O universo Coming of Age de Taylor Swift: filmes e séries que ecoam suas canções

O universo Coming of Age de Taylor Swift: filmes e séries que ecoam suas canções

Entre cenas e acordes, existe uma interseção entre filmes e séries “Coming of Age” e o universo musical de Taylor Swift.

Coming of Age e Taylor Swift: a trilha sonora da jornada

Adolescência, em seu significado mais simples, é o período em que ocorre a transição da infância para a vida adulta. O ato de amadurecer, descobrir os extremos de cada sentimento, submeter-se a novas experiências pela primeira vez e até mesmo contradizer a própria existência são alguns tópicos dessa fase, que se encaixam perfeitamente na frase “só quem viveu, sabe”.

No audiovisual, o gênero que corresponde ao estilo de história que apresenta esse enredo chama-se Coming of Age. Focando na juventude do protagonista e em seus dilemas pessoais, que muitas das vezes se assemelham aos nossos, quem melhor do que Taylor Swift para representar essa jornada utilizando a voz?

Dando início à sua carreira aos 14 anos, ela já compôs diversas canções que abordam assuntos relacionados ao crescimento. E mesmo que não esteja presente na trilha sonora oficialmente, é bem fácil associar seu trabalho a filmes e séries que apresentem essa temática.

Na lista abaixo, confira histórias que se encaixam perfeitamente com algumas músicas presentes na discografia da loirinha!

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1) Lady Bird + Nothing New

Indicado ao Oscar de Melhor Filme em 2018, Lady Bird: A Hora de Voar acompanha a vida de Christine McPherson (Saoirse Ronan), uma jovem que está prestes a se formar no ensino médio e tem como maior desejo se mudar de Sacramento, capital da Califórnia, a fim de fazer faculdade. Enquanto sua hora não chega, ela se divide entre as obrigações do colégio e suas vivências como adolescente no início dos anos 2000.

Lady Bird + Nothing New
Imagem: Reprodução

Escrito e dirigido por Greta Gerwig, o longa-metragem apresenta algumas semelhanças com a faixa Nothing New, do álbum Red (Taylor’s Version). A parceria com a cantora Phoebe Bridgers, que é conhecida por manter o tom melancólico em suas canções, a princípio, discute as pressões e desafios enfrentados pelas mulheres dentro da indústria do entretenimento. Mas há um verso no refrão que diz “Como uma pessoa pode saber tudo aos 18 mas nada aos 22?“, que resume a história da protagonista.

Sendo uma garota de personalidade forte, ela sempre achou que merecia mais do que já tinha: sair da cidade em busca de uma vida melhor, com pessoas mais interessantes e que pensassem igual a ela. Imaginava que se instalar em um lugar novo, onde ela poderia finalmente “se encontrar”, seria a solução de todos os seus problemas.

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Pois bem, se aproximando do final, a narrativa joga Christine para uma posição de vulnerabilidade. Tudo o que ela acreditava saber desde que atingiu a maioridade passa a ser questionado. Mesmo “recomeçando”, ela percebe que não tem como ser uma pessoa completa estando totalmente sozinha. A necessidade de ter algo que a relembre de seu passado é essencial. Isso nos leva até um monólogo, onde a nostalgia e a ideia de ser “jovem e interessante” apresentada na música torna-se presente.

2) Eu nunca… + Anti-Hero

Estrelada pela atriz Maitreyi Ramakrishnan, a série gira em torno de uma garota indiana chamada Devi Vishwakumar. Ela não é nada popular na escola, mas está determinada a mudar sua imagem perante os colegas, ainda mais depois de presenciar um evento traumático que a fez perder o movimento das pernas por alguns meses. Pensando no reconhecimento e em viver um romance clichê adolescente, Devi passa o ensino médio tentando se encaixar onde sempre quis, aprendendo muito no processo.

Eu nunca... + Anti-Hero
Imagem: Reprodução

A produção original da Netflix é inspirada em momentos reais da atriz e comediante Mindy Kaling. Misturando humor e pautas importantes na fase jovem da protagonista, a música Anti-Hero é a que melhor se aproxima da personalidade explosiva dela.

