[CINEMA] Mulher Maravilha: Um grande símbolo do Feminismo

[CINEMA] Mulher Maravilha: Um grande símbolo do Feminismo

Dizer que a Mulher Maravilha é um ícone é basicamente desnecessário; depois de mais de 70 anos acho que isso é bem óbvio. Desde seu surgimento no início da década de 1940 sua legião de fãs só aumentou (mesmo com as burradas da DC) e ainda que sua história tenha alcançado, por enquanto, menos mídias do que seus colegas Batman e Superman, a imagem da Wonder Woman extrapolou para muito além do universo dos quadrinhos.

Ela se mostra como um dos grandes símbolos do feminismo até mesmo (ou talvez principalmente) para aquelas que não conhecem toda a sua trajetória, que é cheia de controvérsias e retrocessos. E mais de uma vez a dificuldade de conciliar a imagem de uma mulher enquanto símbolo de poder com a de uma pessoa atolou o percurso da personagem, ao ponto de que só agora nossos sonhos de vê-la em um longa live action estão se concretizando, cercados de receios e expectativas.

Quando eu parei pela primeira vez para ler sobre seu surgimento, ela se revelou para mim como uma heroína desde sua concepção. O surgimento da Mulher Maravilha está ligado a uma defesa às críticas que os quadrinhos estavam sofrendo em 1940, acusado de usar exacerbadamente a violência, inclusive sexual, o que seria danoso para a formação das novas gerações. Maxwell Gaines, fundador da All American Comics, cria então um grupo de aconselhamento editorial para as histórias, que está diretamente ligado ao surgimento do selo DC, e para o qual foi convidado o psicólogo William Marston, figura complexa que irá criar a nossa querida princesa amazona. Para ele, estando as críticas ligadas diretamente à horrível e sangrenta masculinidade retratada nos quadrinhos, a melhor forma de se defender seria através de uma super-heroína¹.

Marston vivia um relacionamento poliamoroso com a advogada Elizabeth Holloway e com sua ex-aluna, Olive Byrne, sobrinha da famosa feminista (e racista, é importante dizer) Margaret Sanger, que foi mantido em segredo até mesmo dos filhos deles. Diferente do feminismo, Marston acreditava que as mulheres eram superiores aos homens, melhores e mais puras e foi dentro dessa lógica que ele desenvolveu a personagem da princesa Diana:

Francamente, a Mulher Maravilha é a propaganda psicológica para o novo tipo de mulher que, eu acredito, deveria governar o mundo” (Marston em link) (tradução livre)

Essa noção de superioridade de Marston não se alinha ao feminismo, que crê na igualdade e equalidade entre os gêneros, apesar de as atitudes de empoderamento, independência e união das mulheres que vemos no quadrinho desde o início se enquadrarem no discurso feminista. A influência do feminismo no surgimento da Mulher Maravilha aparece também na ilustração com Harry G. Peters, que havia trabalhado na revista Judge e ilustrado para a mesma página sufragista que Lou Rogers, influência que ele fez questão de explicitar:

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Nem com tudo isso a personagem escapou dos retrocessos bizarros que a DC é tão especialista, ao ponto de ter sido, inicialmente, a secretária da Sociedade da Justiça², só pra citar um dos mais ultrajantes. Essa é uma das minhas maiores preocupações em relação ao surgimento da nossa querida guerreira nas telas do cinema. Não que eu ache que vão transformá-la numa secretária de novo, mas o medo da Mulher Maravilha ser representada como menos do que ela é não me parece um receio tão absurdo assim.

Mesmo sendo uma figura já conhecida e importante, é só a partir dos anos 80 que a Mulher Maravilha irá ganhar o espaço que reconhecemos que é dela hoje como parte da “trindade DC”, ao lado do Batman e do Superman. Ainda assim, diferente deles, a plataforma principal da super heroína continuou sendo as HQ’s, estreando nas telonas essa semana (e nem é num filme solo).

Foram poucas adaptações para as telas até hoje e, salvo o live action com Lynda Carter, não temos outras do tipo que valham a pena comentar. Para quem não teve muito contato com quadrinhos, e esta entre os 20 e 30 anos, provavelmente a lembrança mais marcante da princesa das amazonas sejam as animações Liga da Justiça e sua continuação, a Liga da Justiça Sem Limites, ambas da década de 2000. Aqui Diana surge durante uma invasão alienígena para ajudar os demais heróis; no primeiro episódio acompanha-se o Batman e o Superman, havendo um vislumbre dela nos últimos minutos. Quando a guerreira amazona surge em combate, os outros heróis não a conhecem e chegam a subestimá-la, gerando aquelas cenas que a gente adorava ver, quando a Mulher Maravilha mostrava que não tava ali de brincadeira.

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Diana não conhece o mundo dos homens a princípio, e não compartilha de seus valores. Ela não entende os comentários sobre o seu uniforme, já que nunca viveu em uma sociedade que se desse o direito de julgar uma mulher pelas suas roupas, e trata com desprezo as tentativas de objetificá-la e diminuí-la.

Além dessas duas séries a princesa de Themyscira ganhou um filme animado solo em 2009, onde ela e o seu exército de amazonas salvará o mundo de Ares, o Deus da Guerra. De certa forma, acho que o filme mostra muito das bizarrices da DC, uma vez que, ao mesmo tempo que se esforça em deslegitimar algumas das críticas que Diana faz à sociedade patriarcal, separar o “ser guerreira” do “ser mulher” no discurso da animação e nos oferecer uma Diana monogâmica e apaixonada, também nos gerou cenas fantástica, como essa abaixo em que ela incentiva uma menina a não se deixar abater pelos meninos, que a queriam como donzela indefesa, e ensinando-a a lutar para poder derrotá-los na brincadeira:

Nos últimos anos as produções cinematográficas em cima de personagens de quadrinhos os têm tornado cada vez mais complexos e sérios, havendo aproximações intencionais com a realidade. Mesmo sendo personagens a princípio absurdos, e até engraçados (dependendo da sua ótica), o Superman e o Batman foram envoltos em intrigas e minúcias em suas personalidades e formações éticas.  Nós vimos mais de uma vez a dificuldade que há em equilibrar uma personalidade autêntica ao símbolo de força que a Mulher Maravilha é, e essa semana teremos uma noção se o fantasma do fracasso paira ou não a nossa querida amazona. E eu digo alguma noção, porque acho que só teremos certeza ano que vêm, quando chegar o filme solo dela.

Diante das trajetórias da Diana Prince e das personagens de quadrinho como um todo, as expectativas para uma Wonder Woman complexa, profunda e muito badass estão borbulhando pela internet e pelo mundo nerd afora. Para muitas de nós esse é um sonho que se realiza, mas que pode vir a se transformar em pesadelo. Será que eles conseguirão mostrar toda a grandeza dela, mesmo ela sendo uma participação? Será que a Mulher Maravilha vai ser só uma entrada triunfal, ou será que ela vai se envolver diretamente com a disputa do filme? Em mais de um conflito entre Batman e Superman nos quadrinhos foi ela quem fez a coisa parar, basicamente metendo porrada em todo mundo. Eu, honestamente, espero que ela roube a cena PRA VALER!

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Referências

  • ¹“since “the comics’ worst offense was their blood-curdling masculinity,” Marston said, the best way to fend off critics would be to create a female superhero.” In. link
  • ²Número 8. Buzzfeed

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