com a última Targaryen legítima – apesar das evidências, Jon Snow ainda não foi reconhecido como um. Daenerys Stormborn foi ensinada de que seu futuro era reconquistar o trono usurpado em uma revolta cruel. E depois de seis temporadas, ela finalmente pisa no solo que acredita ser seu por direito, merecido não somente pelo sangue e o nome que carrega, mas também pelos obstáculos que ultrapassou para chegar ali. O silêncio da cena foi comentado, um contraste a um grupo que não mede palavras. Conforme declarações dos produtores David Benioff e D. B. Weiss, a ausência de falas tinha como objetivo o foco na interação entre Daenerys e Dragonstone (Pedra do Dragão), entre Daenerys e Westeros, entre Daenerys e o sonhos em cima dos quais sua vida foi construída, entre a mulher, a rainha e o seu futuro. E na sala de estratégias, a rainha tem a última palavra.

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Outros personagens de importância também foram retomados, como Sandor Clegane (Rory McCann), que absorve em sua narrativa enredo de outros personagens dos livros; Bran Stark (Isaac Hempstead-Wright), que alcança a muralha; e Sam (John Bradley-West), que na Cidadela pesquisa uma forma de lutar com o exército de White Walkers  e também se envolve com a trajetória de Jorah Mormont (Iain Glen) e a doença escamagris.

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Era de supor que o episódio de Game of Thrones não tivesse grandes acontecimentos. Muito havia acontecido no fim da sexta temporada e muito precisava ser melhor desenvolvido. Foi um episódio de introdução como deveria ser. Recordou os aspectos mais importantes da temporada anterior e iniciou processos que determinarão o rumo da penúltima temporada.

A ausência de cliffhangers não desqualifica o episódio, que, pelo contrário, é positivo ao trazer destaque a tantas personagens femininas, e não através de formas que sexualizem a mulher, como na cena de estupro de Sansa e em diversas passagens do seriado. Não, o primeiro episódio da penúltima temporada de Game of Thrones apresenta mulheres poderosas, com problemáticas a serem discutidas, sim, mas essenciais na batalha pelo trono de Westeros.

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Mestra em Teoria e História do Direito e redatora de conteúdo jurídico. Escritora de gaveta. Feminista. Sarcástica por natureza. Crítica por educação. Amante de livros, filmes, séries e tudo o que possa ser convertido em uma grande análise e reflexão.
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