Os melhores álbuns de 2019

Os melhores álbuns de 2019

Confira os melhores álbuns de 2019 e saiba quais foram os que não saíram dos nossos ouvidos ao longo deste ano. 

Por Flávia Azolin

Lover – Taylor Swift

Lover -Taylor-Swift

O sétimo álbum de estúdio da cantora Taylor Swift é um dos mais íntimos e maduros da cantora até agora. Com elementos de algumas das melhores eras, “Lover” lembra o melhor de “Speak Now”, “Red” e “1989”. É uma narrativa delicada sobre crescer, tanto no amor quanto na vida como um todo. Nele estão contidas letras sobre feminismo e união entre mulheres.

No clipe de “You Need to Calm Down” há até mesmo a reconciliação com a cantora Katy Perry, artista com quem Taylor possuiu uma longa rivalidade bastante tóxica. A rivalidade feminina também é um assunto abordado na música, que entre outros assuntos importantes, trata do problema do incentivo à competitividade feminina.

“You Need to Calm Down” faz um retrato do preconceito histérico que predomina na atualidade, em contraponto com a temática do álbum Lover. Como um dos singles mais importantes do álbum até agora, a música destaca que é melhor estar do lado dos amantes. Outro destaque é para a música “The Man”, que fala sobre sexismo no mercado da música, estabelecendo comparações entre a forma como mulheres e homens são tratados pela sociedade quando demonstram liderança e assertividade.

Wasteland, Baby! – Hozier

Wasteland, Baby! - Hozier: Os melhores álbuns de 2019

“Wasteland, Baby!” é o segundo álbum de estúdio do cantor Hozier, que desde seu antecessor e álbum de estreia, Hozier, apresenta músicas muito fortes e consistentes. Cinco anos após o sucesso marcante de “Take Me To Church” o artista retorna com suas melodias envolventes e quase trágicas. O ar gótico presente em suas canções continua uma característica marcante, com corais e vocais em igrejas. Destaque para a música “Nina Cried Power”, que homenageia grandes artistas, com uma composição emocionante que presta reverência à Nina Simone e outros nomes importantes do mundo da música.

Embora não seja melhor que o primeiro álbum, é um destaque na discografia de um artista que tem se mostrado cada vez mais interessante e talentoso. A fórmula que funcionou no primeiro álbum é aprimorada no segundo e, por mais que a área da atual música de Hozier seja segura, não é nem um pouco deserta.

Por Nah Jereissati

Santo Sossego – Banda Pietá

Santo Sossego - Banda Pietá: Os melhores álbuns de 2019

Quatro anos após o lançamento do primeiro disco, o trio da Pietá, encabeçados pela potiguar Juliana Linhares, trouxe ao mundo este ano “Santo Sossego”. Com ares de um sopro fresco, porém forte, o segundo disco vem ainda mais potente ao misturar o seu questionamento político e social ao folclore e regionalidades nacionais. Em suas faixas, o disco nos faz navegar pelos confins do país, numa procissão revisitada, e bate de frente com o conservadorismo.

É difícil e árduo que uma produção música, com anos de diferença e mesmo com maturidades aprimoradas, consiga estender a sua qualidade imprimindo estudo e aplicação de novas técnicas sonoras, mas Pietá consegue isso. Com participações de Khrystal, ilessi e Lívia Nestrovski, o sotaque da vocalista ganha destaque em Suçuarana – faixa pesada do disco que fala da identidade de ser mulher, nordestina, do peso da carne feminina. Se há como unir poesia, política e a diversidade do Brasil, Pietá o faz bem até demais.

Pílula Livre – Doralyce

Pílula Livre - Doralyce: Os melhores álbuns de 2019

Com tom extremamente político e identitário, Doralyce lançou este ano seu segundo disco, “Pílula Livre”. Um dos principais expoentes nacionais do afrofuturismo, a cantora pernambucana traz um álbum completamente autoral que parece muito mais uma história sonora de realidades políticas e sociais brasileiras – voltadas principalmente para as identidades da mulher, negra, LGBT+ e periférica.

O álbum abre com seu hit já conhecido e gravado em primeiro momento por sua companheira, Bia Ferreira, Miss Beleza Universal, que questiona o padrão de beleza imposto às mulheres. Mas o “Pílula” vai para muito além desse questionamento. Subversiva em cada batida eletrônica que mistura aos sons do seu Nordeste, Doralyce também pontua denúncias sociais, abusos de poder, discute a desmilitarização – e questiona o assassinato de Marielle Franco. É um disco de fôlego e de força, para manter os dias de luta.

