CRÍTICA | The Handmaid’s Tale – 3×10: Bear Witness

CRÍTICA | The Handmaid’s Tale – 3×10: Bear Witness

A três episódios do fim de sua terceira temporada, The Handmaid’s Tale ainda incomoda com seu ritmo. A terceira temporada de O Conto da Aia tem se mostrado bastante lenta. Pouco acontece nos episódios. E a tentativa de aprofundamento nas emoções das personagens mostra-se falha no que concerne ao desenvolvimento do conjunto. Parece, dessa forma, que se trata mais de um prolongamento desnecessário que de uma escolha necessária. No entanto, após 2 episódios bastante lentos, a série produzida pela rede de streaming Hulu e baseada no livro homônimo de Margaret Atwood parece ter retomado seu caminho. Ou ao menos, volta a prometer mais do que foi visto nas temporadas anteriores, embora ainda não atinja o mesmo grau de expectativa.

Intitulado “Bear Witness“, isto é, testemunha, é um episódio focado nas conexões que se formam dentro de Gilead. Quando um indivíduo vai contra o sistema, não age sozinho, mas arrasta consigo uma rede de pessoas envolvidas. E se for pensado, basta rememorar quantas pessoas a própria protagonista June (Elisabeth Moss) já envolveu em sua trajetória. Na segunda temporada de The Handmaid’s Tale, uma família que lhe ajudou foi destruída por isso. Na terceira temporada, uma martha morreu por lhe contar onde encontrar sua filha. Nem toda conexão, entretanto, é vista negativamente. Embora possa haver consequências drásticas para as escolhas tomadas, algumas conexões são feitas para a luta. E nesses casos, os resultados podem valer os riscos – desde que faça sentido para uma vida.

Bear Witness: testemunhas dos crimes contra Gilead

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Imagem: The Handmaid’s Tale (reprodução/Hulu)

O principal suspeito do episódio é o comandante Joseph Lawrence (Bradley Whitford). Como se vislumbrou nos episódios anteriores, o comandante Fred Waterford (Joseph Fiennes) nunca se conformou com a ideia de perder o poder antes exercido sobre a aia June/Ofred/Ofjoseph. Assim, quando vê uma oportunidade, não perde o momento para tentar reaver a mulher sob seu comando. E ataca, para tanto, o comandante Lawrence.

De fato, é de se estranhar que poucos tenham questionado o fato de que o comandante Lawrence tenha tido mais de uma aia sem sucesso na concepção e algumas das quais envolvidas em escândalos maiores, como Emily (Alexis Bledel) e June. Como o próprio personagem argumenta, em todo regime há exceções – a chamada cifra oculta da sociedade, formada por pessoas que, detentoras de relativo poder, são perdoadas pelos feitos que infringem as leis que elas mesmas defendem.

Ainda assim, a aura de mistério em torno de Joseph Lawrence chama a atenção, sobretudo quando sua mulher, Eleanor (Julie Dretzin) é reconhecida como uma mulher instável. Aproveitando-se disso, portanto, Fred Waterford tenta reaver June sob o argumento de que se Lawrence não é capaz de comandar seus criados também não é capaz de governar Gilead. E dessa maneira, Lawrence não seria merecedor do posto que ocupa. Retirando de Lawrence o poder político, Fred Waterford conseguiria, então, argumentar em seu pedido por June. Auxiliado por tia Lydia (Ann Dowd), então, Fred retorna de Washington, onde estava com Serena (Yvonne Strahovski) e pede por uma avaliação de Lawrence. Ou seja, mesmo que não fosse sua opção, talvez não haja saída no que se trata em seguir os rituais de Gilead.