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O primeiro single do álbum Midnights, é envolto no conceito de externalizar os pensamentos que surgem durante a madrugada. Apesar de inteligente e segura de suas escolhas, Devi constantemente erra e manifesta dúvidas sobre diversas áreas da sua vida. E isso não acontece só ao alvorecer. Vacilar com suas amigas e se rebaixar perante as ex-namoradas de Paxton (Darren Barnet), seu interesse romântico, estão no topo da lista.

Por mais que a evolução da personagem seja excepcional, muitas vezes ela não percebe que pensar e agir dessa forma é nocivo. No clipe, Taylor representa seus pensamentos intrusivos em forma de pessoas vestidas de fantasmas, o que reforça a ideia de que ela os criou dentro de sua cabeça, semelhante a situação de Devi. O trecho “Deve ser exaustivo sempre torcer pelo anti-herói” aborda exatamente a fase onde ela reconhece que talvez seja o problema das situações.

3) Palavras nas Paredes do Banheiro + Electric Touch

Expulso no meio do seu último ano após um incidente na aula de química, Adam (Charlie Plummer) é diagnosticado como esquizofrênico. Perseguindo seu sonho de ser chef de cozinha, ele precisa lidar com as vozes e alucinações que o atormentam, simultaneamente às obrigações com sua nova escola e uma paixão em potencial.

Palavras nas Paredes do Banheiro + Electric Touch
Imagem: Reprodução

O filme é uma adaptação do livro de mesmo nome, escrito por Julia Walton, que discute de forma leve e cotidiana o drama de um jovem com uma doença mental. Em uma entrevista ao The Hollywood Reportero diretor Thor Freudenthal diz que viu no protagonista uma oportunidade diferente para representar o distúrbio:

“Poderíamos criar uma pessoa na tela que não fosse nem um gênio maluco nem um criminoso violento, (mas) que muitas pessoas pudessem se ver da maneira que eu fiz quando li o livro.”

Igualmente a qualquer adolescente, Adam também passa pela fase do primeiro amor. Maya (Taylor Russell) é a responsável por despertar-lhe sentimentos românticos, juntamente com a euforia e a insegurança de dar um passo além da amizade. A faixa inédita Electric Touch, presente no álbum Speak Now (Taylor’s Version), descreve muito bem essa situação entre os personagens.

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A canção fala sobre a incerteza de se abrir com alguém novo e a possibilidade de encontrar a felicidade ou viver uma desilusão amorosa. A colaboração com a banda pop-punk Fall Out Boy apresenta uma letra e melodia que se encaixam no gênero, assim como combinam com a persona de Adam.

4) Heartstopper + Daylight

Charlie Spring (Joe Locke) e Nick Nelson (Kit Connor) são dois opostos. Enquanto o primeiro é introvertido e aluno exemplar, o segundo é super popular e um ótimo jogador de rugby. Depois que os dois passam a se sentar juntos na aula, uma intensa amizade se desenvolve, evoluindo para um lindo e surpreendente romance.

Heartstopper + Daylight
Imagem: Reprodução

Baseada nos quadrinhos da escritora britânica Alice Oseman, a série é o retrato da suavidade e da responsabilidade afetiva. O enredo discute diversos assuntos relacionados ao amor, amizade, autoaceitação e problemas psicológicos de uma forma tão bonita e sutil que fica difícil não se emocionar, além da representatividade LGBTQIAPN+ ser excepcional.

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Em Daylight, a faixa que encerra o álbum Lover, Taylor canta sobre sua nova visão do amor, comparando-o com a luz do dia. A ideia apresentada é de que ela finalmente achou o sentimento de forma natural, saudável e sem desgaste, assim como o sol e a claridade que vêm pela manhã. Há até um breve trecho na canção onde o álbum Red, considerado um dos mais intensos de sua carreira, é referenciado: “Eu achava que o amor seria vermelho ardente, mas é dourado”.

A música pode representar não só o casal principal, mas também os outros que conhecemos ao longo dos episódios. Todos mantêm um relacionamento onde o companheirismo e o bem-estar prevalecem, principalmente no caso de Charlie, que já havia passado por um relacionamento tóxico antes de Nick.