Legacy! Legacy! – Jamila Woods

Legacy! Legacy! - Jamila Woods

Segundo disco de Jamila Woods, “Legacy! Legacy!” leva ao pé da letra a tradução de seu título: traz um passeio sobre a ancestralidade e o legado da cultura negra que forma a cantora. Ao longo das faixas e das construções, fica evidente as diversas facetas de Jamila como autora de poesia, ativista política e defensora de projetos sociais. Mas como isso é possível sonoramente?

Com cada música sendo dedicada a alguma personalidade essencial para sua formação identitária, o disco se torna um museu bem cuidado e iluminado: Jamila dá nome aos grandes nomes da história negra, mescla a sua história a deles e reverencia as heranças que chegam até si. Em notas de Jazz e R&B, ao cantar o que se propõe, a cantora também agrega os elementos das cantoras e dos cantores negros que apresenta. O destaque fica pela canção intitulada “BETTY”, em que nos explode aos ouvidos e aos refrões a suavidade que nos lembra Betty Davis com fôlego para a luta e para o questionamento.

Por Aline Garcia

Rito de Passá – MC Tha

Capa álbum Rito de Passá Mc Tha

Desde 2014, a funkeira MC Tha já colocava no mundo suas canções: foram 4 singles (“Olha Quem Chegou”, “Pra Você”, “Bonde da Pantera”, “Valente”, mais versões acústicas) antes do lançamento do primeiro álbum, em junho. A produção de “Rito de Passá” foi feita de forma independente, parte em colaboração com o amigo e também artista Jaloo – parceria já conhecida por “Céu Azul”. O EP é de uma qualidade técnica impecável, mas o carro-chefe mesmo é a força de Thais, notável através de sua voz e reforçada por sua imagem e performances.

“Rito de Passá” traz melodias envolventes, marcadas pelas letras profundas da compositora – como em “Oceano” e “Maria Bonita” – e por manifestos de independência – com “Coração Vagabundo” e “Avisa Lá” –, todas com as quais ouvintes podem se identificar. O projeto é resultado de uma mistura entre a umbanda, o funk, a mpb e muita luta. E ela não vai parar tão cedo: confirmada no Réveillon do MECA Inhotim, MC Tha também já foi anunciada no line-up do Lollapalooza de 2020. É pra você amar! 

Por Juliana Costa

<atrás/além> –  O Terno

Depois do álbum anterior, “Melhor do que parece”, a banda O Terno, formada por Tim Bernardes, Gabriel Basile e Guilherme D’almeida, parece ter passado por uma reflexão da sua forma de entender a música ao apresentar seu novo trabalho,”<atrás/além>”. A reflexão vem de uma inquietação própria da vida humana, espelho de crises de trocas de idades, do passado para o presente. Assim, os músicos embarcaram em uma jornada mais madura, próxima dos seus 30 anos de vida, e por quê não dizer minimalista, conceito presente até na capa do disco (que referencia seus três álbuns antigos).

Repleto de arranjos e letras nas quais predomina-se a linguagem reflexiva – em que pouco se diz, e por isso mesmo tudo se torna mais significativo -, “<atrás/além>” se apresenta como um disco perfeito para simbolizar este ano de transição de décadas.

Por Juliana Trevisan

The Center Won’t Hold – Sleater Kinney

The Center Won't Hold - Sleater Kinney: Os melhores álbuns de 2019

O nono álbum da banda Sleater Kinney foi produzido pela St. Vincent e lançado pelo selo Mom + Pop em agosto deste ano. A naturalidade das guitarras e da poesia confessional das composições traz críticas sobre a sociedade atual e o papel da mulher, grande marca de uma banda pioneira no riot grrrl como foi a Sleater Kinney.

Numa sociedade machista e patriarcal as mulheres não podem envelhecer publicamente, precisam esconder rugas e marcas do tempo e não podem desejar nada a não ser o cuidado e é exatamente o oposto é representado pelas músicas do “The Center Won’t Hold”.

As letras falam sobre certas ambições e medos, sobre como o desejo das mulheres pode ser usado contra elas numa tentativa de podar qualquer forma de poder e subversão, além da vida sem descanso em que estamos inseridas (dupla jornada e duplas cobranças). Mulheres ambiciosas não podem desistir da vida e projetos que construíram só porque a sociedade não quer seu sucesso e o álbum traz um grito de resistência, a possibilidade de continuar no seu próprio caminho, mesmo que o centro não aguente, porque o futuro é agora e nós não podemos voltar atrás.

