[ANIME] Neo Yokio: Críticas ocidentais em forma (quase) oriental

[ANIME] Neo Yokio: Críticas ocidentais em forma (quase) oriental

Em setembro desse ano, a Netflix disponibilizou, em seu catálogo, um anime de colaboração americana e japonesa intitulada Neo Yokio. Além de trazer uma forma de animação japonesa que se aproxima mais das clássicas em 2D, com um traço simples e que não se preocupa muito com detalhes físicos dos personagens, Neo Yokio traz algumas críticas pertinentes em meio a confusões narrativas, eventos sobrenaturais e comédias recorrentes.

Já iniciamos esta análise dizendo que a concepção de algumas resenhas de que o anime é “inassistível” ou “um grande desperdício de potencial” nos passa como exagerada. A produção não se propõe a ser algo “quebrador de barreiras” ou completamente inovador, mas a ser apenas uma forma de entretenimento divertida que, em alguns momentos, consegue apresentar críticas a nossa sociedade atual, seja direta ou indiretamente.

Neo Yokio

Confira a sinopse de Neo Yokio:

Bem-vindo à Neo Yokio, a maior cidade do mundo! Com tantos atrativos, Kaz Kaan (Jaden Smith) com certeza tem orgulho de pertencer a esse lugar. O jovem é membro de uma família da alta sociedade e desde cedo sabe dos desafios que um matador de demônios precisa enfrentar. Ainda bem que ele conta com a ajuda do seu melhor amigo Charles (Jude Law) para lidar com essas forças sobrenaturais.

Com uma premissa tão simples quanto a exposta na sinopse, não é de se pensar que Neo Yokio conseguiria trazer questionamentos tanto em relação à classes sociais quanto em relação ao tratamento dado às mulheres mesmo atualmente, apesar de esta última ter sido feita de uma forma um pouco esdrúxula – afinal, maioria de homens na criação – ainda é bom ver que há espaço para tais questionamentos mesmo em um anime tão simples.

Neo Yokio

O enredo é um pouco fraco, não havendo muitos esclarecimentos prévios e posteriores em relação às histórias mostradas na trama. Dito isso, é através do carisma dos personagens que somos realmente convencidas a assistir até o fim.

O protagonista, Kaz Kaan, dublado por Jaden Smith, tem uma história interessante de novo rico sub-questionador, membro da classe dos Magistocratas (quem pode usar magia para combater espíritos), sendo praticamente impossível não criarmos uma espécie de afeição pelo mesmo, especialmente pelo fato de suas futilidades mais nos divertirem do que nos enraivecerem. Em meio a uma cidade futurista e assombrada, é curioso termos o contraponto no protagonismo de um assumido playboy e de sua vida de elite.

Neo Yokio

Tão curioso é que quase nos esquecemos que o pano de fundo da história é o sobrenatural em meio a um cenário que, apesar de não ser tão distinto ao nosso, se aproxima do imaginário sci-fi. A parte da cidade chamada “Cidade Submersa” é um grande exemplo do sci-fi presente na história, onde mesmo as residências estando literalmente debaixo d’água é possível a sobrevivência e locomoção plena de seres humanos sem, para isso, precisarem de tanques de oxigênio.

É através de um dos casos que o protagonista magistocrata investiga que conhecemos a parte submersa da cidade, já nos sendo demonstrado, também, o que faz uma magistocrata. Apesar do nome, tal classe pode mais ser chamada de exorcista, já que é este praticamente o seu trabalho, estando a cargo exclusivo de Kaan a parte sobrenatural do enredo, seja isso bom ou ruim.

A mistura feita no enredo de Neo Yokio, apesar de trazer elementos modernos de cultura pop, o que deveria facilitar nosso entendimento, nos deixa confusas e exacerbadas com a quantidade de informações superficiais e corridas que nos são mostradas, mas, mesmo assim, nos foi possível perceber as críticas à sociedade feitas ao longo dos 6 episódios da primeira e, até agora, única temporada, mesmo que elas tenham sido menos do que o geralmente esperado.

Neo Yokio

O próprio fato de o protagonista ser um rapaz negro, também dublado por um rapaz negro, que não é retratado de forma a atender aos estereótipos recorrentes da raça – mesmo que representando uma elite moralmente falida – já pode ser entendido como uma crítica.

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O anime pode não ser algo particularmente atrativo de se assistir, em razão na confusão narrativa que ele se construiu, mas ao vermos com especial atenção, notamos que não se trata de um caso perdido, pois consegue apresentar críticas que, embora rasas, são contundentes. Vale o tempo, mas poderia ser bem melhor!

Neo Yokio
“Eu gostaria que você não fosse um cachorrinho da burguesia.”

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