O terceiro episódio da sétima temporada de Game of Thrones – 7×03, que foi ao ar no domingo (30), é intitulado The Queen’s Justice e apresenta mais ação que os demais, dando continuidade aos combates travados no final do segundo episódio. Marcado por encontros e reencontros, coloca em prática estratégias trabalhadas anteriormente pelos personagens e dá especial enfoque na vingança de Cersei (Lena Headey), a rainha que perdeu seus três filhos na guerra pelo trono de Westeros.
[CONTÉM SPOILERS]
Leia as resenhas anteriores:
>> [SÉRIES] Game of Thrones – 7×01: Dragonstone (Resenha)
>>[SÉRIES] Game of Thrones – 7×02: Stormborn (Resenha)
A primeira cena foca no esperado encontro entre Daenerys (Emilia Clarke) e Jon Snow (Kit Harrington), algo que talvez tenha sido superestimado. Daenerys aceita receber Jon Snow, que chega a Pedra do Dragão para pedir auxílio na batalha contra os White Walkers. A discussão foi marcada por uma guerra de egos entre uma rainha caracterizada como cada vez mais arrogante, bem diferente daquela das temporadas iniciais, e um rei que, como boa parte dos protagonistas masculinos, passa a imagem de humildade e altruísmo, mas esconde, em suas atitudes, arrogância semelhante.
Daenerys ao menos faz questão de relembrar todas as dificuldades por que passou, como mulher e herdeira do trono, ao longo de sua jornada para Westeros, uma resposta à tentativa de Jon Snow de desmerecê-la enquanto aspirante ao trono. Jon Snow nega-se a reconhecê-la como rainha e jurar fidelidade, pois vê sua aspiração como guiada apenas por um nome. Contudo, apesar de todas as críticas que se podem fazer em relação a ela, não se pode negar que ela traçou uma rota para chegar ao trono e se esforçou para isto.
A discussão é mediada por uma cada vez mais sóbrio Tyrion (Peter Dinklage), que conhece Daenerys e Jon Snow ao ponto de compreender o raciocínio e as demandas de cada um. Apesar da dificuldade de acreditar no inimigo irreal, apresentado por Jon Snow, ele reconhece que este não iria a Daenerys se não fosse realmente preciso. Por outro lado, com a perda dos aliados no episódio anterior, é vantajoso a Daenerys estabelecer uma conexão com o norte. Assim, o personagem consegue conciliar os dois interesses.
Enquanto isso, o exército de imaculados de Daenerys se dirige a Casterly Rock, sede da casa Lannister. O que encontram, porém, é um local parcamente protegido. Os reforços de Cersei foram dirigidos a outros locais, destinados, em certa medida, à vingança pelo apoio à oposição e pela morte dos filhos. De um lado, Jaime lidera um exército contra a casa Tyrell, e ao demonstrar misericórdia com a morte de Olenna (Diana Rigg) recebe a revelação de que ela fora a verdadeira responsável pela morte de Joffrey (Jack Gleeson).
Do outro lado, dá-se a vingança de Cersei contra Ellaria (Indira Varma), capturada por Euron Greyjoy (Johan Philip Asbæk) no episódio anterior. Duas mulheres, duas mães, que usam da mesma tática para atingir a outra: a morte dos filhos com veneno. Ambas as personagens possuem como característica destacada a maternidade e o amor que nutrem pelos filhos. E isto não é exclusividade delas, mas de boa parte das personagens femininas de Game of Thrones, inclusive de Daenerys, que perdeu um filho na primeira temporada e foi chamada de mãe (mhysa) pelo povo. Assim, a maternidade é utilizada não somente como caracterização, mas também como ferramenta de dor.
Em Winterfell, Sansa (Sophie Turner) se mostra cada vez mais apta ao comando do local. Talvez sua aptidão seja mostrada de uma forma um tanto exagerada, através de apontamentos de itens que faltam para a sobrevivência do local durante o longo inverno. Ainda assim, é importante ver como a personagem é destacada na organização e condução de Winterfell, mesmo com as interferências de Littlefinger (Aidan Gillen).
Certamente, Sansa foi uma das personagens mais maltratadas durante a série e nem sempre a reprodução mostrou isto de forma positiva, como na polêmica cena de seu estupro, fato relembrado no episódio com a chegada de Bran a Winterfell. Bran (Isaac Hampstead-Wright), que se tornou o Corvo de Três Olhos e tem acesso a tudo o que já ocorreu, fala de forma insensível sobre o que ocorreu à irmã, que ainda o vê como o legítimo herdeiro da casa. Apesar de ter seguido em frente, Sansa não é menos ou mais forte em função do estupro, mas isto também não retira a carga de dor que o fato lhe implicou. E aborda-lo de forma fria, como se fosse nada, juntando a uma ideia de beleza comum às narrativas de casamento e através da fala de alguém próximo, mas um homem que nunca sofreu isto é insensível.
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Em questões de ação, o terceiro episódio se destacou dos anteriores. E não poderia ser diferente, tendo em vista que a temporada contará com apenas 7 episódios. O destaque às personagens femininas continua trazendo ao mesmo tempo pontos positivos, como no caso de Olenna e sua força mesmo diante da morte; e alguns clichês, como a visão guiada pelo conceito de maternidade. No geral, foi um episódio bom, ao menos no quesito entretenimento, pois sempre há o que se discutir em Game of Thrones.