[RESENHA] Dicas de Imensidão e o feminismo de Margaret Atwood

[RESENHA] Dicas de Imensidão e o feminismo de Margaret Atwood

Margaret Atwood ganhou maior visibilidade através da série de TV inspirada em seu livro “O Conto de Aia“. Com o sucesso, editoras começaram a investir mais em suas obras e uma que ganhou edição caprichada pela editora Rocco foi a coletânea de contos Dicas de Imensidão. A obra traz dez contos onde em sua maioria são narrados por mulheres. As histórias acontecem entre a década de 50 a 90 no Canadá.

Todos os contos apresentam o olhar das mulheres e sobre as mulheres. São histórias sensíveis, algumas falam sobre o amor, outras sobre paixão seja ela por um ser humano ou pela carreira. Elas carregam a ironia característica de Atwood e todas têm como seu fio condutor as dores e o prazer de ser mulher em diferentes tipos de sociedade.

O primeiro conto, Lixo Verdadeiro, se passa em uma colônia de férias para meninos que se torna um convite para recordar sobre a descoberta da sexualidade. Meninos espiando as garçonetes que tomam banho de sol e a excitação que o proibido traz. A forma como a mulher é retratada pelos homens em diferentes fases da vida que vai desde a idolatria por mulheres mais velhas até total descaso pelas consideradas “fáceis” faz pensar que pouca coisa mudou quanto à imagem da mulher.

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A personagem da garçonete Roanette mexe com o imaginário dos garotos do acampamento, tanto dos pequenos, como dos monitores. O retrato traçado dela é de uma pessoa misteriosa e que jamais será conhecida totalmente.

“Ela é a favorita de todas, embora seja difícil dizer exatamente por quê. Não é apenas uma questão de ser uma pessoa agradável, fácil no convívio (…). Ela tem outro status misterioso”.

O segundo conto, Bola de Cabelo, é sobre a necessidade de pararmos de vez em quando para nos redescobrirmos. Margaret nos apresenta uma personagem que poderia ser Miranda Priestly de O Diabo veste Prada, só que mais humana. A personagem Kat passa por uma cirurgia para retirar um cisto e esse passa a ser tipo um “filho” para ela, um filho conservado em formol.

“O cisto se revelou um tumor benigno. Kat gostou daquele emprego da palavra benigno, como se a coisa tivesse alma e lhe desejasse bem”.

Dicas de Imensidão

Em Ísis na Escuridão é apresentado uma mulher pela visão de um homem. Selena é uma poetisa incrível e peculiar e é tudo o que Richard gostaria de ser. Ele insere nela todo o desejo de quem poderia ter sido caso tivesse talento. Neste conto é mostrado como o tempo e a vida podem alterar planos e pessoas. Em algumas passagens é possível identificar que talvez Murakami tenha lido esta obra ao escrever Minha Querida Sputnik (só uma hipótese).

“No entanto, como podia ele esperar que ela tivesse mantido a fé em algo em que ele próprio havia tão descaradamente fracassado”.

Morte por paisagem fala sobre a ausência das pessoas e como os eventos que acarretaram a morte podem estar sempre presentes nas memórias. Lois tinha uma amiga no acampamento de verão, Lucy, que desaparece misteriosamente. É um conto sobre a ausência física e a presença dessas pessoas que já se foram no pensamento das que ficaram.

“Todo mundo tem de estar em algum lugar e este é o lugar onde Lucy está. Ela está no apartamento de Louis, nos buracos que se abrem para dentro da parede (…). Ela está lá. Está inteiramente viva”.

O Homem do brejo fala sobre histórias de paixão que não duram, paixão, pois é algo avassalador que tem prazo de validade. Julie é uma jovem estudante que tem um affair com seu professor e ao perceber que, apesar dele dizer que a ama, ela nunca será como sua esposa, ou melhor, não pode prestar esse papel. Margarete liga o descobrimento do amor próprio de Julie com a descoberta de um homem do brejo que estava congelado no fundo de um lago.

“Não se alonga a falar sobre a esposa, que não é mais a rival ameaçadora da história: Julie agora já foi também uma esposa. E sente uma simpatia dissimulada por ela”.

A obra Dicas de Imensidão presenteia seu público com sarcasmo, cinismo e boas doses de ironia. Nem todas as personagens são assumidamente feministas, mas todas possuem um “quê” de revolucionária, seja nas histórias onde são narradoras ou apenas personagens. Cada conto possui uma particularidade que mostra que a vida pode passar e nem sempre tomar os caminhos que são imaginados. Cada pessoa é um oceano, um oceano de imensidão.

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Autora convidadaJanaína Ajala é formada em Publicidade, tentando entrar no mundo mágico da redação e sair do mundo das séries. Pisciana que sonha acordada, gostaria que John Hughes dirigisse sua vida.

Dicas de Imensidão Dicas de Imensidão

Autora: Margaret Atwood

Editora Rocco

240 páginas

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