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DELIRIUM NERD
A Vida Sonhada dos Anjos (crítica)
CINEMA

A Vida Sonhada dos Anjos: a esperança feminina no mundo do trabalho alienado

por Flavia Azolin · 25 de novembro de 2019

“A Vida Sonhada dos Anjos“, filme de 1998 dirigido por Erick Zonca, acompanha a amizade de duas jovens. Isa (Élodie Bouchez) conhece Marie (Natacha Régnier) após começar um novo emprego como costureira e, sem lugar para ficar, acaba indo passar a noite na casa da moça. Com o passar do tempo as duas viram amigas e acabam morando juntas no apartamento que pertence a uma família que encontra-se em coma após um acidente. Marie é responsável por cuidar do lugar até que as vítimas retornem do hospital, e leva Isa para viver junto com ela.

Em meio às crises tanto emocionais quanto financeiras, o filme traça um caminho melancólico pela jornada das duas amigas. Através do cuidado e da preocupação que é construída à medida que a relação entre Isa e Marie é fortalecida, a espectadora é convidada a empatizar com a angústia, a esperança e o desamparo das protagonistas.

AVISO: O texto contém spoilers do filme!

O preço por sonhar no sistema capitalista

As primeiras aparições de Isa no filme denunciam o desamparo no qual se encontra. Vagando solitária, e buscando dinheiro ao vender cartões que ela mesma produz, a moça consegue trabalho como costureira em uma fábrica. Lá conhece Marie, que, em contrapartida, demonstra aversão à injustiça social desde seus primeiros diálogos. 

Isa é demitida após falhar em seu trabalho, e alega durante a demissão que ninguém a ensinou como fazer. Já Marie desde o princípio afirma que já foi maltratada por patrões em trabalhos anteriores, e decide sair da fábrica após ver a forma como Isa foi tratada.

No entanto, Isa parece ainda estar aprendendo sobre o mercado de trabalho, e em diversos momentos mostra-se otimista com relação às oportunidades. Já Marie é apresentada à espectadora como uma jovem inconformada com as condições que lhes são impostas. Essas perspectivas a respeito das personagens serão importantes nos eventos que se desenrolam a seguir.

The dreamlife of angels (1998) crítica

Isa (Élodie Bouchez) e Marie (Natacha Régnier) em “A Vida Sonhada dos Anjos”. (Imagem: reprodução)

Enquanto estão juntas, as duas amigas se mostram jovens cheias de vida, expectativas e sonhos. Elas saem juntas, se divertem, flertam e conversam. Mas o que funciona muito bem nos momentos de ócio é abalado diante das perspectivas para o futuro. Enquanto Marie se recusa a aceitar trabalhos que oferecem péssimas condições, Isa se preocupa com o sustento das duas. A amizade embarca lentamente em um colapso que encontrará seu auge na crise emocional de Marie.

Uma sensação constante de angústia a respeito da vida das protagonistas é propositalmente transmitida à espectadora. O filme irradia uma incerteza incômoda quanto ao amanhã de duas jovens, que não possuem emprego estável e que podem ser despejadas da moradia em que residem à qualquer momento. A tensão das personagens é a mesma da espectadora. Em um retrato realista da condição de muitas pessoas na sociedade capitalista, “A Vida Sonhada dos Anjos” proporciona uma atividade de empatia mais do que necessária na atualidade. 

Leia também:
>> O cinema do oriente médio e a revolução silenciosa das mulheres
>> Mulheres na História do Cinema: Lois Weber
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É visível que Isa e Marie não se encaixam nos padrões que a sociedade espera das duas mulheres. Em diversos diálogos durante o filme a ausência de uma performance de feminilidade por parte das jovens é ressaltada. As expectativas sexistas interferem na busca por um emprego.

Em uma ocasião, Isa convence Marie a acompanhá-la em uma ‘’entrevista’’ para trabalhar em um estabelecimento temático. Lá, as outras meninas se preparam para realizarem imitações de grandes divas famosas, enquanto Isa e Marie caracterizam uma disparidade visível para com as demais garotas. Não apenas a inexperiência dificulta o ingresso das duas no mercado de trabalho, mas também o fato de serem mulheres (e mais ainda, mulheres que não performam feminilidade).

