A linha do tempo cômica e caótica de Chucky, o Brinquedo Assassino

A linha do tempo cômica e caótica de Chucky, o Brinquedo Assassino

Hey, I’m Chucky! Wanna Play?

Uma frase, um boneco de plástico e um serial killer à beira da morte. Com esses três elementos, Don Mancini criou uma das franquias mais icônicas da cultura pop.

Mais de três décadas após o lançamento do primeiro filme, Chucky agora estrela uma série no serviço de streaming Star+. Em andamento desde 2021, ela já alcançou sua terceira temporada. Embora apresente um enredo novo, é fundamental conhecer a história e os personagens que envolvem esse universo desde o início.

Chucky e o nascimento de um pesadelo

A saga Child’s Play, ou Brinquedo Assassino em português, teve seu início em 1988. Uma perseguição entre a polícia e o assassino em série Charles Lee Ray (Brad Dourif) terminou com um tiro certeiro e no suposto falecimento do Estrangulador de Boston.

Caído entre uma dezena de bonecos Good Guys, famosos entre os garotos da época, Charles estava prestes a dar seu último suspiro quando teve uma ideia mirabolante: transferir sua alma para um dos bonecos através de um ritual Vodu.

Adepto dessa prática em seus crimes, Charles só tinha uma chance de escapar e continuar infringindo a lei sem pagar por todo mal que já cometeu. Dizendo as palavras ritualísticas, o assassino conseguiu se safar, personificando a forma de um brinquedo infantil.

Charles momentos antes de dar vida à Chucky, o Brinquedo Assassino
Charles momentos antes de dar vida à Chucky (Imagem: Reprodução)

O Brinquedo Assassino aterrorizando os Barclay

Após o “encerramento” do caso, uma mãe solteira está a procura de um boneco Good Guys para presentear o filho no aniversário. No entanto, por conta do preço elevado nas lojas, ela opta por negociar com um morador de rua atrás do local onde trabalha.

Com apenas uma unidade suspeita, porém original, Karen Barclay (Catherine Hicks) volta para casa carregando aquele que será o maior pesadelo que ela e seu filho Andy irão encarar pelo resto de suas vidas.

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Karen, Andy e Chucky em uma inocente foto de família
Karen, Andy e Chucky em uma inocente foto de família (Imagem: Reprodução)

Andy Barclay (Alex Vincent), com apenas 6 anos, se torna refém do boneco durante boa parte de sua infância e adolescência. Na primeira trilogia da franquia, o garoto precisa lidar com a fúria de Chucky e passar a maioria do tempo fugindo de seu plano maligno de vingança.

A ideia de colocar como vilão assustador da trama uma figura com menos de um metro de altura, que facilmente seria derrotada com um chute, é genial. A inocência de Andy e a manipulação de Charles Lee Ray em relação às mortes que cercam o garoto são convincentes, graças a toda a ironia que cerca a situação. Se nem as autoridades acreditam na palavra dos que sabem a verdade, quem acreditaria?

É com esse plano de fundo, somado à personalidade indecente do personagem, que o universo se expande.

Família de Plástico: Tiffany Valentine e Glen/Glenda

Dez anos após os eventos com Karen e Andy Barclay, Chucky retorna por meio de uma personagem que adiciona carisma e ainda mais sadismo à história.

Tiffany Valentine, interpretada pela talentosa Jennifer Tilly, é uma ex-namorada de Charles Lee Ray, que se mostra tão insana quanto ele.

Vivendo em um trailer repleto de bonecas e afeiçoada pelo estilo gótico, Tiffany deseja ressuscitar o serial killer com os restos mortais que sobraram do seu último confronto com Andy.

Jennifer Tilly como Tiffany em A Noiva de Chucky, quarto filme da franquia
Jennifer Tilly como Tiffany em A Noiva de Chucky, quarto filme da franquia (Imagem: Reprodução)

Inteligente e manipuladora, ela sempre consegue o que quer. Porém, logo descobre que seus sentimentos por Charles não eram totalmente mútuos, resultando em uma tragédia e na sua transformação forçada em boneca.

