Odiar a Taylor Swift não torna ninguém popular desde 2010

Odiar a Taylor Swift não torna ninguém popular desde 2010

Na vastidão aparentemente infinita da internet, onde a tecnologia evolui diariamente, algumas pessoas desafiam essa evolução e se imergem em uma dimensão paralela do tempo. Nessa fenda, os anos parecem estagnar, e expressar aversão a Taylor Swift e ao seu trabalho ainda é uma maneira de conquistar popularidade – mesmo que isso reflita um desconhecimento mínimo sobre sua carreira.

Em um cenário onde as redes sociais exibem hologramas ultrarrealistas e a realidade virtual se tornou parte da rotina, é curioso que algumas pessoas tenham decidido congelar no passado. Elas continuam a expressar de forma insistente o quanto consideram Taylor Swift “chata” e “sem sal”, ou até mesmo recorrem a xingamentos machistas. Essa atitude parece remanescente de um tempo em que tal comportamento reforçava a masculinidade de garotos e a superioridade de meninas que buscavam se destacar como “diferentes das outras”.

O hábito de criticar Taylor Swift: um olhar sobre as reações na internet

Taylor Swift durante a turnê do álbum "Red"
Taylor Swift durante a turnê do álbum “Red” | Foto: reprodução

As reações em cadeia resultantes da propagação desses comentários odiosos merecem atenção. Como um efeito dominó, uma única declaração desencadeia uma convocação de outros adeptos do ódio gratuito, ávidos por compartilhar suas “opiniões impopulares” como se fossem revelações profundas que transformarão a humanidade.

Aparentemente, existe até mesmo um fato cientificamente comprovado: os problemas do mundo aparentam diminuir significativamente a cada comentário não solicitado sobre Taylor Swift na internet. Enquanto o resto do mundo se identifica cada vez mais com suas músicas e se encanta com produções de videoclipes cada vez mais elaborados, esse grupo insiste em permanecer na discordância.

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A razão de tanto desgosto, sem um motivo aparente, tem um fundo sexista

A polêmica entre Taylor Swift e Kanye West, bem como a incessante atenção aos seus relacionamentos pessoais, coloca em destaque um problema nos bastidores da indústria do entretenimento: o machismo que permeia esse cenário. A hostilidade direcionada a Swift frequentemente reflete padrões de desvalorização e controle que prejudicam as mulheres em diversas áreas de suas vidas.

Taylor Swift e Kanye West durante VMA de 2009
Taylor Swift e Kanye West durante VMA de 2009 | Foto: reprodução

O infame incidente no MTV Video Music Awards, em que West interrompeu o discurso de Taylor, ilustra claramente como algumas figuras masculinas buscam minimizar as conquistas das mulheres ou desacreditá-las para promover outras, sem necessidade. Esse evento continua ressoando, alimentando a rivalidade sem sentido que a internet insiste em criar entre Taylor e Beyoncé.

Apreciar o talento de uma não implica em criticar a outra, algo perfeitamente plausível. Não há dificuldade em reconhecer que ambas têm méritos próprios, são vozes de suas gerações e artistas brilhantes. Elas alcançaram feitos incríveis em suas carreiras de maneiras distintas (lembremos que seus públicos são diferentes) e merecem reconhecimento. É relevante destacar para os desinformados: elas não se odeiam, muito pelo contrário, muito pelo contrário. Por que criar rivalidade entre duas amigas com trabalhos completamente diferentes?

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Beyoncé e Taylor Swift no aniversário de 25 anos de Taylor.
Beyoncé e Taylor Swift no aniversário de 25 anos de Taylor | Foto: reprodução

Além disso, a constante atenção aos relacionamentos amorosos da cantora evidencia a tendência de julgar mulheres por suas escolhas românticas, ignorando a complexidade e privacidade de suas experiências pessoais. Essa visão simplista e retrógrada só reforça a ideia equivocada de que o valor de uma mulher está inteiramente ligado aos homens com quem se relaciona.

A aversão pública a Taylor Swift muitas vezes parece enraizada em percepções preconceituosas sobre seu gênero e na tentativa de controlar sua imagem e trajetória. Identificar esses padrões nos leva a examinar de maneira crítica como o machismo persiste no mundo do entretenimento, seja na indústria em si, seja na forma como o público percebe o que é promovido pela mídia. Isso realça a necessidade de questionar modelos desiguais e injustos que afetam não apenas Taylor, mas a grande maioria das mulheres na esfera pública.

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Apesar das discordâncias, Taylor Swift continua sendo a indústria musical

Quem se envolve com o entretenimento midiático nas redes sociais, seja como fã ou hater de Taylor Swift, certamente já se deparou com a afirmação de que ela é a indústria musical. Embora possa parecer exagero à primeira vista, essa afirmação é, na realidade, uma verdade inegável.

Contrariando as más línguas, Taylor detém uma importância monumental para quem que cresceu ouvindo suas músicas. Suas canções possuem uma capacidade única de moldar e validar experiências individuais, conferindo um senso profundo de identificação e compreensão, algo que raramente é encontrado em outros contextos. O ato de amadurecer ao som de suas melodias é como ter uma amiga próxima, narrando as alegrias e obstáculos que todos enfrentamos em nossa jornada.

The Eras Tour (2023)
Taylor Swift durante a The Eras Tour (2023) | Foto: reprodução

O poder transformador das canções de Taylor Swift nas experiências individuais

Esse laço emocional traça um mapa íntimo de nosso próprio crescimento, lembrando-nos de que nunca estamos sozinhos. A habilidade notável de Taylor Swift em capturar os detalhes singulares da trajetória de cada pessoa a transforma em uma companheira de vida para seus ouvintes, alguém que cresceu junto a eles e testemunhou cada reviravolta da vida, sempre oferecendo as palavras reconfortantes necessárias no momento preciso.

