Quando o termo serial killer vem à tona, muitos lembram de Ted Bundy, Jack, o Estripador, Jeffrey Dahmer ou do ainda misterioso Assassino do Zodíaco. Nomes como Nannie Doss, Mary Ann Cotton e Anna Marie Hahn, e suas coleções de assassinatos, ainda são desconhecidos para a maioria – a não ser para quem leu Lady Killers, de Tori Telfer, publicada no Brasil pela Darkside Books.
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Sedução e bruxaria eram os julgamentos mais comuns
A narrativa sobre mulheres que cometem crimes hediondos frequentemente se baseia em estereótipos que tentam simplificar tais comportamentos com explicações generalistas. Embora as histórias citadas no livro se desenrolem em diferentes países, épocas e contextos sociais, a maioria delas tem algo em comum: a invalidação de possíveis transtornos psicológicos e da crueldade que motivou ações tão frias e calculadas.
Tanto em audiências oficiais nos tribunais quanto no julgamento mediado pela mídia, o entendimento popular sobre as motivações dos crimes frequentemente envolvia bruxaria ou sedução. Esses estereótipos distorciam a verdadeira complexidade por trás dos motivos e circunstâncias desses crimes.
Historicamente, mulheres que desafiavam as normas de gênero ou se envolviam em comportamentos considerados socialmente inaceitáveis eram rotuladas como “bruxas“, termo usado para marginalizar mulheres que se destacavam de maneira não convencional.
Em casos de assassinatos planejados por mulheres, esse rótulo simplificava e demonizava a acusada, desviando a atenção da análise profunda dos fatores envolvidos e do simples fato de que mulheres também podem ser essencialmente más.
Da mesma forma, o estigma de “sedutora” era frequentemente usado como fator descredibilizante, promovendo a ideia da femme fatale, cuja suposta capacidade de manipulação era considerada a única explicação para seus atos.
A autora lança luz sobre como a sociedade tende a retratar as mulheres que cometem crimes de maneira sensacionalista, usando até elementos mágicos como justificativa para a crueldade. Dois exemplos são a condessa húngara Elizabeth Bathory e a abastada irlandesa Alice Kyteler.
O nome de Alice é o primeiro registro de uma pessoa acusada de bruxaria na Irlanda. As acusações contra ela, incluindo pactos demoníacos e práticas sexuais com seres sobrenaturais, carecem de evidências sólidas. Sua posição social elevada e riqueza crescente certamente contribuíram para o desconforto e desconfiança da sociedade da época.
A prosperidade associada a Alice desafiava as normas patriarcais que prevaleciam na Idade Média, onde se esperava que as mulheres ocupassem papéis mais tradicionais e submissos. Portanto, sua associação com a bruxaria pode ser entendida como uma tentativa de justificar a desconfiança em relação a ela.
Apesar de assassinas em série, as personagens ainda são seres humanos
Ao longo do livro, é evidente a dedicação de Tori Telfer para retratar as personagens como seres humanos, cada uma com sua história de vida e caminhos que podem tê-las levado ao seu infame fim. A autora destaca nuances psicológicas, sociais e históricas que moldaram suas vidas, indo além das simplificações da mídia e julgamentos públicos.
Telfer explora motivações individuais, contextos sociais, desafios pessoais e circunstâncias que levaram essas mulheres a cometerem assassinatos brutais. Isso permite que a leitora compreenda a complexidade por trás de cada história, desafiando a ideia de que as mulheres são movidas apenas por características estigmatizadas.