Agora, com ambos iguais em forma e tamanho, eles passam a viver um amor conturbado e muitas vezes violento, aterrorizando a vida de outros moradores inocentes na cidade de Hackensack, em Nova Jersey.

Nesse meio tempo, o fruto do romance entre o casal é o elemento que constrói o gancho para a sequência. Em O Filho de Chucky conhecemos a inocência de Glen/Glenda (dublado pelo ator Billy Boyd), que carrega o fardo dos pais criminosos e não deseja aumentar o histórico da família cometendo mais assassinatos.

A narrativa que cerca a personagem é tratada de uma forma mais aberta, já que Glen/Glenda é, canonicamente, considerado uma “pessoa” não-binária. Na época do lançamento (2004), essa questão foi pouco evidenciada, mas fica bastante clara e sutil na história.

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Don Mancini, criador dos personagens, é um dos poucos cineastas que compõe abertamente a comunidade LGBTQIAPN+. Desse modo, o combate à homofobia também é representado em algumas produções do brinquedo assassino.

A família de bonecos: Chucky, Glen/Glenda e Tiffany
A família de bonecos: Chucky, Glen/Glenda e Tiffany (Imagem: Reprodução)

Apesar da trama conter furos, os dois filmes que apresentam Tiffany e Glen/Glenda se sustentam muito mais na comédia e no terror estilo slasher/trash. Com elementos que satirizam figuras famosas do entretenimento, eles deixam uma marca duradoura na geração que cresceu entre os anos 90 e 2000.

O drama de Nica Pierce

Manter a mesma qualidade ao revisitar uma franquia criada há mais de 30 anos, não é um trabalho simples. Principalmente se o determinado universo já carrega uma legião de fãs, e pode acabar saturando caso não faça jus à história original. Felizmente, em A Maldição de Chucky e O Culto de Chucky, Don Mancini soube equilibrar a trama, adicionando personagens que estão ligados aos filmes anteriores.

Lançada nos anos de 2013 e 2017, a duologia apresenta uma nova era para Chucky. Com uma roupagem diferente, além de um clima bem mais assustador, Charles Lee Ray deseja se vingar de um acontecimento que data o ano de 1988, antes de ser baleado e forçado a transferir sua alma para um brinquedo.

Nova aparência do Brinquedo Assassino em 2013 e 2017
Nova aparência do Brinquedo Assassino em 2013 e 2017 (Imagem: Reprodução)

Seu novo alvo chama-se Nica Pierce (Fiona Dourif), uma mulher que possui deficiência física e precisa de uma cadeira de rodas para se locomover. Após receber uma encomenda não solicitada de um Good Guys legítimo, diversos assassinatos começam a acontecer, sendo ela a única que desconfia do inocente boneco ruivo.

O enredo não apresenta muitas novidades se olharmos apenas para o básico. Obviamente, as pessoas não acreditam nos absurdos que Nica alega com relação ao possível assassino que ronda as mortes em sua casa. No entanto, à medida que a trama revisita o passado de Charles Lee Ray mais detalhadamente, descobrimos que ele não chegou até a família Pierce por engano.

Um fato curioso sobre Fiona Dourif, é que ela é filha de Brad Dourif, dublador de Chucky em quase todos os filmes.
Um fato curioso sobre Fiona Dourif, é que ela é filha de Brad Dourif, dublador de Chucky em quase todos os filmes (Imagem: Reprodução)

Nica é uma das personagens que mais sofreu em toda a franquia. Semelhante a Andy Barclay, ela assumiu a culpa por um crime que não cometeu. Como resultado, isso a obriga a abdicar de uma vida normal e cumprir sua pena em um hospital psiquiátrico.

O final de O Culto de Chucky é frenético, e prova o quanto Nica merece paz e felicidade até o encerramento definitivo da franquia. Além disso, deixa diversas opções para o futuro dos outros personagens que sobreviveram à crueldade de Chucky.

Reboot tecnológico de Chucky

Em um intervalo de três anos desde a estreia de O Culto de Chucky, um reboot com a história de Karen e Andy Barclay foi lançado, porém inserido nos padrões atuais. Brinquedo Assassino (2019) têm como objetivo vilanizar o boneco através de seu sistema operacional e da Inteligência Artificial.

