Em 2018 conferimos diversas leituras marcantes escritas por mulheres. Ambientadas em universos da ficção científica, histórias sobre mundos distópicos, casas assombradas, obras feministas de mulheres que desafiam o machismo, 2018 foi um excelente ano com vários lançamentos de autoras clássicas e contemporâneas. Confira alguns dos melhores livros lançados em 2018!
Herland – A Terra das Mulheres, Charlotte Perkins Gilman (Rosa dos Tempos)
Indicação da autora Laís Fernandes
A autora da magnífica obra de terror O Papel de Parede Amarelo também aventurou-se em um romance utópico sobre o funcionamento de uma sociedade matriarcal: em Herland – A Terra das Mulheres, lançado pelo selo ViaLeitura, a leitora é apresentada a três homens muito problemáticos que decidem investigar os mistérios que pairam pela denominada Terra das Mulheres, país no qual não há nenhum vestígio masculino.
Envoltos em preconceitos e pensamentos machistas, eles vão aos poucos desconstruindo opiniões tortuosas e tomando ciência de um mundo totalmente novo, promissor e com uma sociedade ancorada no bem estar e edificação de todas as meninas e mulheres que ali vivem.
A autora fez um belíssimo trabalho ao imaginar cada ponto inerente a uma sociedade e em como determinadas pautas poderiam funcionar ou não em uma sociedade majoritariamente feminina; religião, maternidade, governabilidade, agricultura e escolaridade são apenas alguns dos assuntos abordados ao longo a obra. Há, também, uma grande discussão sobre o papel das mulheres dentro daquela sociedade e em paralelo com outros países de sociedades patriarcais. Há uma troca de experiências muito rica entre as mulheres d’A Terra das Mulheres e os visitantes (todas as novidades são registradas para fins de estudo, demonstrando a preocupação e o compromissos que as habitantes possuem com o conhecimento).
Charlotte Perkins Gilman, ativista feminista e também poetisa norte-americana, nos deixou escritos riquíssimos acerca da importância das discussões sobre gênero no mundo em que vivemos. Herland é, com toda certeza, uma obra que merece ser lida, apreciada e discutida por todas e todos. (Leia a resenha aqui)
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A Parábola do Semeador, Octavia Butler (Morro Branco)
Indicação da autora Jéssica Reinaldo
Lançado pela Editora Morro Branco, com a tradução de Carolina Caires Coelho, o livro foi originalmente lançado em 1993, mas chegou no Brasil somente este ano.
O livro se passa na década de 2020, e conta a história de uma garota, Lauren Oya Olamina, que mora em uma pequena comunidade perto de Los Angeles. Estamos falando de um mundo onde todos são perigosos, as drogas se tornaram algo comum, as pessoas possuem o suficiente para viver e a esperança de um mundo e um futuro melhor é extremamente difícil de se conservar. Lauren possui uma habilidade chamada hiperempatia, em que ela consegue dividir as emoções de indivíduos.
Em um mundo de completo caos e destruição, onde o governo não consegue ter controle sobre nada, é muito complicado e arriscado ter essas habilidades. Lauren começa a desenvolver um próprio sistema de crença, em que ela reflete sobre quem é Deus e como lidar com o mundo abatido e horrível em que vive.
Como uma boa distopia, podemos traçar paralelos sobre os acontecimentos de A Parábola do Semeador e nossa própria vivência, ainda mais depois de um ano tão complicado quanto esse.
Octavia Butler é uma escritora maravilhosa, que deve ser lida por todos(a), em todos os momentos possíveis. Sua forma de contar uma história é simples, mas suas histórias são pesadas e difíceis de digerir, tratando sempre do racismo, dos abusos de poder, da falta de poder e do papel da mulher no mundo. (Leia a resenha aqui)
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O Portão do Obelisco, N.K. Jemisin (Morro Branco)
Indicação da autora Camille Legrand
A sequência chegou logo a tempo de fecharmos as análises literárias do ano (resenha) e continua com a primorosa empreitada do pós apocalíptico mundo da Quietude.
Dessa vez, finalmente vemos o que aconteceu – e continua acontecendo – com a filha perdida da protagonista Nassun, sendo ela a grande surpresa em termos de personagens. O conflito construído entre mãe e filha é tanto perigoso quanto identificável e verossímil, transformando-se no verdadeiro mote para o que – acreditamos – será o grande fim da série de N.K. Jemisin. No mais, a inserção de novos personagens, bem como a transformação e evolução dos já conhecidos, acrescenta melhorias e maior profundidade a trama, lançando os acontecimentos e elementos do primeiro volume à um novo patamar narrativo.
