Speak Now (Taylor’s Version): encontrando sua própria voz

Speak Now (Taylor’s Version): encontrando sua própria voz

Na última madrugada (07/07), Taylor Swift lançou a regravação de seu terceiro álbum de estúdio, intitulado Speak Now. Memorável, entre muitos motivos, por ser um disco que a cantora escreveu completamente sozinha, o Speak Now (Taylor’s Version) é mais um marco na jornada de Taylor para retomar os direitos sobre suas canções. No entanto, o álbum também é um registro de anos difíceis na carreira da cantora, quando a fama e a exposição excessiva trouxeram consigo alguns altos e baixos nada comuns para a vida de uma jovem mulher. 

Amadurecer nos holofotes, observada por um mundo inteiro, em um período onde a mídia não media palavras para condenar mulheres por seus relacionamentos, suas roupas ou sua personalidade, certamente são memórias que deixaram marcas amargas. Talvez, justamente por isso, o Speak Now seja um álbum ao mesmo tempo tão melancólico e tão corajoso.

Taylor Swift em ensaio fotográfico do álbum Speak Now (Taylor's Version)
Taylor Swift em ensaio fotográfico do álbum Speak Now (Taylor’s Version) | Imagem: Beth Garrabrant

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Speak Now, um tempo de polêmicas e misoginia

A primeira versão do álbum Speak Now foi lançada no ano de 2010, pouco tempo depois de Taylor ganhar seus primeiros prêmios do GRAMMY Awards, em um período onde a cantora já estava envolvida em diversas polêmicas. Há mais de uma década atrás, o tratamento que as artistas femininas recebiam da mídia era permeado por uma visão de mundo que degradava a mulher, sem que houvesse muita resistência da opinião pública quanto a esse tratamento. 

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As canções românticas que Taylor escreveu sobre seus relacionamentos não escaparam desse filtro de misoginia, que geraram reações hoje conhecidas como “slut shaming”, um termo que se refere ao ato de humilhar mulheres por sua conduta romântica e/ou sexual. Dessa forma, os romances que a cantora viveu, experiências comuns para uma jovem, se tornaram motivo de comentários extremamente misóginos sobre a artista

Anos depois, Taylor viria a se pronunciar de forma clara a respeito desses comentários e manchetes, posicionando-se contra o sexismo na indústria cultural e o tratamento que as mulheres artistas recebem da mídia. No entanto, em 2010, o universo da música pop não havia sido tocado por algumas discussões com a mesma intensidade da atualidade. Assim, slut shaming era uma prática que Taylor sofreria e executaria, como é o caso da agora alterada canção Better Than Revenge.

Swift em ensaio fotográfico do álbum Speak Now (Taylor's Version)
Taylor Swift em ensaio fotográfico do álbum Speak Now (Taylor’s Version) | Imagem: Beth Garrabrant

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Analisando o panorama histórico da carreira de Taylor Swift, a decisão da cantora de alterar a letra da canção Better Than Revenge faz sentido, considerando o quanto a artista também foi ferida por esse tipo de tratamento. A música, que foi criticada por conta do verso She’s better known for the things that she does on the mattress (ela é bem conhecida pelas coisas que ela faz no colchão) teve o trecho modificado para He was a moth to the flame, she was holding the matches (Ele era uma mariposa voando para a chama, ela estava segurando os fósforos). 

Taylor já havia se pronunciado a respeito da canção em uma entrevista concedida ao The Guardian, em 2014, onde afirmou: “Eu tinha 18 anos quando escrevi essa música. Nessa idade, você pensa que alguém realmente pode roubar seu namorado. Depois você cresce e percebe que ninguém rouba alguém de você se essa pessoa não quiser ir embora”

Essa imaturidade presente em Better Than Revenge é mais um contraste com os demais relatos que o álbum Speak Now traz, agora intensificados pelas Vault Tracks, as canções extras que foram descartadas pela artista na época do primeiro lançamento. 