Nessa realidade atualizada, Karen Barclay (Aubrey Plaza) é balconista de uma loja que vende a linha de bonecos Buddi, fabricados pela multinacional Kaslan Coportation. Além de possuírem alta tecnologia e interagirem com o dono, eles podem se conectar a diversos dispositivos domésticos da mesma marca.

Com seu filho Andy (Gabriel Bateman) se sentindo solitário e passando tempo demais no celular, ela decide presentea-lo com um Buddi. Todavia, por conta do preço elevado, ela acaba negociando um boneco defeituoso, que foi devolvido no mesmo dia por uma mulher se queixando do comportamento suspeito do brinquedo.

Já é de se esperar o que acontece nos minutos seguintes. Assim que Buddi entra em contato com Andy, ele se autodenomina por Chucky, e é apenas uma questão de tempo até que as pessoas ao redor do garoto comecem a se machucar.

Chucky e Andy na versão de 2019
Chucky e Andy na versão de 2019 (Imagem: Reprodução)

Diferente de todos os filmes anteriores, este é o único que apresenta um enredo que não depende da história original. Sem o serial killer Charles Lee Ray e toda a mitologia que envolve a transferência de almas, os únicos elementos que possuem semelhança ao longa-metragem de 1988 são os nomes dos protagonistas.

Por mais que o conceito seja diferente das produções de Mancini, ele ainda assim continua interessante. Além de inserir elementos tecnológicos que estamos acostumados a utilizar no dia a dia, o filme também apresenta Mark Hamill como dublador de Chucky. Esse fato é uma das maiores novidades, já que em todas as outras ocasiões ouvimos a eternizada voz de Brad Dourif no papel.

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I’m Your Friend till the End!

Retornando para o enredo inicial, temos, finalmente, a produção serializada do Star+. Nela, acompanhamos Jake Wheeler (Zackary Arthur) um garoto de 14 anos aspirante a artista.

Depois de comprar um boneco Good Guys vintage em uma venda de garagem para usá-lo em um projeto, o caos é instaurado na já conhecida cidade de Hackensack. Assassinatos passam a acontecer em todos os locais onde o boneco está, deixando Jake na posição de possível suspeito das mortes.

De todos os projetos que envolvam Mancini, este é o mais intrigante e autobiográfico. Em uma entrevista para a VEJA, ele conta que sofria bullying na escola por causa de sua sexualidade que, assim como Jake, já era assumidamente gay desde o colégio. Logo no primeiro episódio, há uma cena onde o garoto é vítima de agressão pelo pai homofóbico, e o criador diz que já passou por uma situação parecida em sua vida.

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Na série, além de Jake, há uma representatividade notável de personagens LGBTQIAPN+. Da mesma forma como a pauta era tratada nas produções anteriores, aqui ela é inserida de forma mais natural. Isso mostra relevância para a história, uma vez que o grupo de protagonistas é composto por adolescentes que estão crescendo na geração Z, destacando a importância da representatividade na narrativa contemporânea.

Protagonistas de Chucky no pôster da 1ª temporada, lançada em 2021
Protagonistas de Chucky no pôster da 1ª temporada, lançada em 2021 (Imagem: Reprodução)

Com 94% de aprovação no Rotten Tomatoes, Chucky é um grande exemplo de que, com uma boa ideia nas mãos certas, é possível explorá-la durante muito tempo. Assim como há harmonia de fatos, é importante reforçar mais uma vez que existem erros e lacunas na franquia.

Contudo, é reconfortante saber que seu criador valoriza o desenvolvimento dos personagens da franquia, pensando tanto nos novos fãs quanto nos aficionados de longa data.

A frase marcante “Sou seu amigo até o fim“, dita várias vezes pelo boneco, nunca teve tanto significado como agora.

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Graduanda em Jornalismo com síndrome de Lady Bird. Criadora de conteúdo literário no @sohmagio, têm como filosofia de vida as obras da Ai Yazawa. Nas horas vagas, é fã e apreciadora da profundidade nas músicas do My Chemical Romance e da Taylor Swift.
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