6) Quase 18 + You’re On Your Own, Kid

A jovem Nadine (Hailee Steinfeld) está passando por situações complicadas desde o falecimento de seu pai. Após sua melhor amiga, Krista (Haley Lu Richardson), começar a namorar seu irmão mais velho (Blake Jenner), ela sente uma sensação extrema de solidão, além de sustentar um relacionamento instável com a mãe (Kyra Sedgwick). Dias vem e dias vão, Nadine passa a estabelecer diálogos frequentes com um de seus professores (Woody Harrelson) e faz amizade com um colega de classe (Hayden Szeto), ambos despertando uma espécie de gatilho que faz com que a faz entender-se melhor.

Quase 18 + You're On Your Own, Kid
Imagem: Reprodução

Sendo constantemente taxada como “difícil de lidar” pela maioria das pessoas, não é à toa que a protagonista clame por alguém que realmente a escute. Perder o pai de forma totalmente repentina atingiu uma parte sensível de seu interior, deixando-a vulnerável emocionalmente. Isso também explica algumas de suas ações durante o filme, já que ele parecia ser o único que a compreendia em sua totalidade.

A estreia na direção da roteirista Kelly Fremon Craig é adepta do autoperdão de Nadine, algo semelhante aos filmes de Greta Gerwig. Apesar das dificuldades e frustrações, a personagem deixa de pegar tão pesado com ela mesma e com aqueles que estão ao seu redor. Mesmo não sendo a única que deveria pedir desculpas, ela opta seguir pelo caminho mais leve.

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A trilha sonora da cena final poderia facilmente ser trocada por You’re On Your Own, Kid, outra faixa do álbum Midnights. Sobretudo, a canção reflete o encorajamento, a importância de acreditar no seu próprio valor e aproveitar o momento, o que se aplica à suavidade que Nadine aparenta ao encerrar o longa-metragem.

7) As Vantagens de Ser Invisível + Mirrorball

Encerrando com um dos maiores marcos da geração atual no gênero coming of age, o filme acompanha Charlie (Logan Lerman), um jovem estudante tímido que se esconde em seu próprio mundo, lidando com a morte de seu melhor amigo e outras tristezas do passado. A situação começa a melhorar assim que ele conhece Sam (Emma Watson) e Patrick (Ezra Miller), irmãos postiços que o ajudam a se abrir e viver novas experiências.

As Vantagens de Ser Invisível + Mirrorball
Imagem: Reprodução

A história é inspirada no livro de Stephen Chbosky, lançado em 1999. O escritor também atuou como diretor e roteirista na obra cinematográfica, o que a deixou totalmente fiel às páginas. Sua forma de expressar os sentimentos de Charlie é feita através de cartas escritas em primeira pessoa, se referindo ao leitor ou telespectador como um amigo. Essa é uma forma muito inteligente de abraçar e entender o personagem, afinal, o enredo contém muitos gatilhos referentes a depressão e suicídio.

No documentário Folklore: The Long Pond Studio Sessions, Taylor explica o conceito e significado de todas as músicas lançadas em seu oitavo álbum de estúdio. Na sexta faixa, Mirrorball, ela utilizou uma metáfora comparando globos espelhados presentes em discotecas e as diversas versões de nós mesmos que usamos, muitas vezes, para agradar as pessoas:

“Temos globos espelhados no meio de uma pista de dança porque eles refletem luz. Eles são quebrados em mil pedaços, e é isso que os faz tão brilhantes. Temos pessoas assim na sociedade também. Elas ficam penduradas lá, e toda vez que elas quebram, isso nos entretém.

E, quando você aponta uma luz para elas, é essa coisa brilhante e fantástica. Mas, na maioria do tempo, quando os holofotes não estão apontados, elas ainda estão lá em cima em um pedestal, mas ninguém está olhando.

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Da mesma forma, Charlie pode ser considerado uma “mirrorball”. A versão que ele mostra de si mesmo para os amigos não é a mesma que ele mostra à sua família ou quando está sozinho dentro do quarto. Assim como em um trecho da ponte da música, ele nunca conseguiu ser natural, tudo o que fez até então foi tentar, tentar e tentar.

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Crédito: colagem em destaque feita por Giovanna Csiszar para o Delirium Nerd.

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Graduanda em Jornalismo com síndrome de Lady Bird. Criadora de conteúdo literário no @sohmagio, têm como filosofia de vida as obras da Ai Yazawa. Nas horas vagas, é fã e apreciadora da profundidade nas músicas do My Chemical Romance e da Taylor Swift.
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