The Mandalorian: primeiras impressões da série (contém spoilers)

The Mandalorian: primeiras impressões da série (contém spoilers)

The Mandalorian. Star Wars. O advento da cultura pop que trouxe a paz aos interessados em se apaixonar por um universo fictício e desfrutar dele como se assim o fosse. Depois de Star Wars, a cultura de fandom passou a ser conhecida como uma das melhores e mais saudáveis formas de expressão dos tempos modernos.

Toda adversidade existente é resolvida de forma pacífica, conflitos não envolvem espirais que acabam em ameaças de morte, e todo mundo entende quando sua trilogia predileta de Star Wars não é a original. É o lugar gentil e de condicionamento ideal para aqueles indispostos a encararem animosidade em seu simples desejo de ter algo positivo no seu dia a dia. Certo?

Errado.

“The Mandalorian” e a paz para o fandom

Mas algo parece prestes a mudar tudo isso. Algo acima do ódio, do sarcasmo, da desesperança de alguns com a nova saga, da amargura de outros com a trilogia de Obi-Anakin-Padmé, ou dos apontamentos costumeiros de falhas na caracterização de Leia e o desinteresse ao legado de Aldeeran e os Organa na trilogia original. Um totem da paz. Um Rebels para quem não assiste desenhos – mas realmente deveria assistir.

Surge no horizonte a história de um homem solitário. Cujo comprometimento com a honra o manteve distante dos laços emocionais. Um homem que por toda sua vida caçou recompensas e tornou-se lenda. Agora tudo que ele deseja… É ser pai. Do baby Yoda.

Deixando a brincadeira de lado, durante a divulgação, “The Mandalorian” parecia mais um western obscuro que nos levaria ao “mundo dos homens” e ao tiroteio sem fim. Agora, finalmente no ar desde a estreia mundial da Disney Plus em novembro, percebemos que a história entrega toda a ação prometida, porém um material ainda mais interessante do que aquele divulgado – a premissa é cativante, prende sua atenção, tem um relacionamento principal que já despertou profunda simpatia da audiência e que  ainda brinca com esse lado do universo de Star Wars, onde os interessados apenas pelos filmes, sem comprometimento algum, ainda não tiveram o prazer de explorar.

The Mandalorian - primeiras impressões
Cena de “The Mandalorian”. (Imagem: Disney / reprodução)

Engraçado perceber que a nostalgia por Yoda, através de sua espécie, foi suficiente para levar a audiência a um estado de pleno amor. E enquanto muitos comentam (acertadamente) que a jovem criança possa estar por trás de todo um esquema para venda de produtos, talvez possamos deixar o cinismo de lado aqui. Por que não? Star Wars nunca teve um ambiente muito dócil, e quando juntamos isso com as redes sociais, torna-se uma esfera que pode ser movida por sentimentos bem ruins.

As trilogias de George Lucas não foram unanimidade midiática ou de público. Na época de Hayden Christensen, Natalie Portman e Ewan McGregor, muitos parecem esquecer, mas alguns membros do elenco abandonaram sua carreira inteira em Hollywood por conta dos “fãs”.

Acelerando vários anos, temos agora aquela mesma audiência nociva aliada com redes sociais e uma memória bem curta, decidindo agir como se Star Wars fosse voltada para notas altíssimas. Não. É para o coração da audiência. E temos vários filmes. No entanto, nada justifica tanta amargura e comportamento odioso que vemos por aí – existe material para muita coisa nesse universo. Se não gostar de algo, existem opções. Deixe os outros sorrirem, pois sua vez vai chegar. E “The Mandalorian” é a prova viva disso. Então, pelo bem de amar plenamente uma obra nesse pedacinho galáctico, vamos apenas respirar fundo, esticar as pernas e nos deixar levar até onde Mando e Yodaling nos levarem. Aliás, precisamos de um nome para o Baby Yoda!

Baby Yoda
Baby Yoda em “The Mandalorian”. (Gif: reprodução)

Guia do espectador Mandaloriano

Para entender um pouco mais sobre “The Mandalorian“, vamos contextualizar o estado do universo e período onde se passa: cinco anos depois dos eventos do “Episódio VI – O Retorno de Jedi”.

A Nova República foi instalada após o triunfo na Batalha de Endor. Não foi uma construção imediata, mas uma resposta moldada no intuito de não repetir os erros da República Velha. Existiam divergências políticas dentro do Senado e muita incerteza no lado de fora – havia paz, sim, mas edificada em conflitos ideológicos e na sombra do Império. Dito isso, ela data de 4ABY, enquanto “The Mandalorian” se passa em 9ABY, cinco anos após a instalação da República Democrática. Por ABY, leia-se “Depois da Batalha de Yavin”.

