O fenômeno Edward Cullen: a idealização do homem perfeito em romances escritos por mulheres

O fenômeno Edward Cullen: a idealização do homem perfeito em romances escritos por mulheres

Cinéfilo, bookstan ou não, todo mundo sabe quem é Edward Cullen. Criado pela escritora estadunidense Stephanie Meyer, Edward é um dos personagens fictícios responsáveis por arrancar suspiros apaixonados de leitores ao redor do mundo desde 2005. Apesar de ainda existir uma guerra fria entre Team Edward e Team Jacob, é preciso aceitar que Bella teve bons motivos para escolher ficar com o vampiro na saga Crepúsculo

Robert Pattinson como Edward Cullen na saga Crepúsculo. Ele está com uma camisa clara e ao fundo contém imagens distorcidas de árvores.
Robert Pattinson como Edward Cullen | Foto: Reprodução

Desde o primeiro livro da saga, Edward é apresentado como um personagem de beleza ímpar, com traços perfeitos e uma aparência que chama a atenção de todas as pessoas ao seu redor. Isso sem mencionar a força, agilidade e as habilidades sobrenaturais que o tornam ainda mais fascinante. Mas não é apenas a aparência física que o torna um modelo de homem ideal para muitas pessoas. O que realmente chama a atenção dos leitores é a sua personalidade.

Edward é altruísta, gentil, carinhoso, dedicado e faz tudo o que está ao seu alcance para demonstrar seu amor e preocupação com Bella, mesmo que isso signifique colocar a sua própria vida em risco. Mas nem seu enorme senso de proteção fica acima do respeito e da admiração que demonstra pela amada.

Salvar sua vida tinha sido a única coisa certa que eu fiz desde que a conheci. A única coisa de que não me envergonhava. A única coisa que me deixava feliz em existir.

Contudo, nota-se que essas características não são únicas de Edward, e estão presentes em outros personagens, como Garrett Graham (O Acordo, de Elle Kennedy), Maxon Schreave (A Seleção, de Kiera Cass), Ian Clarke (Perdida, de Carina Rissi), Rhysand (Corte de Espinhos e Rosas, de Sarah J. Maas), entre outros. Mas, afinal de contas, o que torna todos esses personagens tão especiais e atraentes? A resposta é simples: todos foram escritos por mulheres

Mr. Darcy foi o pioneiro da idealização masculina escrita por uma mulher

Quando Jane Austen publicou Orgulho e Preconceito em 1813, provavelmente não imaginou que seus personagens continuariam habitando o imaginário dos leitores mais de 200 anos depois do lançamento da obra. Apesar de Lizzy ocupar o posto de protagonista, foi Mr. Darcy que fez o coração de muita gente bater mais forte.

Matthew Macfadyen e Keira Knightley em cena da adaptação cinematográfica de “Orgulho e Preconceito” (2005), de Jane Austen. | Foto: Reprodução

No início da narrativa, o aristocrata demonstra comportamentos considerados arrogantes e presunçosos, mantendo o nível esperado pela classe social abastada a qual pertence. Elizabeth, no entanto, é a personificação da ruptura dos padrões almejados para as mulheres da época. Porém, apesar da natureza julgadora e da dificuldade de abertura ao sentimentalismo,  Mr. Darcy se vê tão apaixonado por Lizzy, que se permite furar a bolha de sua existência para ficar ao lado da mulher que ama.

Ao escrever seu segundo livro, Jane Austen criou uma tendência que perdura até hoje e se molda conforme os costumes de cada época e os contextos aos quais as histórias estão inseridas. Seu personagem principal masculino é a idealização do homem de acordo com uma mulher revolucionária e romântica. Ele não deixa sua essência de lado, mas apresenta mudanças consideráveis em seu comportamento para ficar ao lado da mulher que ama.

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Mr. Darcy é um homem com princípios e valores, o que o torna sincero consigo mesmo e com as pessoas ao seu redor, até quando se trata de suas falhas e erros. Ele é leal e protetor com as pessoas de seu círculo de convivência, em especial com sua irmã Georgiana. Além disso, é educado, inteligente e considerado atraente por todos. 

Todas essas características corajosamente descritas por Jane Austen no século XIX, serviram como base para que autoras como Stephenie Meyer moldassem seus personagens masculinos de acordo com os desejos das leitoras de seu tempo.

A inteligência emocional é atraente

Uma das características mais marcantes de Edward Cullen, tanto no ponto de vista de Bella Swan, quanto no dele próprio, é sua capacidade de expressar seus sentimentos de forma clara e sincera.

Ele é um personagem emocionalmente maduro e está conectado com seus sentimentos mais profundos, o que o torna capaz de comunicar suas emoções de forma autêntica e honesta. Essa habilidade de se expressar emocionalmente é considerada uma qualidade essencial romanticamente falando. Afinal, quem nunca sonhou com um homem com inteligência emocional?

Kristen Stewart e Robert Pattinson em cena da adaptação cinematográfica de "Crepúsculo" (2008), de Stephenie Meyer.
Kristen Stewart e Robert Pattinson em cena da adaptação cinematográfica de “Crepúsculo” (2008), de Stephenie Meyer. | Foto: Reprodução

Além disso, Edward é um homem que possui autocontrole e maturidade emocional. Ele é capaz de lidar com situações difíceis e estressantes de forma calma e racional, o que o torna um modelo de homem forte e confiante. Essa habilidade de manter a calma em situações difíceis é vista também em Garrett Graham, par romântico da protagonista de “O Acordo”.

Elle Kennedy foi certeira ao escolher um personagem estereotipado e torná-lo sentimental, prestativo e preocupado, sem deixar de lado sua essência e seus sonhos. Apesar da clara diferença de enredo, pode-se notar a semelhança de personalidades do capitão do time de hóquei, com o vampiro, publicado 11 anos antes.

Contudo, é preciso notar que o idealismo que parece seguir um padrão atemporal se adapta às mudanças de pensamento da sociedade. Portanto, é importante analisar o contexto histórico em que cada obra foi escrita. Muitas dessas autoras viveram em uma sociedade onde os direitos das mulheres eram quase nulos, e o sentimento de inferioridade feminina era evidente. Dessa forma, a criação de personagens masculinos perfeitos pode ser uma forma de compensar uma desigualdade de gênero, retratando homens bondosos, justos e inteligentes que poderiam ser tomados como exemplos de comportamento.

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É importante ter a percepção de que essas criações geralmente provém de fantasias das escritoras com seus próprios ideais de um par romântico. Por isso, muitos deles tendem a ser retratados como emocionalmente disponíveis, sensíveis, românticos e empáticos, características que muitas pessoas almejam em um parceiro.

Os personagens masculinos escritos por mulheres são personagens fascinantemente complexos, que desafiam as tradicionais representações de masculinidade na ficção e na vida real. São personalidades que ilustram a capacidade feminina de escrever histórias convincentes e enriquecedoras sobre o sexo oposto, divergindo dos estereótipos.

A construção dessas narrativas, além de entreter, traz reflexões e questionamentos. Esses personagens perfeitos e (infelizmente) irreais, evidenciam o talento, a criatividade e a capacidade das escritoras de dar vida aos desejos de muitas leitoras, mesmo que limitada a algumas centenas de páginas.

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Uma jornalista apaixonada por música, literatura e cinema. Seus maiores hobbies incluem criar playlists para personagens fictícios e falar sobre Taylor Swift nas redes sociais.
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