O Emmy Awards 2017 se destacou por premiar séries com mensagens políticas, escritas, dirigidas e protagonizadas por mulheres e pessoas não-brancas sobre suas experiências. A premiação, que aconteceu nesse domingo, 17 de setembro, demonstrou a tendência de Hollywood em utilizar a arte para combater o conservadorismo da atual situação política no país.
Assistir mulheres e outros grupos minoritários, como pessoas negras e LGBTs, recebendo esse reconhecimento lá fora, mostra que a arte não existe apenas por si só, mas também como um instrumento de luta que deve ser politizado e criticado, quando não apresenta histórias diversas daquelas consideradas “universais”, com homens brancos, héteros e ricos como protagonistas.
Sabemos que o machismo em Hollywood ainda está longe de acabar. A própria Patty Jenkins, por exemplo, levou anos para conseguir dirigir um filme de super heroína, que é hoje um dos maiores sucessos do ano. Entretanto, utilizar o prestígio e o momento de fama que o Emmy propicia para divulgar produções que falam sobre direitos reprodutivos, violência doméstica e racismo, é de extrema importância, principalmente, considerando o momento em que estamos vivendo, onde exposições feministas são censuradas no Brasil e marchas racistas são realizadas nos Estados Unidos.
Confira 3 vitórias marcantes da noite de domingo:
The Handmaid’s Tale: um prêmio histórico em direção de série dramática
A distopia baseada no livro O Conto da Aia, de Margaret Atwood (Leia AQUI a resenha), é uma produção do Hulu que já havia chamado a atenção de muitas pessoas por ter atores e atrizes conhecidos, pela sua qualidade de fotografia e roteiro, além da sua trama única. Nos Emmys, The Handmaid’s Tale foi considerado um destaque, levando 5 prêmios para casa: Melhor Série Dramática, Melhor Atriz para Elisabeth Moss, Melhor Atriz Coadjuvante para Alexis Bledel, Melhor Atriz Convidada para Ann Dowd, e Melhor Direção de Série Dramática para Reed Morano.
Reed fez história na premiação por ser a primeira mulher em 22 anos a ganhar nessa categoria. A última vez que uma mulher tinha ganhado foi em 1995, quando Mimi Leder foi premiada por dirigir um episódio de “ER”. A diretora foi responsável pelos 3 primeiros episódios da primeira temporada de The Handmaid’s Tale, e premiada pelo piloto, “Offred”.
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Big Little Lies: mulheres heroínas de suas próprias histórias
Outra adaptação literária que chamou atenção nesse ano foi Big Little Lies, série produzida pela HBO, que retrata a violência doméstica na vida de 3 mulheres ricas que vivem com seus maridos e filhos em Monterey, na Califórnia.
Big Little Lies levou 5 prêmios da categoria Melhor Minissérie ou Filme, entre eles: Melhor Série Limitada, Melhor Atriz para Nicole Kidman, Melhor Atriz Coadjuvante para Laura Dern, Melhor Ator Coadjuvante para Alexander Skarsgard e Melhor Direção. Com todo esse prestígio, veio também o reconhecimento do tema e de dar voz às mulheres. No seu discurso, Reese Witherspoon, a produtora executiva de Big Little Lies, enfatizou:
“Tragam as mulheres à frente de suas próprias histórias. Que elas sejam heroínas de suas próprias narrativas”.
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Master Of None, Atlanta, Black Mirror e The Night Of: Diversidade de raça e sexualidade
Para além da diversidade de gênero, o Emmy Awards 2017 também se destacou ao premiar séries com produções que representam a diversidade das artes. Na noite de domingo, Lena Waithe entrou para a história da televisão como a primeira mulher lésbica e negra a receber o prêmio de Melhor Roteirista, pelo episódio “Thanksgiving”, da série de comédia Master of None, co-escrito com o protagonista Aziz Ansari.
O episódio premiado, além de fazer parte de uma série que já traz a diversidade como parte da história, foi também baseado nas experiências da própria Lena como uma mulher negra e lésbica nos Estados Unidos. Em seu discurso, a roteirista reconheceu a importância desse prêmio com uma mensagem para a comunidade LGBT:
“Para a comunidade LGBQTIA, vejo todos e cada um de vocês. As coisas que nos tornam diferentes, essas são nossas superpotências. Todos os dias, quando você sai pela porta, coloque sua capa imaginária e vá conquistar o mundo. Porque o mundo não seria tão bonito quanto é, sem a nossa presença.
E, para todo mundo que demonstrou amor pelo episódio, obrigada por aceitarem um pequeno menino indiano da Carolina do Sul e uma mulher negra queer da região sul de Chicago”.
Além disso, a estatueta de Melhor Telefilme foi para “San Junipero” episódio famoso de Black Mirror, que conta a história de um casal de duas mulheres.
O Emmy Awards 2017 nos trouxe outros dois momentos históricos: Donald Glover foi a primeira pessoa negra a levar para casa o prêmio de Direção por “Atlanta”, enquanto Riz Ahmed, de “The Night Of”, foi o primeiro ator de ascendência asiática a vencer como Melhor Ator em Série Limitada.
O clima político da premiação esteve presente também na categoria de comédia, com vitórias para “Veep” e “Saturday Night Live”, e claro, nas diversas alfinetadas ao presidente dos Estados Unidos, que já se tornaram regra em 2017. O grande final ficou por conta de Dolly Parton, Jane Fonda e Lily Tomlin, que se reuniram para criticar Donald Trump com muito humor feminista:
“Nos anos 80 nos recusamos a sermos controladas por um sexista, mentiroso e egoísta. E agora, em 2017, ainda nos recusamos a sermos controladas por um sexista, mentiroso e egoísta”.
Confira aqui todos os vencedores da noite