The Tortured Poets Department: o rancor de uma superação em disco duplo

The Tortured Poets Department: o rancor de uma superação em disco duplo

O dia 19 de abril de 2024 ficou marcado no mundo pop pelo lançamento do novo trabalho de estúdio de Taylor Swift, intitulado “The Tortured Poets Department” (“O Departamento dos Poetas Torturados”, em tradução). Anunciado durante o Grammy Awards em fevereiro deste ano, o décimo primeiro álbum da cantora norte-americana gerou expectativa nos fãs, principalmente pela temática que mistura romance, melancolia e revolta pessoal.

Taylor Swift durante anúncio de novo álbum no Grammy Awards 2024
Taylor Swift durante anúncio de novo álbum no Grammy Awards 2024 | Foto: Reprodução

Desde o anúncio público, The Tortured Poets Department recebeu uma divulgação intensa e engajada. Uma das estratégias foi a estreia de uma nova ferramenta de contagem regressiva no Instagram. Além disso, houve uma parceria com o Spotify em Los Angeles (EUA), onde foi montada uma biblioteca ao ar livre com livros “altamente selecionados para representar a direção do novo álbum”.

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No Brasil, um outdoor em São Paulo foi instalado com um QR Code que direciona os ouvintes a um vídeo no YouTube, onde a cantora, em uma máquina de escrever, digita apenas a letra H. Similarmente, outdoors foram instalados em outros países, cada um direcionando para vídeos com outras letras misteriosas, formando pistas que deveriam revelar uma palavra ligada ao novo lançamento.

Outdoor de promoção de "The Tortured Poets Department" em São Paulo
Outdoor de promoção de “The Tortured Poets Department” em São Paulo | Foto: Divulgação

Álbum é marcado por rancor e melancolia

Com 16 faixas disponíveis nas plataformas digitais e uma antologia com mais 15 músicas adicionais, The Tortured Poets Department carrega influências líricas de artistas como Fleetwood Mac e é marcado por letras melancólicas e rancorosas, que casam perfeitamente com as melodias harmoniosas e profundas inspiradas no indie rock.

A maioria das composições marca um momento da vida comum (e doloroso) para a maioria das pessoas: a compreensão de que alguém que parecia ser a pessoa perfeita, na verdade estava causando danos emocionais profundos em sua vida. A união das 31 canções forma uma espécie de alegoria musical que exemplifica as fases do luto pelo fim de um relacionamento, desde a negação até a aceitação e superação – independentemente de como elas se apresentam.

Capa de "The Tortured Poets Department"
Capa de “The Tortured Poets Department” | Foto: Reprodução

Em I Can Fix Him (No Really I Can), a cantora aborda um relacionamento com um homem problemático e perigoso. Ela acredita poder consertá-lo, apesar das advertências das pessoas ao redor sobre sua índole e atitudes. Swift descreve sua atração por ele, sua percepção da natureza perigosa do romance e suas próprias habilidades para lidar com ele. No entanto, no final, ela reconhece a possibilidade de que talvez não possa realmente consertá-lo.

Já em The Smallest Man Who Ever Lived, por exemplo, Taylor fala sobre traição, desilusão e autoafirmação. A cantora retrata uma relação tóxica e o processo de recuperação e compreensão após o seu fim. Usando um tom passivo-agressivo, ela aceita o fato de que o amor incondicional que pensou viver estava apenas em sua imaginação e quer que o ex-parceiro lide pelo resto de sua vida com o fato de que foi uma péssima pessoa enquanto estavam juntos.

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A sonoridade traz memórias de “folklore” e “evermore”

As melodias do álbum The Tortured Poets Department transportam o ouvinte de volta a 2020, quando Taylor se dedicou ao indie folk ao lançar os álbuns “folklore” e “evermore“. Essa característica, embora agrade aos fãs que têm ambos os álbuns classificados entre seus favoritos da cantora, decepcionou uma parcela de ouvintes que esperava o retorno do pop dançante, característico de álbuns como “1989” e “Red“, por exemplo.