A Senadora Leia Organa é uma figura política de extrema importância na época dos eventos de “The Mandalorian“, podendo ser eventualmente mencionada. Inclusive, nessa época ela já era mãe de um pequeno Ben, filho do agora lendário piloto galáctico Han Solo. Presenciamos uma jornada em período único, após os eventos clássicos e anteriores a tudo que vemos nos filmes de agora. 

E nesse ínterim, os Caçadores de Recompensa estavam desfrutando da falta de vigilância para todos os lados. Eis que surge nosso herói. Ou anti-herói. Herói relutante: O Mandaloriano. “Mando”. Vítima da guerra e resgatado sozinho após uma grande perda. O conflito lhe tirou tudo e a angústia integra seu passado. Mas a sorte lhe sorri e ele é resgatado. A tríade Mando, Jyn Erso e Rey formam os foundlings da nova geração em Star Wars – esse comentário é mais uma licença poética, já que para o cânon, vamos encontrar Foundlings como um dos tipos de Mandalorianos, provavelmente sobre como alguns podem ser encontrados e moldados para essa vida.

The Mandalorian - primeiras impressões
Cena de “The Mandalorian”.(Imagem: Disney / reprodução)

Existem mais teorias: de que os Foundlings são aqueles que ainda estão criando suas Casas, que não tem filiações e ainda estão esperando seus símbolos. Essa última dedução é refutada por outros com a fala do protagonista dita em inglês “I was once a foundling”, o que implicaria que ele já foi, mas não que ainda o seja. Todavia, a amplitude de possibilidades é um atrativo enorme que os criadores Jon Favreau e Dave Filoni colocaram na mesa, ao fazerem uso de recursos cercados de mistérios no vasto mundo apresentado até o momento.

Sobre o espaço de tempo em que foi Mando foi encontrado e o que acontece no presente, não sabemos muito, apenas o suficiente para deduzir que a Ordem Mandaloriana o encontrou e ele tornou-se, eventualmente, parte do Caminho. Os pequenos flashbacks apresentados na memória do protagonista apenas destacam sua última memória dos pais, o enfoque dele sendo sempre na mãe. No entanto, uma coisa é certa: a guerra e o luto profundo moldaram um exímio caçador. Sua reputação o procede e logo no primeiro episódio somos levadas numa aventura de começo, meio e fim. E que fim!

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Parece bem simples: ele tem que achar alguém de 50 anos e ganhará uma grande recompensa por isso, sendo a missão previamente indicada como difícil de ser realizada. Contudo, quando chega ao planeta indicado, os eventos acabam provando a dificuldade. Ele é atacado por uma Blurrg, canonizada em “The Clone Wars“, também aparecendo em “Rebels” e em alguns livros. Por sorte do destino, um morador local o encontra e posteriormente ensina o Caçador a montar na criatura. Cruzado o deserto, nota não estar sozinho: dúzias de caçadores receberam a mesma tarefa.

The Mandalorian - primeiras impressões
Cena de “The Mandalorian”.(Imagem: Disney / reprodução)

Mando, claro, sai vitorioso – ainda que com auxílio do androide IG-88 (Taika Watiti em participação especial!) que tenta se autodestruir a cada instante, onde as coisas parecem fora de controle. É nesse momento onde ambos adentram o local para encontrar o procurado, e-… O fandom de Star Wars recebe uma das maiores surpresas dos últimos anos: Baby Yoda. Ou como você preferir chamá-lo. Estamos no episódio três e ainda não descobrimos nada sobre a espécie dele e do seu precursor, a não ser “espécies envelhecem de modo diferente”.

O terceiro episódio de “The Mandalorian”

(Alerta para spoilers do terceiro episódio! Todo esse tópico vai ser sobre ele. Pode pular para o próximo se não estiver acompanhando ainda).

Foram três capítulos desde que Mando recebeu a missão, conheceu a criança, foi salvo por ela com o uso da Força – entregou ao laboratório do Império-não Império, semente de Primeira Ordem, voltou para casa, teve uma grande crise autoconsciência e decidiu tentar derrubar a cidade para salvar mini Yoda.