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Ao agrupar todos os sucessos musicais e colocá-los lado a lado, é como montar um intrincado quebra-cabeça musical, com cada peça representando um estilo diferente. Surpreendentemente, mesmo com essa variedade de sons, a identidade vibrante e característica de Taylor não se perde. A sensação é quase como se estivéssemos diante de uma mágica musical, ou como se cada álbum fosse um elo em uma história que nos acompanhou desde a infância.

Taylor Swift durante a The Eras Tour (2023)
Taylor Swift durante a The Eras Tour (2023) | Foto: reprodução

Se o argumento sentimental não se mostra suficientemente persuasivo para convencer os seres superiores que insistem em suas opiniões baseadas em achismos, talvez as informações a seguir possam ser de valor significativo. Ao longo de sua carreira até o presente momento, Taylor Swift acumulou quebras de recordes, álbuns gravados e regravados, bem como um papel proeminente na esfera política e vivências que só uma artista tão grande quanto ela poderia protagonizar.

Uma força econômica e social além da música

Enquanto faz a própria carreira decolar, Taylor também ergue a bandeira dos direitos autorais dos músicos e compositores a cada lançamento de Taylor’s Version. E sabe qual é a cereja do bolo? A The Eras Tour, sua turnê recente, conquistou a posição de terceira turnê mais lucrativa da história, ficando atrás apenas da Divide de Ed Sheeran e da 360 do U2. E a projeção é ousada: Swift está no caminho de se tornar a primeira artista do mundo a alcançar a marca de US$ 1 bilhão em arrecadação até o fim da turnê.

Além disso, a etapa norte-americana da turnê tem exercido um impacto substancial nas economias locais dos Estados Unidos, a ponto de atrair a atenção do Banco Central. Segundo o Federal Reserve da Filadélfia, as apresentações da artista na cidade geraram um aumento nas receitas da indústria hoteleira, representando uma recuperação pós-pandemia. O impacto econômico da presença de Taylor Swift também ecoou por outras localidades, como Cincinnati e Chicago, onde os shows desempenharam um papel notável no incremento da ocupação hoteleira e no fortalecimento da renda local.

Uma artista que une pessoas diferentes 

Taylor Swift durante a The Eras Tour (2023)
Taylor Swift durante a The Eras Tour (2023) | Foto: reprodução

Tais feitos já não parecem tão insignificantes, não é verdade?

Em uma era em que a comunicação é mais dinâmica e interativa do que nunca, que sentido há em manter uma vigilância constante contra um dos maiores ícones pop da atualidade? Não parece um equívoco resistir ao avanço e à evolução do mundo, enquanto você permanece estático, erguendo a bandeira da oposição ao mainstream? Não é óbvio que uma artista capaz de unir pessoas de diferentes origens, preferências e costumes é, sem sombra de dúvidas, dotada de um talento inegável?

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Não gostar de um artista não é desculpa para ataques gratuitos

A discussão sobre preferência musical reflete a diversidade de gostos e opiniões que define a experiência humana. Enquanto alguns artistas conquistam um público diversificado e alcançam um status global, é natural que outros não se identifiquem com sua música ou estilo. Taylor Swift é conhecida por sua capacidade de compor músicas identificáveis ao público e por sua influência no cenário pop, o que pode gerar polarização nas opiniões.

Essa dinâmica saudável abre espaço para debates e diálogos, permitindo que as pessoas expressem suas preferências individuais e se conectem com outras que compartilham visões similares. No entanto, é importante lembrar que a indústria musical abrange diversos gêneros e artistas para atender às variadas preferências do público.

The Eras Tour (2023)
Taylor Swift durante a The Eras Tour (2023) | Foto: reprodução

Expressar desagrado sem um motivo aparente em relação a um artista específico (sobretudo quando ninguém perguntou) pode contribuir, em certos casos, para um ambiente online menos harmonioso. Em um mundo onde a música une, concentrar-se na negatividade pode prejudicar a capacidade da arte de conectar pessoas de diversas origens e perspectivas.

Não há problema em não apreciar as músicas dela, assim como de qualquer outro artista. Ninguém é obrigado a ser um Swiftie, cantar a ponte de Cruel Summer como se a própria vida dependesse disso, ou chorar todo o líquido de seu corpo enquanto ouve The 1. Entretanto, é crucial respeitar o espaço dos outros, independentemente das gostos pessoais.

Ser um hater de um artista só faz sentido quando há razões legítimas para tal, e não gostar do trabalho de alguém não concede o direito de atacá-lo ou ao seu público. Se não aprecia o conteúdo, basta não ouvir, resolvendo seus problemas sem afetar a paciência de outras pessoas. E, por gentileza, guarde sua opinião para quando for solicitada.

Vamos encarar a realidade: Taylor Swift sempre foi um fenômeno. É uma figura sobre a qual todos têm algo a dizer, mesmo que seja um simples “não gosto dela”. Como a própria Taylor já afirmou, sua reputação lhe trouxe alguns inimigos, mas esse é o preço a se pagar por ser uma das maiores artistas de sua geração.

Colagem em destaque: Isabelle Simões para o Delirium Nerd.

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Uma jornalista apaixonada por música, literatura e cinema. Seus maiores hobbies incluem criar playlists para personagens fictícios e falar sobre Taylor Swift nas redes sociais.
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