Hoje viemos com a nossa listinha dos melhores livros de 2022, histórias que nos marcaram e nos fizeram companhia ao longo deste ano.
O Priorado da Laranjeira – Samantha Shannon
Escolhido por Leticia Rodrigues
Mil anos após a guerra contra uma criatura dracônica que desejava dominar o mundo, tradições e crenças são postas à prova quando a ameaça iminente de seu retorno assombra os povos do Oeste e do Leste, os obrigando a formar uma aliança improvável.
Em O Priorado da Laranjeira, — livro que foi dividido em dois tomos na edição brasileira — Samantha Shannon cria uma alta fantasia com mitologia complexa, guerreiras lendárias, magia e dragões. Com representatividade sáfica e aquileana, o romance é trazido de um jeito realista, onde o amor nem sempre é mais importante que o dever.
A política é bem construída e gira em torno de personagens opostos, mas com papéis cruciais no conflito que virá, suas histórias são costuradas entre si quase ao acaso até culminar em um mesmo objetivo.
Publicado pela Plataforma 21, Priorado da Laranjeira gira em torno de mulheres poderosas, com uma narrativa cativante e personagens complexos e memoráveis.
Cometerra – Dolores Reyes
Escolhido por Gabriela C. Marra
Cometerra é o livro de estreia da autora argentina Dolores Reyes, que chegou ao Brasil pela Editora Moinhos. Ela nos conta a história de uma menina que tem a mãe assassinada e é obrigada a ir ao ao seu enterro. Lá, ela come a terra e tem visões de como sua mãe morreu.
Durante a leitura conhecemos um pouco da personagem e o porquê dessa relação com a terra. Como se a terra a chamasse, ela come novamente, fecha os olhos e vê o que aconteceu com sua professora desaparecida. Logo, várias pessoas a procuram em busca de respostas. A partir de suas visões, ela descobre onde estão as mulheres desaparecidas.
Dolores Reyes explora o tema do feminicídio a partir do olhar da filha de uma das vítimas – e faz isso muito bem!
Leia também >> Os melhores álbuns de 2022
Mandíbula – Monica Ojeda
Escolhido por Gabriela C. Marra
No livro Mandíbula, publicado pela Autêntica Contemporânea, Fernanda acorda com os pés e mãos amarrados em uma cabana no meio da floresta. Ela foi sequestrada por sua professora de literatura, uma mulher que vive entre as sombras de sua mãe e os assédios que sofreu de suas próprias alunas.
A história é perturbadora e mostra como as relações entre mulheres, mãe e filha, irmãs, amigas, professora e aluna, podem ser violentas e deixarem marcas.
A autora Mônica Ojeda, a partir de vários pontos de vista, nos traz um universo cheio de imagens monstruosas, que caminham entre o fantástico e o cotidiano feroz, para pensarmos o quanto os laços familiares e de amizade podem ser doentios.
As convidadas – Silvina Ocampo
Escolhido por Laís Fernandes
Silvina Ocampo foi uma das maiores contistas argentinas e só nos últimos quatro anos é que vem tendo a sua obra publicada no Brasil pela primeira vez.
Em 2022, o livro de contos As convidadas, lançado pela Companhia das Letras, apresenta 44 contos de realismo mágico que flertam com o macabro, o grotesco, o incômodo e aspectos da realidade que nos cercam e que por mais estranhos que pareçam, não são impossíveis de acontecer.
Leia também >> Biblioteca Wandinha Addams: livros de terror escritos por mulheres que ela teria na estante
Tendo na maioria destes contos mulheres como protagonistas, Silvina colocava muito de si em suas personagens, pessoas deslocadas de suas famílias e relacionamentos, estrangeiras dentro de si mesmas, que muitas vezes encontravam no estranhamento e no que Freud batizou de “O infamiliar” (do alemão, Das Unheimliche) uma motivação para se aceitarem e finalmente se livrarem das garras do patriarcado.
Silvina Ocampo é uma voz que permanece atual e denuncia os problemas da América Latina por meio de seus contos com atmosfera de sonho — ou, na maioria das vezes, de pesadelo.
O pequeno livro de tradições japonesas: A arte de alcançar uma vida plena – Erin Niimi Longhurst
Escolhido por Cintia Pudim
Dividido em 3 grandes tópicos, Kokoro (coração e mente), Karada (corpo) e Shukanka (criação de hábito), O pequeno livro de tradições japonesas, publicado pela Harper Collins, nos leva para um mergulho na cultura nipônica tendo a autora Erin Longhurst como instrutora.
Buscando inspirar e orientar os leitores, Longhurst traz informações sobre a história do Japão, hábitos, filosofias e até mesmo frases motivacionais – que servem como guia para os simpatizantes do estilo de vida japonês. Ela também oferece diversas histórias pessoais e de sua família como forma de aproximar ainda mais o leitor de sua cultura.