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Taylor em ensaio fotográfico
Taylor Swift em ensaio fotográfico do álbum Speak Now (Taylor’s Version) | Imagem: Beth Garrabrant

Os castelos que desmoronaram com o Taylor’s Version

Uma das canções extras que foram lançadas com a regravação do álbum é intitulada Castles Crumbling (Castelos Desmoronando). A faixa conta com a participação da artista Hayley Williams, que se pronunciou a respeito da música, afirmando que se trata de “uma experiência que nós duas compartilhamos crescendo sob o olhar do público”

People look at me like I’m a monster

Now they’re screaming at the palace’s front gates

Used to chant my name

Now they’re screaming that they hate me

Never wanted you to hate me

(As pessoas olham para mim como se eu fosse um monstro

Agora eles estão gritando nos portões do palácio

Costumavam cantar meu nome

Agora estão gritando que me odeiam

Nunca quis que você me odiasse) 

(Trecho da canção “Castles Crumbling”)

Ensaio fotográfico do álbum Speak Now (Taylor's Version)
Taylor Swift em ensaio fotográfico do álbum Speak Now (Taylor’s Version) | Imagem: Beth Garrabrant

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Pensando no contexto em que a canção foi escrita, Speak Now acaba por ser um álbum que revela uma face sombria da fama e da mídia, com relatos que talvez passem um pouco despercebidos por trás da imaturidade de uma jovem apaixonada, aterrorizada e de coração partido

Além da relação difícil com a fama, o álbum Speak Now ainda traz a marcante canção Dear John, que corajosamente relata um relacionamento abusivo que a cantora vivenciou aos 19 anos. Outras músicas do álbum, como Last Kiss e Haunted, narram experiências difíceis e relacionamentos trágicos que deixaram marcas na artista. É difícil não visualizar um paralelo entre letras tão pesadas e a imagem da menina que deixou de ir em sua formatura do ensino médio para comparecer ao Grammy pela primeira vez. 

So, here I am in my new apartment

In a big city, they just dropped me off

It’s so much colder than I thought it would be

So I tuck myself in and turn my nightlight on

Wish I’d never grown up

(Aqui estou eu, em meu novo apartamento

Em uma cidade grande, eles acabaram de me deixar aqui

É muito mais frio do que eu pensei que seria 

Então eu me cubro e ligo minha luminária

Queria nunca ter crescido)

(Trecho da canção “Never Grow Up”)

Taylor Swift em ensaio fotográfico
Taylor Swift em ensaio fotográfico do álbum Speak Now (Taylor’s Version) | Imagem: Beth Garrabrant

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Faz sentido que Speak Now tenha sido um álbum que Taylor escreveu completamente sozinha, considerando o quanto ela estava solitária diante do universo da fama. Em meio a tantas perdas, violências e expectativas, escrever essas canções foi um caminho para enfrentar os dragões que vieram junto com o crescer e amadurecer aos olhos da mídia. O tom mágico de músicas como Enchanted e Long Live contrasta com a realidade onde essa magia vai lentamente se perdendo, onde a arte é a chave para conservar a esperança. 

Hoje, mais de uma década após o primeiro lançamento do Speak Now, Taylor celebra a vitória contra seus monstros da juventude. Seus fãs, muitos deles que também cresceram nesse período onde a imagem de mulheres artistas era facilmente hostilizada, podem celebrar um mundo onde escrever sobre sentimentos não seja motivo de desprezo, e onde a luta contra a misoginia dentro e fora do universo da fama tenha se intensificado. Se os comentários sexistas sobre Swift ficaram ultrapassados, suas canções, ao contrário, se tornaram atemporais.

Speak Now (Taylor’s Version) é um álbum que nos lembra que crescer e amadurecer passa por encontrar a sua própria voz para se defender e lutar pelo que acredita, mesmo que isso signifique levantar e falar no exato momento em que todos esperam que você fique em silêncio

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Formada em Jornalismo. Gosta muito de cinema, literatura e fotografia. Embora ame escrever, é péssima com informações biográficas.
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