Da mesma autora de Lady Killers: Assassinas em Série, Tori Telfer, Mulheres Confiantes: Golpes, Trapaças E Outras Armadilhas Da Persuasão Feminina nos traz muito mais a pensar do que apenas histórias de mulheres trambiqueiras.
Em uma edição belíssima da editora Harper Collins, com capa dura nos tons de preto e roxo, e seu próprio marcador de fita preto, o livro tem um estilo chique, clássico e sofisticado, digno das mulheres relatadas nele. A obra é dividida em quatro partes, que separam as histórias das mulheres de acordo com a categoria de seus crimes. E tem de tudo um pouco, acreditem!
É importante ressaltar que as histórias são reais, e muitas delas têm relatos ou comentários de pessoas que conviveram com essas maravilhosas trambiqueiras. Desde jornalistas que escreveram sobre elas na época até familiares comentando suas personalidades.
Leia também >> Lady Killer: bela, recatada, do lar e assassina em série!
O que torna essas Mulheres Confiantes?
“Golpes, trapaças e outras armadilhas da persuasão feminina” é o subtítulo do livro Mulheres Confiantes. Mas por que essas trambicagens são consideradas artifícios da persuasão feminina e não um desvio de caráter ou maldade?
A intenção de Tori foi enaltecer essas qualidades perversas dessas mulheres e contar suas histórias da forma mais verídica e fiel possível. E, de fato, são histórias interessantíssimas! Muitas vezes nos pegamos torcendo por elas, querendo fazer o que elas fizeram e até mesmo nos emocionamos com suas histórias de vida e como chegaram a fazer o que fizeram.
A autora traz esse subtítulo como uma forma de enaltecer a coragem e confiança dessas mulheres – e de muitas outras que não conhecemos – de ter atitudes “fora do padrão” esperado das mulheres para conquistar algo na vida.
E isso necessita confiança, principalmente em nós mesmas, para sair da curva e fazer algo diferente – mesmo que com atos ilegais nesse caso – para ter a vida que queremos e não a que querem para nós.
Na introdução, Tori coloca alguns relatos de homens que passaram na vida dessas mulheres, outros que foram vítimas de seus golpes, e muitos não se sentiram ameaçados por elas. Estranhamente, eles se dizem surpresos e até fascinados pela oportunidade de ter convivido com elas. Afinal, se não houve mortos nem feridos, tudo bem deixar uma mulher “se divertir” de vez em quando.
“Muito melhor ignorar todas as evidências e acreditar que a história foi gentil, que os homens tiveram misericórdia e que as princesas sobreviveram.”
Tori Telfer – trecho de Mulheres Confiantes
Por que essas Mulheres Confiantes não são famosas?
O livro é tão incrível que ficamos nos perguntando: por que não tem um filme ou uma série sobre ele? E além disso, por que não conhecemos essas mulheres antes?
Homens que cometeram golpes e trapaças semelhantes, e até piores, como crimes mais violentos e gangsterismo, ficaram mundialmente conhecidos. Um exemplo é Frank Abagnale Jr., interpretado por Leonardo DiCaprio em Prenda-me se For Capaz, que teve sua vida contada em filmes e foi admirado por muitos por sua inteligência e sagacidade.
Então, por que essas mulheres não receberam a mesma notoriedade que os homens? Pelo mesmo simples e mais antigo motivo da nossa sociedade patriarcal: as mulheres não podem ser mais inteligentes do que qualquer um ao seu redor a ponto de tirar grande vantagem deles.
Geralmente, golpistas são pessoas carismáticas, que nos fazem pensar em “ser como eles” e não em “o que eu faria se os conhecesse”. E ver essa personalidade em uma mulher gera um entusiasmo e esperança de que nossa vida não precisa ser apenas regida por padrões sociais.
Claro que não vamos sair por aí tirando vantagem de todo mundo, mas nos motiva a fazer algo diferente para conquistar nosso espaço, de certa forma.
A confiança das mulheres e a sociedade
Tudo isso nos faz lembrar de Anna Delvey, que teve sua trajetória contada em uma série da Netflix. Seus golpes e trapaças para sua ascensão social poderiam muito bem fazer parte das histórias de Tori. Porém, seu final não foi vitorioso, e não digo isso apenas pela prisão de Anna.
Muitas vezes, na série, Anna era retratada como uma mulher perturbada, mentalmente incapaz de responder pelos seus atos, porque a sociedade não consegue admitir que uma mulher pode querer mais do que tem e lutar por isso com meios escusos.
Isso definitivamente não acontece em Mulheres Confiantes. Tori Telfer as retrata como elas são. Independentemente de seus motivos, elas não são apagadas por doenças mentais ou incapacidade social. Simplesmente foram pessoas que tiveram “x” atitudes para conseguir “x” objetivo.
Leia também >> As Golpistas: um olhar feminino sobre strippers
Por que vale a pena?
Não vamos falar muito sobre as histórias dessas Mulheres Confiantes para não dar nenhum spoiler, porque realmente vale a pena a leitura. Nos surpreende tão poucas pessoas falarem sobre o livro, inclusive.
Vale lembrar que se tratam de crimes reais não violentos, que poderiam ser praticados por qualquer um, independente de gênero. Mas a forma leve e contextualizada que a autora apresenta essas histórias torna mais pessoal a experiência de conhecer essas mulheres, suas trajetórias e como adquiriram tamanha confiança para realizar tais atos.
Tori monta o cenário para nós, leitoras, onde entendemos as dificuldades da época, da classe social, da política de cada país naquele momento, da situação financeira e dos motivos pessoais dessas mulheres para planejar e executar tais crimes.
É um livro poderoso, mas bem tranquilo se comparado aos podcasts de crimes reais aos quais já nos acostumamos a ouvir. Entretanto, é sempre bom lembrar que são temas sensíveis e nem sempre agradam a todos, então, se estiver aberta, vale muito a pena a leitura.
Além disso, é uma boa leitura de cabeceira, daquelas que você pode ler uma história de cada vez em doses homeopáticas, para distrair entre um livro e outro. Apesar de não ter conseguido fazer isso, confesso, li tudo em dois dias.