[QUADRINHO] “Uma Morte Horrível” na cidade do amor (ou nem tanto assim)

[QUADRINHO] “Uma Morte Horrível” na cidade do amor (ou nem tanto assim)

Pénélope Bagieu é uma das mais conhecidas quadrinistas da França. Ela nasceu em Paris, em 1984, e é formada em Cinema de Animação. Em 2007 criou o blog “Ma vie est tout à fait fascinante”, onde ilustrou algumas de suas viagens pelo mundo desse jeito lindo aí de cima. Conquistou um público considerável e a oportunidade de publicar “Cadavre Exquis”, ou “Uma Morte Horrível”, que foi um sucesso de vendas e por isso uma aposta ótima da Editora Nemo aqui no Brasil.

Antes de mais nada, olhe essa arte, que delícia:

capazoe

Sinopse

Zoé é uma jovem representante das gerações Y e Z, cheia de frustrações, tédio, que não sabe o que fazer com a própria vida, mas decididamente não está satisfeita. Hostess de um salão de automóvel em tempo integral, tem que lidar com homens a assediando o dia inteiro e quando chega em casa, o que a espera é um namorado machista, nojento, desempregado, egoísta, você-pode-inserir-o-adjetivo-ruim-que-quiser-aqui.

Foi num intervalo para o lanche do trabalho que Zoé conheceu Thomas Rocher, um escritor de meia idade famoso que está passando por um momento sem inspiração na vida. Zoé passa a ser sua musa inspiradora. Sem fazer a menor ideia de quem seja Thomas e totalmente desinteressada em literatura, Zoé se encanta com a possibilidade de viver um amor atencioso e respeitoso como ela gostaria de ter, larga sua antiga vida e vai viver com o escritor. Com a aparição da editora de Thomas, que por acaso também é sua ex-mulher, Zoé se vê no meio de um escândalo midiático iminente.

banheiro

Resenha sem spoilers

Uma observação: esse título “memístico” brasileiro caiu como uma luva. O empréstimo do meme “que morte horrível!” deu um duplo sentido que casa muito bem com o humor do quadrinho. A tradução do título original é algo como “Cadáver Requintado”, muito rico e fino, muito torrada francesa, mas falta o humor e ainda dá um certo spoiler. Não vou comentar sobre isso pra não dar spoiler. De rien! Mas vamos ao que interessa.

Uma Morte Horrível” causa uma empatia imediata pela Zoé, já que ela vive tantas situações bem comuns do universo feminino, ou seja, muito tapa machista na cara. E isso vem de diversas formas, tanto por personagens masculinos, que nesse caso são todos tarados estúpidos, como femininos, numa tentativa da colega de amenizar as situações que Zoé vive ou colocar a culpa na própria. Quem nunca?

trabalho

Nesse sentido, a personagem principal é mais desenvolvida de acordo com as relações dela, com o trabalho, as colegas, o namorado. Ou mesmo a aproximação dela do Thomas. Quem pede para subir no apartamento de um estranho para usar o banheiro? Oi? Que louca! Jamais vou admitir que já fiz isso na vida.

colega

Mas parece que Zoé quer mesmo é que apareça um príncipe encantado, que a permita viver suas dúvidas sem estresse, sem o trabalho chato, com flores, surpresinhas e carinhos. E um gato maravilhoso chamado Gatsby. E é exatamente isso que Thomas Rocher vai apresentar para ela.

Essa comodidade da Zoé e mesmo o desinteresse dela pelo trabalho de Thomas é o que gera um certo suspense sobre como isso pode se desenvolver. E Pénélope Bagieu faz isso de forma genial, colocando em cheque sua fé na protagonista, te fazendo perguntar onde foi parar aquela determinação em não ser capacho de homem ou se Thomas é mesmo o príncipe que Zoé pensa que ele é.

A outra personagem que se torna central no desenvolvimento da história é Agathe, editora e ex-esposa de Thomas, que entra inicialmente como uma ameaça à nossa heroína. Ela tem uma elegância e um ar de deboche que gera ciúme e um espírito competitivo em Zoé.

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É interessante perceber como a autora monta o cenário romântico tão inquestionável de Paris e depois desconstrói tudo, como um castelo de cartas. A gata borralheira que encontra seu príncipe em Paris, se torna a princesa prometida e tem seu final feliz (rimei!), só que não.

E o escândalo? Ah, o escândalo só dá pra descobrir lendo. E vale a pena. O quadrinho é bem divertido, tem essa arte que beira à despretensão e ao mesmo tempo tem aquele clima das animações francesas. Quase dá pra ouvir o acordeon de Yann Tiersen, da trilha de Amélie Poulain, tocando entre as páginas.

As cores são muito vivas, um espetáculo à parte. Fora que Pénélope Bagieu é uma artista muito expressiva. É muito fácil entender cada personagem pelas caras que fazem, até mesmo o gato Gatsby. Momento caras e bocas pra vocês:

O final é uma surpresa, não de todo imprevisível, mas muito engraçada. Preciso dizer que a morte é horrível mesmo! A morte de vocês aí, de curiosidade! 


Uma Morte Horrível

Pénélope Bagieu

Editora Nemo

128 páginas

Onde comprar: Amazon 

Escrito por:

36 Textos

Bagunceira e bagunçada, por dentro e por fora. Prefere ver séries em maratonas, menos Game of Thrones, porque detesta spoiler. Totalmente apaixonada por desenho e animação. Tem mania de citar filmes em conversas, conselhos, brigas ou onde couber uma referência. Prefere gastar dinheiro com quadrinhos do que com comida, sendo muito entusiasta do quadrinho nacional e graphic novels em geral. Formada em Jornalismo, mas queria mesmo trabalhar com roteiro e ilustração.
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