Por Rafaella Rodinistzky 

Quântica – Yzalú e Shirley Casa Verde

Quântica - Yzalú e Shirley Casa Verde

“Quântica” é o retrato sonoro da amizade entre Yzalú e Shirley Casa Verde, duas potências energéticas do hip hop nacional independente. O EP reúne 5 faixas que abordam as dores da mulher negra com força e beleza. Sem rodeios, a dupla manda a letra perguntando “quem matou Marielle?”, aborda também a  resiliência e resistência da mulher negra desde a infância, ensinamentos ancestrais, genocídio negro e autoaceitação. As mensagens estão distribuídas nas tracks “Intro”, “A Estrada”, “Ovelha Negra”, “Religare” e “Rainhas da Noite”.

Em “Quântica” sempre há espaço para mais potências do hip hop nacional. A faixa “Rainhas da Noite” conta com as participações especiais de Cris SNJ, Meg Pedrozzo e Gabi Nyarai, fortes representantes da nova geração de mulheres do rap brasileiro. A sororidade vai além do som neste EP, Yzalú assina a direção artística e executiva, com seu selo “Nave Maria”, e Shirley Casa Verde carimba a direção musical. Yzalú e Shirley Casa Verde são vozes que não se calam mesmo quando a ordem é silêncio absoluto.

Por Clara Gianni

Madame X – Madonna

Madame X - Madonna

Marcando seu retorno após o interessante mas desconexo “Rebel Heart” (2015), o décimo quarto álbum de estúdio da Rainha do Pop é ambíguo, contraditório e imprevisível como a própria. Fruto de um longo período de reflexão, captação de novas inspirações e conceitos, “Madame X” é Madonna na fila do bufê pegando de absolutamente tudo, simplesmente porque ela pode. Já não se observa tanto o apelo radiofônico em excesso dos álbuns mais recentes: aos sessenta e um anos, Madge se vê em uma confortável posição na qual pode experimentar com sons e referências, sem se importar com charts ou com o equilíbrio precário das paradas de sucesso.

Embora certas experimentações ao longo do disco soem questionáveis para algumas ouvintes, é marcante a espontaneidade e a sinceridade de cada uma das faixas, discutindo desde questões como a política de controle de armas norte-americana, até momentos mais suaves e reflexivos sobre autodescoberta, comprovando que, mesmo após mais de trinta anos de carreira, Madonna ainda tem muito para contar.

Por Isabelle Simões

A Pill For Loneliness – City and Colour

A Pill For Loneliness - City and Colour

Para Dallas Green, escrever canções é como uma espécie de terapia, tarefa que retira o peso da mente e busca ressignificar a vida. Quatro anos após o lançamento de “If I Should Go Before You” (2015), o cantor e compositor canadense da banda City and Colour, lança “A Pill for Loneliness” em outubro deste ano. Segundo Dallas, ele utilizou esses anos para refletir sobre o estado atual do mundo, compondo canções em tempos de Brexit, Donald Trump e do ressurgimento da supremacia branca na política dominante. “[…] as melodias continuam nascendo, como sempre, nos tempos sombrios“.

A inspiração para o nome do álbum veio de uma pesquisa científica que comprova que estamos vivendo a era mais solitária da história da civilização. Segundo a pesquisa, a solidão é um fator que enfraquece o sistema imunológico e causa doenças neurodegenerativas, onde cientistas buscam, atualmente, desenvolver uma pílula para tal cura. 

Em um mundo onde ingerimos remédios para todos os tipos de problemas e as conexões humanas são desenvolvidas por meio de redes sociais e aplicativos, o álbum de Dallas Green surge como uma pílula esperançosa para os tempos atuais. As canções melancólicas de Dallas são como um respiro após uma longa e exaustiva corrida. 

Por Camille Legrand

Lizzo – Cuz I Love You

Lizzo - Cuz I Love You: Os melhores álbuns de 2019

2019 foi, sem sombra de dúvidas, o ano da Lizzo. Analisando especialmente o seu último álbum, lançado em abril deste ano, “Cuz I love You” fica claro como a artista cresceu e decidiu se arriscar mais no hip-hop e no rap em suas músicas. Distintamente do EP antecessor, “Coconut Oil”, o qual apostava mais nos grandes vocais e na harmonia melódica da cantora, no álbum de 2019 mesclou-se a potência vocal com habilidades de rimas rápidas e cadenciadas, bem como encantou a todos com suas habilidades de flautista (vista principalmente no single “Truth Hurts”). Esta, apesar de não ser inédita (mas um remanejamento de um álbum anterior), tornou-se a música de maior sucesso da artista até agora (ficando sete semanas no topo da Billboard Hot 100) e acompanhada do restante do álbum e das diversas colaborações (no e fora do álbum), promete abrir o caminho de Lizzo como uma das grandes artistas da música pop norte-americana. Nas letras, permanece a mensagem recorrente e relacionável de, simultaneamente, amor próprio e amor (em maioria) perdido, envolta no sedutor ritmo de pop/R&B, o que garante a conquista automática do público, especialmente o feminino.

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