Os rituais de The Handmaid’s Tale

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Cena de “Bear Witness”. (reprodução/Hulu)

Toda a casa dos Lawrence, dessa maneira, precisam se unir à farsa. Por mais que Joseph e Eleanor Lawrence sintam que a punição é merecida – afinal, Joseph ajudou a construir Gilead, sendo responsável pela própria caça de que é objeto – se entregar é uma opção pior. Isso porque acabaram arrastando com eles mesmo aquelas que não tiveram culpa de suas escolhas, como as marthas e as aias. Todas foram envolvidas em seus atos criminosos (de não atendimento às condutas de Gilead) no momento em que deixaram de participar de cerimônias, mas também não relataram as condutas da casa.

Além do arrependimento pelo atos predecessores, portanto, o casal carregaria em seu histórico ainda mais mortes no muro que ergueram. Desse modo, não resta outra alternativa senão performar o ritual de estupro institucionalizado. Mas é interessante que, pela primeira vez, The Handmaid’s Tale opta por não trazer a cena em sua integralidade. Não foca na dor da violência contra um corpo feminino, mas na escolha tomada – ainda que não seja uma escolha plenamente livre, porquanto condicionada pelo contexto.

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Novos rumos para a revolução

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Imagem: The Handmaid’s Tale (reprodução/Hulu)

Depois há os exames, a comprovação de que a suspeita de Fred Waterford é infundada. Não se extingue, contudo, a dúvida sobre o que acontece na casa dos Lawrence. Tampouco se extinguem as consequências das escolhas ali tomadas. Todos se uniram na farsa anterior – da vivência dos costumes de GIlead – e todos se uniram na farsa sobre a farsa.

Depois de “Heroic, nono episódio da terceira temporada de The Handmaid’s Tale, June tomou uma decisão para sua vida: como não possui meios para salvar suas filhas, salvará outras crianças de Gilead. E começa, então, a encaminhar seu novo plano em “Bear Witness“. Em consulta aos arquivos de Joseph Lawrence, June encontra documentos sobre os filhos de outras aias. Sabe, assim, sobre as crianças que faleceram – a morte infantil assola mesmo Gilead. Mas também sabe sobre aquelas que sobreviveram e foram entregues aos lares dos comandantes. E com esses dados pode, então, dar início a um plano de resistência maior. Para isso, entretanto, precisará da ajuda de outras mulheres. Por esse motivo pelo qual pede ajuda às marthas e às aias, em troca do quê recebe um apoio inesperado.

Há esperança em The Handmaid’s Tale?

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Imagem: The Handmaid’s Tale (reprodução/Hulu)

Concomitantemente, Serena parece desesperançosa com as ações de Fred para resgatar a bebê Nichole. Meses se passam desde que as primeiras propagandas de repatriamento de Nichole se iniciam. Pouco, contudo, é o progresso do casal. Serena, desse modo, oferece a Fred uma saída: um contato de um americano que ela teria conhecido no Canadá e lhe dado um telefone celular. Para quem se recorda, no entanto, o telefone foi dado a Serena por outras razões. Foi-lhe dado para que ela contribuísse com a derrubada de Gilead. Dessa maneira, resta a questão: de que lado Serena está?

O final do episódio é promissor. The Handmaid’s Tale retoma as promessas iniciais da temporada de focar em uma revolução e ainda desperta para a possibilidade de que uma importante personagem não tenha sofrido com as falhas em seu desenvolvimento, mas que estivesse participando, todo esse tempo, de uma estratégia maior de revolução. Apesar disso, é frustrante que tanto da temporada tenha se passado de forma lenta e pouco impactante, de modo que as expectativas finais são amortecidas e a intenção de reviravolta não sai como o esperado. Enfim, resta aguardar pelos episódios finais para compreender o que era apenas expectativa e o que realmente se concretizará.


Edição realizada por Isabelle Simões.

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Mestra em Teoria e História do Direito e redatora de conteúdo jurídico. Escritora de gaveta. Feminista. Sarcástica por natureza. Crítica por educação. Amante de livros, filmes, séries e tudo o que possa ser convertido em uma grande análise e reflexão.
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