O Último Adeus: precisamos falar sempre sobre saúde mental

O Último Adeus: precisamos falar sempre sobre saúde mental

O Último Adeus” não é um livro fácil de ser lido. Sua leitura não é cansativa ou cheia de palavras robustas, mas é a natureza intimista do livro que desafia qualquer leitora a seguir para a próxima página. O livro conta a história de Alexis, ou Lex, uma menina que está tentando superar a morte do seu irmão mais novo, Tyler, quer dizer, o suicídio de Ty. Escrito em primeira pessoa, Lex coloca pra fora toda a dor que sente e dialoga diretamente com cada pessoa que está lendo suas palavras.

O Último Adeus” é uma espécie de diário escrito por Alexis, uma ideia dada por seu psicólogo Dave, para que ela conseguisse “colocar pra fora o que estava sentindo”. Lex é apaixonada por matemática – talvez essa seja uma das primeiras características das quais ela mesma se orgulha em defender e admitir.

Além de sua paixão por matemática, seu irmão se suicidou recentemente, Lex está vivenciando um término de namoro com Steven e seu pai se separou de sua mãe, largando-a por Megan, uma mulher alguns anos mais jovem que a mãe de Lex; esses sãos principais fatos de sua vida (como ela mesma coloca). Nesse turbilhão de sentimentos e acontecimentos, nossa protagonista, Alexis, resolve narrar a sua história, ou talvez narrar a dor de quem sofreu uma perda decorrente de suicídio.

“Por que alguém como meu irmão, de quem todo mundo gostava, que era bonito, engraçado e popular, achava que sua vida era tão terrível a ponto de decidir acabar com ela? ”

O Último Adeus
Edição do livro “O Último Adeus” lançado pela Darkside Books. Imagem: reprodução

O suicídio em “O Último Adeus”

Lex não consegue entender porque seu irmão Tyler, que era bonito, engraçado e popular, decide tirar sua própria vida com um tiro. O suicídio continua sendo um tabu, um assunto a ser evitado nos mais diversos meios de comunicação. Seja em conversas no cotidiano, ou em filmes, séries e jogos, o suicídio é um assunto que ninguém quer comentar. Mesmo sendo um dos maiores problemas de saúde pública do país (e do mundo), falar sobre alguém que se mata dói.

O autoextermínio provoca diversas reações nas pessoas, desde as que ficam com uma piedade exacerbada, às que culpam a pessoa por “não ter encontrado outra saída”, isso mostra que o suicídio é dificilmente conversado ou trabalhado na esfera da prevenção. Sabemos que diversos tipos de violência para serem combatidos. Primeiro, deveria ser pensado e trabalhado a esfera da prevenção, antes de chegar na “alta complexidade”. Então, por que o suicídio não é tratado dessa forma?

Por riscos de não contar spoilers, não vamos comentar as “razões” ou os porquês que Tyler decide tirar sua vida, mas se tem uma coisa que “O Último Adeus” deixa claro, é que o suicídio de Ty (assim como de outras pessoas) não teve “apenas um motivo” específico – como ele mesmo disse, “estava muito vazio. ” O que nos leva a pensar que assim como Tyler, algumas pessoas também se sentem na escuridão.

“Tenho fases nas quais acho que tudo vai ficar bem e que o céu é azul e tal, quando consigo sentir o sol e o ar entrando e saindo de meus pulmões e penso que a vida é boa. Mas então, todas as vezes, também sei, no fundo, que a escuridão está vindo. E não vai parar de vir. E quando eu estiver na escuridão, vou estragar tudo. E se você estiver comigo, vou estragar você também. ”

Saúde mental

Tyler e sua irmã eram próximos, mas talvez aquele tipo de irmão próximo em casa e distante na vida. Uma das reflexões que o livro nos proporciona é sobre o papel que ocupamos na vida de cada pessoa à nossa volta. Como a própria Lex diz, “só Tyler podia se salvar”, mas a verdade é que somos influenciáveis, e isso talvez acabe dando uma importância maior no espaço que temos na vida de outra pessoa.

O Último Adeus” retrata que o suicídio está intimamente ligado a saúde mental, mas não somente à saúde mental de quem morre, mas principalmente, de quem fica. Mostra que o luto muitas vezes não consegue “passar” para a “fase” da conformação, ficando apenas na inconformidade. Se Tyler, que era um homem hétero e nunca sofreu nem machismo e nem homofobia e mesmo assim se suicidou, podemos deduzir que o suicídio perpassa esferas sociais e atinge à todas as classes sociais, gêneros, raças e sexualidades.

Uma das “divagações” de Lex é essa, de que Tyler mesmo sendo “tão querido” e não tendo sofrido discriminações na escola se suicidou, imagina quem sofria. O livro não chega a aprofundar tanto nesse assunto, mas sabemos que existem grupos que estão mais frágeis na sociedade e que por muitas vezes encontram-se em uma situação de risco ainda maior para cometer suicídio, por exemplo jovens LGBT’s.

Mas então, o que podemos levar como principal mensagem do livro? Além de “quem amamos nunca vai embora”, talvez a maior atenção que o livro pede é em relação às pessoas, pedindo para que olhemos à quem está à nossa volta e olhemos para nós mesmas.

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Sobre a autora

Cynthia Hand é a autora da trilogia Sobrenatural, incluída na lista de best-sellers do New Tirk Times. Nascida no sudeste de Idaho, ela é formada em escrita criativa na Boise State University e na Universidade de Nebraska-lincoln. Ela e a família recentemente se mudaram de volta para Idaho, onde estão curtindo o ar fresco.


O Último AdeusO Último Adeus

Autora: Cynthia Hand

DarkSide Books

352 páginas

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Escrito por:

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Feminista e estudante de serviço social. Ama Star Wars e é viciada em gatos. Adora conversar sobre gênero e brinca de ser gamer nas horas vagas. Nunca superou o fim de The Smiths.
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