A atmosfera pessoal e introspectiva transmitida pelas melodias proporciona ao ouvinte uma sensação de imersão emocional, permitindo uma conexão mais profunda com a persona descrita nas canções. Como resultado, o público tem a oportunidade de refletir e contemplar as temáticas abordadas, cultivando espaço para uma experiência auditiva cada vez mais íntima.

As estruturas musicais, que variam da simplicidade à complexidade, combinadas com arranjos cuidadosamente elaborados, destacam as composições, facilitando a conexão do público com as narrativas de Taylor. Isso permite que os ouvintes regulares da cantora reconheçam os eventos referenciados nas letras, mesmo quando apresentados com alterações em nomes ou características dentro dos enredos.

Taylor Swift e Post Malone, artista convidado para colaboração na faixa de abertura "Fortnight"
Taylor Swift e Post Malone, artista convidado para colaboração na faixa de abertura “Fortnight” | Foto: Reprodução

Apesar de o 11º álbum de Swift ter sido aclamado pela crítica e pelos fãs por sua profundidade e experimentação musical, também existe o outro lado da moeda. A ausência de elementos pop proeminentes pode ter sido uma escolha arriscada. Até “Lover” (2019), os fãs da cantora estavam acostumados com uma mistura de estilos mais voltados para o pop, e a transição para um estilo mais folk e indie pode ter deixado alguns ouvintes desejando um retorno a essa temática.

No entanto, essa mudança também pode ser vista como uma demonstração da versatilidade e maturidade artística de Swift, que não tem medo de desafiar as expectativas do público e explorar novos territórios musicais.

Comparado ao seu álbum anterior, “Midnights“, The Tortured Poets Department apresenta uma evolução coerente e uma melhoria em termos de composição. Enquanto Midnights entrega uma mistura de ritmos e narrativas, o novo produto demonstra uma progressão mais natural e uma abordagem mais consistente em termos de melodia e temática. As letras atuais criam uma narrativa que faz mais sentido quando ouvida tanto em ordem quanto aleatoriamente, pois não fogem da proposta que o álbum se propõe.

Imagem de capa do álbum "Midnights"
Imagem de capa do álbum “Midnights” | Foto: Divulgação

A estratégia de Taylor Swift de lançar duas produções para o mesmo álbum foi uma jogada genial que, além de aumentar a quantidade de conteúdo fornecida para os fãs, também transformou um contratempo em uma vantagem. Quando as músicas vazaram dois dias antes do lançamento oficial, Swift aproveitou a oportunidade para surpreender o público e a mídia com o anúncio de um segundo álbum, “The Tortured Poets Department: The Anthology“.

A aceitação nem sempre quer dizer perdão ou esquecimento

Uma das mensagens mais fortes transmitidas pelo novo álbum de Swift é que aceitar que algo não deu certo não significa necessariamente esquecer ou perdoar. Cada pessoa tem seu próprio modo de lidar com determinadas situações, e a superação pode manifestar-se de várias maneiras que vão além da indiferença.

Como é de conhecimento do seu público, a maioria das músicas de Taylor faz referência a momentos marcantes de sua vida, seja familiar, amorosa ou profissional. Apesar das inspirações óbvias para as novas composições da cantora, a impressão que fica é a de que todos os ouvintes são membros do departamento dos poetas torturados, ou pelo menos já foram em algum momento.

E a parte mais importante é saber que não há regras quando se trata de um momento tão delicado, sentimentalmente falando. Muito além de apenas ouvir, sentir todas as faixas desse álbum faz entender melhor do que nunca que, realmente, tudo é justo no amor e na poesia.

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Uma jornalista apaixonada por música, literatura e cinema. Seus maiores hobbies incluem criar playlists para personagens fictícios e falar sobre Taylor Swift nas redes sociais.
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