Após voltar para sua cidade e ir ao encontro do cliente, o Mandaloriano não encontra conforto algum para entregar quem havia prometido. Compreensível, bem compreensível. Mas seus motivos parecem flutuar entre ser uma criança vítima da guerra, talvez, ou mesmo ter sido salvo pela pequena criatura que gosta de caçar sapos para o jantar. Os flashbacks constantes e o fato dele repetidamente reforçar que parte do valor de suas recompensas deve ir para os foundlings, apenas demonstram que por baixo de toda armadura, Mando se identifica e sente empatia com a solidão dessas crianças.

Guiado por isso, ele vai contra o código da sua Ordem ao não embarcar na próxima missão interplanetária. A sequência deslanchada acaba sendo fantástica. A espectadora deseja o sucesso da empreitada – Mando contra todos os Bounty Hunters da cidade e Carl Weathers. Correndo com a criaturinha nos braços, o Mandaloriano tem uma das melhores cenas de ação em Star Wars, contando todos esses 42 anos. O cenário fantástico, os riscos, a satisfação em ver que ele voltou para salvar o “bebê” abraçado pela audiência, conta com a incrível direção de Deborah Chow – a primeira mulher a dirigir um live-action de Star Wars!

Deborah Chow - The Mandalorian
Deborah Chow nos bastidores de “The Mandalorian”. (Imagem: reprodução)

O aclamado terceiro episódio de “The Mandalorian” foi dirigido por uma mulher de descendência asiática. Ela tem em seus créditos outros nomes como “Jessica Jones” da empreitada Marvel/Netflix, “Deuses Americanos“, “Better Caul Saul” e “Mr. Robot”. Felizmente, essa não é a última vez que veremos sua marca em Star Wars: Deborah vai ser a diretora exclusiva de “Kenobi”, muito aguardada série do querido Jedi.

Deborah Chow finalizou o episódio com uma cena simples, mas de grande retorno ao público, mostrando o quanto o Mandaloriano teve sua atitude valorizada com a evolução que tivera com a criança – de quem agora ele tem, basicamente, a guarda.

Segredos de divulgação e expectativas

Toda divulgação dessa série foi criada para esconder o uso da espécie de Yoda. Foi comentado em algumas entrevistas o trabalho que foi manter esse segredo, sendo ele realmente algo muito bem executado, visto sua longa manutenção – spoilers da grande trilogia cinematográfica vazaram anteriormente com mais facilidade. Um dos recursos utilizados, possivelmente, foi usar imagens de episódios avante, em vez da costumeira amostra de episódios iniciais.

Cara Dune (Gina Carano)
Gina Carano em “The Mandalorian”. (Imagem: reprodução)

Temos várias fotos de Gina Carano no seriado e a personagem sequer mostrou seu rosto – em tempo, estamos no episódio três quando essa análise foi escrita. Foi-nos apresentada ainda a personagem de Ming Na Wen. Ambas ainda por aparecer. Portanto, a única mulher com fala até então foi a Mandaloriana, enquanto esperávamos uma parceria entre a personagem de Carano e Mando. Porém, estamos cientes que a série é dele e talvez essa retidão e escolha de episódios curtos iniciais, bem focados na ação, seja precisamente para prender a audiência naquele momento da narrativa, sem desvios.

A jornada continua

Nosso fugitivo e seu pequeno protegido devem agora buscar abrigo. Fica a torcida pelo que virá em seguida e a expectativa pelo grupo que se formará, afinal de contas, muito de uma série vive na dinâmica dos seus protagonistas. Mas no que depender do mostrado por Pedro Pascal até agora, estamos muito bem. O ator faz um trabalho de voz acertado, controlando a atenção em cena com movimentos precisos – aliás, toda construção de arte em “The Mandalorian” é de encher os olhos. As armaduras reais dos Stormtroopers, abdicando do uso de CGI, acaba sendo um exemplo. Detalhe: a média de custo por episódio é por volta de 10 milhões de dólares.

Foi um alto investimento que vem sendo recompensado. O visual é belíssimo e a história vem conquistando mais e mais audiência. Uma das provas factuais é que a Disney acelerou a criação de brinquedos do “baby Yoda” para dezembro, quando o faria apenas ano que vem.

O sucesso da série está bem conectado com o caminho Mandaloriano, assim como nossa pequenina espécie desconhecida está entrelaçada nos caminhos da Força.


Edição e revisão por Isabelle Simões.

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Escrevo onde meu coração me leva. Apaixonada pelo poder das palavras, tentando conquistar meu espaço nesse mundo, uma frase de cada vez.
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