Deusa de Sangue: romantasia na literatura nacional

Deusa de Sangue: romantasia na literatura nacional

Com um universo próprio repleto de ação, protagonismo feminino e romance, o livro Deusa de Sangue nos guia por Unyan e suas colônias, seus mistérios e sua história. Passando sempre pela dualidade da luz e da escuridão, a autora FML Pepper nos conta sobre Nailah, nossa protagonista e heroína.

Deusa de Sangue faz parte da romantasia, gênero que mistura romance e fantasia e que vem conquistando leitores. Em tese, esse gênero situa o foco na relação entre as personagens e não na jornada da protagonista, mas a autora consegue perpassar pelos dois gêneros com facilidade e maestria, de tal modo que não se perde nem o romance e nem a jornada de Nailah.

A narrativa intrigante de Deusa de Sangue

Não entendemos completamente o que ocorre nas primeiras palavras e cenas descritas no livro, há muito movimento e violência, mas também muita força e coragem.

Tudo isso é parte integrante da narrativa misteriosa e viciante criada pela autora. Já conseguimos perceber que a ação está centrada nessas mulheres. Em contrapartida, temos a inação ou a ação coercitiva das regras masculinas.

Aquilo que vemos nos primeiros parágrafos de Deusa de Sangue será retomado ao longo de toda a obra e nas memórias da protagonista.

A autora FML Pepper segurando um exemplar do seu livro, Deusa de Sangue.
FML Pepper segurando um exemplar do livro Deusa de Sangue | Imagem: Reprodução

O Capítulo 1 representa o passado sombrio que perseguirá e guiará Nailah por toda a vida. Ela é apenas uma menina quando descreve os acontecimentos e o que, de fato, descobriremos ser uma fuga de sua mãe e irmã.

Diante dessa cena, surgem os soldados do Genesis, governo central exclusivamente masculino, cruéis e indiferentes. Eles tentam forçá-las a seguirem as normas, no entanto, elas desejam decidir seu próprio destino.

Em diversos momentos, Nailah se vê diante da paralisia de seu pai diante das injustiças cometidas pelos soldados do Genesis. “Mas ele nada fez, exceto baixar a cabeça sob o peso da covardia.” (p.14)

Unyan: lendas, divindades e maldição

Em algumas páginas de tons escuros, as lendas passadas de Unyan ou presságios de um futuro são contados, revelando a terra mágica e suas divindades. O deus do dia e a deusa da noite viviam em equilíbrio até que o deus da morte e o deus da guerra arquitetam um plano de infertilidade.

Mesmo na criação de suas divindades dentro deste universo mágico, FML Pepper opta por representar as deusas com ações positivas e os deuses com inação ou ações de crueldade e indiferença. O mundo real de Unyan, portanto, reflete o mundo das lendas, suas divindades e seus conflitos de poder.

Guerra e sangue são derramados, e as lágrimas de Lynian, deusa da vida, personificam o dilúvio caído sobre essas terras e reinos. As poucas áreas habitáveis que restam após a tempestade são apenas terras inférteis e de filhos estéreis.

Cores: um sistema de rotulagem cruel

Conforme lemos, entendemos que a maldição que cerca os reinos é também o que amedronta os homens e os leva a aprisionar, censurar e rotular as mulheres. Elas são divididas pela cor de suas vestes. Dependendo de sua fertilidade ou infertilidade, são escolhidas ou não pelos homens que disputam por elas.

Brancas, Amarelas, Corais, Vinhos… as cores definem e rotulam as mulheres. É um mundo onde as mulheres vestem branco até o primeiro sangramento, depois passam a usar amarelo e são submetidas à escolha dos aristocratas.

Se os aristocratas não as escolhem, elas usam vestes corais para os colonos as escolherem. E assim por diante, em um ciclo que as aprisiona naquilo que os homens deste mundo consideram vida e morte.

A jornada da heroína e o amor

As mulheres são deixadas à margem da sociedade e relegadas à condição de procriadoras. Esta sociedade, que teme suas mulheres e prioriza a vida embrionária, não tem lugar para nossa protagonista, Nailah.

Desde o início, ela não se encaixa, seja pelo seu corpo, maior do que o das demais brancas, seja por sua personalidade forte e pela história que carrega dentro de si.

A primeira cena de Deusa de Sangue revela uma menina impulsiva, que desafia as ordens da mãe e se aventura fora de casa, mesmo com os avisos de perigo. Desde cedo, ela se depara com uma realidade sombria e repleta de escuridão.

As palavras da mãe de Nailah no primeiro capítulo ecoam em sua mente ao longo da jornada. Mesmo diante da perda de entes queridos, ela não perde a confiança e a coragem, desafiando a sociedade em que vive.

A evolução de Nailah: de vulnerável a forte e protetora

Desde criança, ela tem sonhos e pressentimentos, ouvindo algo obscuro chamando por ela em diversos momentos, sem compreender do que se trata. Enquanto a sociedade prefere a luz e a vida, Nailah talvez prefira a escuridão e a morte.

No livro, ela começa como uma criança indefesa protegida por sua mãe, mas ao longo da narrativa, torna-se a protetora de seu pai, seu irmão e outros homens que encontra e pelos quais se apaixona.

Primeiramente, ela se encanta pelo aristocrata Andriel, com quem se encontra em segredo abaixo da estátua da deusa da vida. Depois, desenvolve sentimentos por Samir, seu amigo de infância, e também por Ron, outro aristocrata por quem inicialmente sente desprezo.

Além dos homens ao redor da protagonista, está Thunder, um animal mágico fêmea que enfrenta muitas aventuras ao seu lado e com quem ela tem uma ligação poderosa.

FML Pepper e o gênero romantasia

FML Pepper, autora nacional de fantasia e do livro “Deusa de Sangue”

Fátima Pimentel, carioca e formada em odontologia, possui diversas pós-graduações. Durante a gravidez, começou a escrever sob o pseudônimo de FML Pepper. Seus romances combinam elementos de fantasia com romance, ou seria romance com fantasia?! Inicialmente, ela escreveu a trilogia Não Pare! e em 2023 lançou Deusa de Sangue.

FML Pepper pode ser considerada a primeira escritora do gênero romantasia no Brasil. Esse gênero tem ganhado muita popularidade entre os leitores jovens adultos, trazendo a fantasia, antes predominantemente explorada por homens em universos de guerra, para um novo contexto.

Nossa querida Pepper sabe como se apropriar desse universo e criar uma narrativa totalmente crítica, onde o protagonismo feminino e o questionamento das normas sociais são evidentes.

A guerra, que normalmente é a ação principal, passa a ser o catalisador de uma sociedade desigual e estéril. A mulher, muitas vezes retratada como frágil e sem ação, torna-se protagonista de sua própria história.


Deusa de Sangue

FML Pepper

Editora Planeta do Brasil

288 páginas

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Sou formada em Letras e atualmente resido e trabalho no Rio de Janeiro. Desde sempre sou apaixonada por livros e tudo que os envolve. Ler está entre as melhores coisas que aprendi na vida.
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