Tendo em vista já estarmos inseridas na história, o enredo de O Portão do Obelisco tornou-se mais dinâmico e (ainda mais) fluído, sendo os nossos sentidos de previsão e entendimento das personagens estimulado. A autora conseguiu transpor a mentalidade e as vitórias narrativas do primeiro volume, acrescentando elementos de profundidade narrativa e fantástica a história de Essun, não sendo por acaso a vitória do Hugo Awards, bem como o primeiro volume, criando uma ansiedade ainda maior à vinda do terceiro – e último – volume ao Brasil.
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A Assombração da Casa da Colina, Shirley Jackson (Suma de Letras)
Indicação da autora Camille Legrand
A obra que inspirou o sucesso da Netflix, A Assombração da Casa da Colina foi relançada no primeiro semestre, pela Suma de Letras. A história, como já dito na resenha, foi a responsável por lançar Shirley Jackson ao reconhecimento entre os amantes do gênero de terror, tendo, mais tarde, influenciado grandes nomes da literatura inglesa como Neil Gaiman e Stephen King.
Na história, quatro estranhos se hospedam na temida Casa da Colina para participar de um experimento social com relação a reputação sobrenatural da casa. O fator psicológico do livro é extremamente vivo, sendo ainda mais intensificado pelo fato de ser narrado em primeira pessoa através dos olhos da personagem Eleanor, bem como que as detalhadas descrições, os eventos e os contextos são minuciosamente pensados de forma a inserir a leitora profundamente na história. Tal qual como o objetivo da casa.
Assim como a Casa, Shirley não deseja que nós saiamos da trama – pelo menos não mentalmente – construindo uma narrativa envolvente e misteriosa do início ao fim e transformando o final – distinto da série – verdadeiramente surpreendente e inesperado à leitora. Trata-se, claramente, de um clássico do gênero, impecavelmente escrito e que, dessa forma, não pode ser deixado de lado em uma futura leitura.
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Itinerário Fotobiográfico, Fernanda Montenegro (Edições Sesc)
Indicação da autora Jessica Bandeira
Este ano foi mágico para Fernanda Montenegro. Com quase 90 anos, a atriz fez novela e ainda teve tempo de nos presentear com Itinerário Fotobiográfico, livro de fotografias organizado por ela e pelas Edições Sesc. O projeto durou cerca de oito anos, e foi um mergulho visceral da própria Fernandona em suas memórias pessoais que se misturam à história do teatro e da televisão brasileira.
A atriz conta que decidiu colocar a mão na massa e ajudar na concepção do livro, pois quando as Edições Sesc apresentaram o primeiro esboço da obra, ela achou muito ruim. Decidiu, então, entrar na curadoria para reunir um material de primeira qualidade que contasse sua história nos palcos.
Itinerário Fotobiográfico é um livro fantástico, repleto de fotografias raras e de comentários feitos pela atriz sobre algumas fotos. Há cartas de admiradores célebres como Gregory Peck e Lauren Bacall. Certamente é um dos trabalhos mais detalhados de 2018. Além de Itinerário, Fernanda também está preparando um livro de memórias, “Meus Papéis”.
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A Mulher Entre Nós, Greer Hendricks e Sarah Pekkanen
Indicação da autora Jessica Bandeira
Um thriller para ninguém colocar defeito, A Mulher Entre Nós é o primeiro livro em co-parceria das escritoras Greer Hendricks e Sarah Pekkanen.
Com uma estrutura narrativa cheia de armadilhas, o livro se propõe a contar a trajetória de Vanessa após a separação de seu marido, Richard. Ele está prestes a se casar com uma mulher mais jovem, e isso provoca uma série de reflexões na personagem principal.
Pense neste romance como um caleidoscópio muito psicodélico. Diversas vozes se juntam para discutir quem é, afinal, a mulher entre os personagens do livro. A estrutura de romance policial feat thriller também discute o relacionamento abusivo e todas suas facetas. Um livro que certamente causou muito barulho neste ano.
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Objeto Sexual, Jessica Valenti
Indicação da autora Isabelle Simões
Em um mundo que romantiza relações abusivas, perpetuando em inúmeras obras artísticas o ciúmes como um “ato de amor”, ou o controle como a forma do homem demonstrar “preocupação” com a parceira, a autora Jessica Valenti revela em seu livro autobiográfico Objeto Sexual como as mulheres ainda são culturalmente ensinadas que tais atos abusivos são demonstrações de amor.
Expondo suas memórias sem tabus, como uma conversa informal entre amigas, Jessica Valenti conta sobre os seus relacionamentos abusivos e as violências que vivenciou nos espaços públicos, além de questionar temas do feminismo contemporâneo como a cultura do estupro, aborto e o machismo de ser uma mulher produtora de conteúdo na internet.
Objeto Sexual: Memórias de uma Feminista é uma obra essencial para que adolescentes e adultos possam questionar suas próprias relações com outras pessoas, diante desse mundo que ainda enxerga as mulheres como objetos sexuais em todos os espaços. O livro serve como um alerta para identificar casos de relacionamentos abusivos, onde muitas vezes as mulheres ainda enxergam como relacionamentos saudáveis.