Aprenda a montar um bentô (marmita japonesa), saiba qual a melhor forma de curtir um shinrin-yoku (banho de floresta) e aprecie a efemeridade dos ikebanas (arranjos de flores) como se estivesse no Japão. A vida plena está a poucos passos de distância.
A Fabulosa Casa com Pernas – Sophie Anderson
Escolhido por Cintia Pudim
Inspirada por contos narrados por sua avó, Sophie Anderson traz uma releitura da lenda de Baba Yaga, uma das mais temidas bruxas do folclore do Leste Europeu. Dessa vez, a emblemática bruxa desempenha um papel muito especial como guardiã da passagem entre o mundo dos vivos e dos mortos.
Em A Fabulosa Casa com Pernas, Baba e sua neta, Marinka, levam uma vida bastante reclusa, morando em uma simpática casinha com pernas que adora correr pela floresta, nunca ficando muito tempo no mesmo lugar. Todas as noites as duas preparam jantares típicos (nos fazendo mergulhar na culinária do local) para receber os mortos que precisam de orientação para fazer a passagem.
Leia também >> As melhores séries ou temporadas de 2022
|As mudanças frequentes e o estilo de vida tão peculiar fazem de Marinka uma garota solitária, mas tudo muda quando a sua avó desaparece e ela precisa de toda a ajuda possível para encontrá-la.
Publicado pela DarkSide Books, A Fabulosa Casa com Pernas é uma obra sobre escolhas, amadurecimento e sobre aceitar quem somos, tudo isso com um bom toque de magia.
Estou Feliz Que Minha Mãe Morreu – Jennette McCurdy
Escolhido por Milena Machado
Jennette McCurdy chocou o mundo com o lançamento de seu livro de memórias Estou Feliz Que Minha Mãe Morreu e ele logo se tornou a bíblia das filhas de mães narcisistas. O choque inicial do público com o nome do livro logo os levaria a reconhecer que era o título perfeito para a história que McCurdy tinha para contar.
No livro, publicado pela nVersos editora, a estrela da série teen iCarly mostra como viveu a maior parte de sua vida sob os abusos da própria mãe. Nos é revelado que ela sempre odiou ser atriz e detestava interpretar a personagem que lhe deu fama, ela só estava ali para realizar um sonho que era de sua mãe. E foi durante os anos de iCarly que a mãe de Jennette a encorajaria a ser anoréxica.
Leia também >> Os melhores quadrinhos de 2022
As cenas de abuso e traumas revividas por McCurdy são extremamente chocantes, porque nos fazem pensar na vulnerabilidade das crianças perante aqueles que lhes deveriam proteger e amar.
Acabamos por compreender o motivo de Jennette McCurdy não ter voltado para o revival de iCarly, pois fazer parte da série seria um grande gatilho para ela. Ela não poderia desistir da luta pela recuperação dos abusos da mãe, que só percebeu quando ela finalmente morreu.
A Guerra da Papoula – R.F. Kuang
Escolhido por Tessa Olivier
Um lançamento incrível para o gênero de fantasia no mercado brasileiro. Já bastante prestigiado no exterior, A Guerra da Papoula, publicado pela Intrínseca, conta a história de Rin, uma órfã sobrevivente da Segunda Guerra da Papoula.
Criada friamente por seus pais adotivos, Rin ingressou aos 14 anos na academia imperial para fugir de um casamento arranjado com um homem muito mais velho. Lá, aprende não apenas artes marciais e técnicas de combate, como também a arte xamã utilizando a flor que gera tanto confronto entre os reinos: a papoula.
R.F. Kuang é historiadora e usa a guerra sino-japonesa para como pano de fundo e sua principal inspiração. Rin é uma protagonista cativante, uma guerreira decidida a proteger sua nação de uma guerra devastadora. Nós acompanhamos todo seu crescimento e força ao longo do livro, que termina com um ótimo gancho para o segundo volume da trilogia.
Cartografia dos Afetos – Gabi Oliveira, Karina Vieira
Escolhido por Lorrane
Karina Vieira e Gabi Oliveira são cariocas, amigas – não necessariamente parecidas – e fazem um podcast para conversar sobre os afetos e como isso impacta na vida de mulheres negras. Com apenas 30 minutos, elas nos emocionam e garantem ainda um recorte que abraça raça, classe e gênero, como poucas vezes visto.
Esse ano, publicaram o livro Cartografia dos Afetos, que revisita algumas das conversas mais impactantes durante esses 3 anos de podcast, através do selo de saúde e bem-estar de uma das maiores editoras do Brasil, a Companhia das Letras.