1989 (Taylor’s Version): o álbum de renascimento de Taylor Swift

1989 (Taylor’s Version): o álbum de renascimento de Taylor Swift

É possível que nenhuma era da carreira de Taylor Swift seja tão icônica quanto o universo musical criado pelo álbum 1989. Icônica no sentido mais icástico possível da palavra. O que foi construído com o primeiro lançamento, ainda em 2014, foi um evento na indústria da música que, dificilmente, poderia ter sido projetado, nos mesmos moldes, por outro artista que não Swift. Se hoje em dia, ao olhar para a carreira de Taylor, a encontramos atingindo uma espécie de ápice com a turnê The Eras Tour, muito dessa construção se deve ao que foi plantado com o álbum 1989.

Um leigo, ao olhar com dúvida e ceticismo para a swiftie fever, poderia entender as raízes da universalidade de Swift remontando ao 1989. Embora todos os seus álbuns e eras sejam queridos pelos fãs, o 1989 é uma virada na história da cantora. Ele atesta uma espécie de magia visionária que nos daria pistas do que torna Taylor Swift… bem… Taylor Swift. 

Se todos os álbuns iniciais da carreira da artista, por conta das regravações, carregarão seu nome, em algum nível podemos arriscar dizer que o 1989 é responsável por dar ao nome Taylor Swift um novo contorno dentro da indústria. Um contorno em neon, vívido, ao mesmo tempo, nostálgico e futurista, sem precedentes e absolutamente insuperável!

Ensaio fotográfico para o 1989 (Taylor's Version)
Ensaio fotográfico para o 1989 (Taylor’s Version) (Imagem: Beth Garrabrant)

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1989: um álbum todo dela

Seria injusto dizer que o 1989 finalmente pertence à Taylor. De todos os seus discos, nenhum é tão inseparável da figura da compositora quanto o 1989. Embora todas as suas obras sejam frequentemente muito características para podermos dizer que algo deixa de pertencer à cantora, é impossível pensar o 1989 separado da figura de Taylor. Ele é o evento que dá à artista o status de ídolo dentro da indústria. 

Dessa forma, o 1989 teve uma primeira semana de vendas histórica, quebrou recordes com músicas e vídeos, e até mesmo o CEO da Polaroid responsabilizou Taylor Swift por popularizar as câmeras instantâneas com o lançamento do álbum, tornando a estética vintage uma febre até entre quem não escutava suas músicas. 

Da sinceridade das letras até a construção da identidade do álbum, o 1989 teve o poder de furar bolhas. Com o seu lançamento, ele transformou a indústria da música em uma polaroid onde Taylor assinou seu nome. 

Polaroid do álbum 1989
Polaroid do álbum 1989 (Imagem: reprodução)

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Analisar as narrativas do 1989 talvez lance uma luz a este sucesso estrondoso. O álbum é intitulado com o ano de nascimento da cantora, simbolizando um renascimento artístico. Ele marca a sua transição completa entre gêneros musicais (do country para o pop), e carrega, nas letras e temáticas de suas canções, uma postura corajosa e desafiadora frente aos estereótipos que a mídia lhe impôs. 

Se em seus quatro primeiros álbuns havia algum nível de autocensura de Taylor nas letras de suas músicas (verificável com as vault tracks, canções antigas e descartadas que foram lançadas nas regravações dos discos, e que frequentemente revelam uma abordagem mais crua de algumas temáticas), o 1989 é o primeiro álbum onde a artista explora, ora com humor, ora com tragédia, as criações midiáticas que giram em torno de sua imagem. 

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Em Blank Space, ela ironiza a reputação sexista que a mídia criou a seu respeito. Vemos uma Taylor obsessiva, seduzindo e torturando homens em um trono de poder. O vídeo e a canção são respostas inteligentes e estratégicas frente à misoginia que marcou o início de sua carreira.

Se em um primeiro momento, Taylor é criticada por escrever (e lucrar!) com músicas que retratam suas experiências amorosas, com o 1989 ela mostra que é capaz de transformar qualquer experiência em um sucesso criativo. 

Ensaio fotográfico de Taylor Swift para o 1989 (Taylor's Version)
Ensaio fotográfico para o 1989 (Taylor’s Version) (Imagem: Beth Garrabrant)

Faz sentido que o próximo lançamento de Taylor seja o Reputation, já que as discussões sobre sua imagem enquanto figura pública tenham se tornado um assunto frequente em sua carreira.

