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QUADRINHOS

[QUADRINHOS] Bordados: A sororidade intrínseca às reuniões familiares de Marjane Satrapi

por Laís Fernandes · 30 de agosto de 2017
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Assim como em Persépolis, a quadrinista e cineasta franco-iraniana Marjane Satrapi usa as próprias memórias da infância para lidar em Bordados com os diversos tipos de machismo presentes na sociedade, vivenciados por suas parentes. O quadrinho usa como fio condutor da narrativa o ritual iraniano do chá de samovar, degustado pelas mulheres da casa, enquanto as mesmas contam experiências catastróficas com os homens que passaram por suas vidas, porém de forma cômica e leve. 

O título da obra, logo de cara, entrega uma prática adotada por algumas mulheres iranianas, diretamente ligada ao desejo dos homens de possuírem uma mulher virgem e idealizada: a prática do bordado, uma cirurgia para a reconstrução do hímen. É uma opção primordial na vida de mulheres que mantém relações sexuais antes de se casarem. Em uma sociedade que presa pela virgindade feminina, ser dona dos próprios desejos e poder usufruí-los é um ato de rebeldia e costuma ser motivo de punições severas. 

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Apesar de ser um aspecto cultural muito específico do oriente, a narrativa de Marjane se cruza com problemáticas vivenciadas por mulheres do lado de cá do mundo, demonstrando que machismo é machismo em qualquer lugar.

“O chá que a gente preparava nesses momentos tinha uma função completamente diferente. Todo mundo se reunia em torno dessa bebida para se entregar à nossa atividade predileta: a conversa. Mas essa conversa também tinha um significado muito próprio: ‘Falar dos outros pelas costas é ventilar o coração.'” (trecho de Bordados, Marjane Satrapi)

A série de relatos começa após um almoço de família, período no qual as mulheres da casa de Marjane se recolhem para lavarem a louça, enquanto os homens se retiram para um cochilo. Partindo de uma convenção social, que por si só procura delimitar as mulheres à cozinha, as Satrapi e suas amigas transformam o momento em algo prazeroso e transcendem o papel de submissas aos homens da casa: o momento do chá, a roda de conversa para trocarem histórias sobre os relacionamentos que deram errado por diversos fatores, são as mais puras representações de liberdade e sororidade às quais elas poderiam recorrer em momentos como aquele.

Bordados

De traições a agressões psicológicas, todas as mulheres, sem exceção, possuem algo a ser contado e absorvido como lição de vida.

“Escuta aqui, na única vez que eu casei, eu tinha 13 anos! É, 13. Como a minha família é de aristocratas, eu estava predestinada a casar com um ministro ou um militar. Pois é, me coube um general do exército 56 anos mais velho.” (trecho de Bordados, Marjane Satrapi)

Mesmo o quadrinho possuindo um tom cômico, fica impossível não se emocionar e se compadecer pela história de cada uma das mulheres que, apesar de terem passado por coisas horríveis ao longo da vida, – como gerar quatro crianças e não poder ver o corpo nu do marido, por ele sempre apagar as luzes e se concentrar apenas no ato, e não no prazer da esposa, ou na história da amiga de Marjane, Shideh, que viu no casamento aos 17 anos a solução para uma vida de repressões dentro de casa, vindo a descobrir que o marido não era nada daquilo que sonhara tempos depois – souberam como ninguém dar a volta por cima de cabeça erguida. 

Bordados

Bordados

O quadrinho é curto, de linguagem acessível e muito instigante, o que proporciona uma leitura deliciosa. Assim como em Persépolis, tanto o traço dos desenhos como a preocupação com os recortes autobiográficos e culturais iranianos são abordados de forma magistral pela autora, que, mais uma vez, é impecável na abordagem feminista de suas obras.


BordadosBordados

Autora: Marjane Satrapi

Companhia das Letras

136 páginas

Este quadrinho foi cedido pela editora para resenha

Onde comprar: Amazon
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Laís Fernandes

É estudante de Letras e fã incondicional de Neil Gaiman – e, parafraseando o que o próprio autor escreveu em O Oceano no Fim do Caminho, “vive nos livros mais do que em qualquer outro lugar”.

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