A Vida Sonhada dos Anjos

Cena do filme “A Vida Sonhada dos Anjos”, de 1998. (Imagem: reprodução)

Não apenas no mercado de trabalho, mas também nas relações pessoais, o sexismo sofrido é visível. O rapaz por quem Marie se apaixona a trata como uma mera aventura. Desde o momento em que passa a se envolver com ele, a jovem é constantemente chamada de ‘’uma qualquer’’. Ela é rebelde e inteligente, portanto deve ser conquistada e então descartada, para que possa ser substituída por uma mulher recatada e que se encaixe nos padrões de feminilidade.

Entretanto, o amor não correspondido não é o motivo que leva Marie a sucumbir ao sofrimento, mas sim um gatilho. Desde o começo do filme ela se mostra deprimida. As oportunidades que aparecem são apenas de trabalho alienado. Marie sabe que o mundo aguarda para tragar sua personalidade, e que as perspectivas de futuro na sociedade exigem o sacrifício da individualidade. Ela já sofre com o mundo real, e a tristeza advinda do âmbito sentimental sobrevêm como um complemento para a dor.

O sacrifício que Marie recusa é o mesmo que Isa aceita. Durante a sua jornada, ela vê o que acontece com sua amiga, que se nega a viver o mundo de tristeza e desilusão. Ela teme, e por fim cede à realidade social em que está inserida. 

Isa em "A Vida Sonhada dos Anjos" - crítica

Isa em cena de “A Vida Sonhada dos Anjos”. (Imagem: reprodução)

O filme termina com Isa trabalhando em uma rotina de trabalho alienado. Ela está séria, consegue fazer o trabalho repetitivo e possivelmente o fará pelo resto da vida. Não se vê mais seu sorriso divertido e sim um semblante sóbrio. Em seguida, aparecem diversos rostos de diferentes mulheres trabalhando; Em sua labuta, elas são iguais. Isa é todas elas e todas elas são a mesma pessoa  — proletárias que, por exigência do capitalismo, abdicam de suas individualidades, personalidades e sonhos, para servirem à rotina exaustiva que lhes permite apenas sobreviver. 

A vida sonhada dos anjos (e das mulheres)

A partir do momento em que Marie mostra-se cada vez mais deprimida, Isa percebe que aquela relação não é saudável, e tenta convencer a amiga a evitar contato com o rapaz por quem está apaixonada. A forma como é tratada dentro dessa relação é desgastante, e piora de forma significativa a relação entre as duas amigas. À medida que Isa insiste que Chriss (Grégoire Colin) não valoriza Marie e que ela deve parar de se envolver com ele, brigas e desavenças começam a surgir. 

Isa acredita que Marie abre mão de sua dignidade para agarrar-se à esperança de um amor correspondido. Marie acredita que Isa abre mão de sua dignidade ao aceitar empregos que oferecem péssimas condições de trabalho. No desespero por algum amparo para a vida, ambas cedem à relações abusivas que as objetificam, mas de formas diferentes. Essas relações culminarão no final de Isa como operária e no suicídio de Marie.

Marie em "A Vida Sonhada dos Anjos" - crítica

Marie em cena de “A Vida Sonhada dos Anjos”. (Imagem: reprodução)

Isa consegue um lugar para dormir e viver através de Marie. Todo o tempo que sobrevivem juntas é por conta da sororidade que culmina em amizade profunda. Elas cuidam uma da outra, se protegem, e o trágico fim de Marie acontece quando Isa não consegue mais ajudá-la. 

Enquanto reside no apartamento, Isa encontra o diário de Sandrine, menina que morava na residência e que está em coma por conta do acidente. Ela passa a visitar a criança hospitalizada e ler para ela. Marie mostra-se hostil a essa atitude, mas é justamente o vínculo entre as duas que possibilita a recuperação de Sandrine. 

Por conta da morte da mãe de Sandrine após o acidente, Marie e Isa precisam sair do apartamento, o que potencializa os dilemas na vida das duas. Com a amizade abalada e sem saberem para onde ir, a história das duas encara seu trágico encerramento. 

Enquanto lê para Sandrine, Isa lhe proporciona sonhos advindos dos relatos de sua própria vida. Em paralelo, ela e Marie vivem como se estivessem também em coma, sonhando com a vida livre que nunca poderão viver.

“A Vida Sonhada dos Anjos” conta com Yann Tiersen na trilha sonora. Uma das músicas que tocam no filme:


Edição e revisão por Isabelle Simões.
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Flavia Azolin

Estudante do curso de Jornalismo. Gosta muito de cinema, literatura e fotografia. Embora ame escrever, é péssima com informações biográficas.

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