Futuramente, ela discutiria, também, a forma como as artistas mulheres são objetificadas e humilhadas pela indústria. A raiz desses debates está no sucesso de canções como Shake it Off e Blank Space, que viram o jogo a favor de Taylor. Foi com o 1989 que esse placar começou a mudar drasticamente. 

O segredo talvez esteja no timing de todas as decisões criativas, que acompanharam e impulsionaram as discussões a respeito da imagem das mulheres na mídia. Porém, havia um status que começava a mudar em 2014.

A sociedade, como um todo, estava se tornando mais consciente a respeito das diversas maneiras como a misoginia subjugava às mulheres. Taylor foi uma voz importante nessas discussões, ao mesmo tempo que ela mesma precisava que o sexismo da indústria fosse denunciado. 

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Ao criar um álbum que a representava totalmente, Taylor acabou representando muitas mulheres que também estavam cansadas das pressões criadas em torno do que era ser uma mulher perfeita. Essas pressões certamente continuam presentes em nossa sociedade. Swift não destruiu a misoginia, infelizmente.

Esse cansaço de ser mulher e precisar equilibrar conceitos que antagonizam naturalmente entre si, ainda aparece em obras de sucesso estrondoso (vide o monólogo da personagem Gloria no filme Barbie, de Greta Gerwig). Mas talvez, com Taylor, tenhamos conseguido reagir de forma diferente a essas pressões. Aí reside um pouco desse afeto do público pela cantora, na voz que ela dá a esses anseios. 

Ensaio fotográfico de Taylor Swift para o 1989 (Taylor's Version)
Ensaio fotográfico para o 1989 (Taylor’s Version) (Imagem: Beth Garrabrant)

Ao olhar para o contexto do primeiro lançamento do 1989, entendemos que canções como Shake it Off denunciam diretamente um discurso sexista que era direcionado à artista, e a forma como ela respondeu a essas agressões fortaleceu também os seus ouvintes.

Ao promover um embate entre os estereótipos da mídia e a sua própria identidade, pessoal e íntima, o “eu” construído pela artista venceu a imagem distorcida promovida pelas manchetes. Dessa forma, Taylor Swift construiu castelos com as pedras lançadas contra ela e paralelamente nós fizemos o mesmo. 

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1989 (Taylor’s Version): o tempo entrelaçado

O 1989 foi para Taylor um álbum de reinvenção, tanto de gêneros e estilos musicais quanto de vida e imagem. Mas há algo de transcendental nessas narrativas, que reside nas escolhas estéticas do álbum.

Para contar a história da Taylor do futuro, somos remetidas à imagem da Taylor do passado. Não do passado de seus álbuns anteriores, mas da data de seu nascimento, de uma era anterior à fama. Portanto, para alcançar a sua visão de futuro, ela nos transporta em uma viagem nostálgica, em direção às imagens borradas de mistério e autodescoberta. 

Das polaroids que compõem a identidade visual do álbum às referências sonoras a músicas da década de 1980, o que Taylor faz é mostrar que amadurecer é uma espiral confusa do que somos, fomos e seremos. Ou seja, ela constrói uma aura de coming of age com a novidade de uma grande cidade, amores intensos, amigos, corações partidos e recomeços. 

Polaroid do álbum 1989
Polaroid do álbum 1989 (Imagem: reprodução)

Com o 1989 (Taylor’s Version), Taylor Swift constrói uma espécie de meta nostalgia, onde nos leva a reviver com carinho um álbum que já usava a memória para falar sobre se reinventar e crescer.

O reencontro com o passado traz novas versões do futuro, através da estética vintage quase fantasiosa do álbum, que nos permite sentir falta até daquilo que nunca vivemos. Em um imaginário permeado pelos borrões das luzes da cidade, das odes de amor dos novos românticos, Taylor escreve músicas para nos sentirmos infinitos.

A atmosfera de canções como Suburban Legends, um presente das vault tracks, é muito imagética e nos transporta para cenários quase cinematográficos tecidos por Taylor. O álbum, portanto, retrata a vida em sua jornada espiralada de euforia e melancolia, onde o tempo se entrelaça entre o que somos e não somos, entre o que seremos e o que gostaríamos de ter sido.

Nessa aura etérea, o 1989 (Taylor’s Version) simboliza um constante renascimento. Nos lembra que crescer e amadurecer é uma eterna nostalgia futurista

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Formada em Jornalismo. Gosta muito de cinema, literatura e fotografia. Embora ame escrever, é péssima com informações biográficas.
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